Sou mulher e voto em quem eu quiser: o discurso (anti)feminista nas redes e seus efeitos de sentido

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Detalhes
  • Tipo de apresentação: Simpósio Temático
  • Eixo temático: ST75 - SOBRE OS SUJEITOS E OS SENTIDOS EM: NA REDE
  • Palavras chaves: Redes Sociais; feminismo; Contradição; INTERPELAÇÃO; Efeitos de sentido;
  • 1 Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Sou mulher e voto em quem eu quiser: o discurso (anti)feminista nas redes e seus efeitos de sentido

Lisiane Schuster Gobatto

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Resumo
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Autor

Lisiane Schuster Gobatto

Obrigada, Evandra! Tua pesquisa está sensacional e é uma honra dialogar com ela, ao menos um pouquinho! O avatar/tema de perfil do Facebook é uma fotografia circundada por um slogan de apoio a um determinada causa. Chamar o tema de perfil de avatar tem a ver com a noção de que um avatar é uma imagem de si que projetamos no ambiente virtual.

Nas redes sociais, especificamente no Facebook, que é objeto do meu trabalho, somos incentivados a compartilhar nossa vida, nossos pensamentos, nossa rotina, e incentivados a interagir com as pessoas que também compartilham sua vida na rede por conta da lógica do big data. Tudo o que informamos às redes é rentável. Morozov diz que "a premissa-chave do extrativismo de dados é de que os usuários são estoques de informações valiosas. As empresas de tecnologia, por sua vez, concebem formas inteligentes de nos fazer abdicar desses dados, ou, pelo menos, de compartilhá-los voluntariamente" (MOROZOV, 2018, p. 165). A utilização de temas de perfil/avatar também é parte desse modelo extrativista de dados.

Os temas de perfis de caráter político foram muito utilizados nas eleições presidenciais de 2018. Levando em conta que as redes sociais transformaram o modo como participamos da política, acho importante a reflexão da filósofa Márcia Tiburi. Segundo ela, o que acontece hoje é um simulacro de participação: “o ato digital é a nova forma de ato que substitui qualquer realização. [...] afirmo que comparecerei, que doarei, que participarei, mas a promessa contida na ação é o seu próprio fim” (TIBURI, 2017, p. 109). Márcia traz como exemplo a confirmação de presença em eventos criados no Facebook.

Mas existe essa separação entre o real e o virtual? Utilizar um avatar no Facebook para se engajar numa causa já não seria uma tomada de posição, independentemente do espaço? Não entrei nesse ponto na apresentação porque eu ainda me questiono sobre o engajamento nas redes: o ato de curtir ou compartilhar um post significa, necessariamente, uma identificação? Enfim, espero que o debate, síncrono e aqui no fórum, contribua para pensar nessas questões! 

Evandra Grigoletto

Muito interessante mesmo essa reflexão, Lisiane! 

 

Como comentamos no curso, na terça-feira, eu e Fernanda temos tentado pensar justamente nessas relações de identificação nas redes. O que me parece que existe é que há diferentes "níveis" (se é que podemos chamar assim) de identificação. A discussão do Han, no livro "No enxame: perspectivas do digital", do qual também falamos no minicurso, acho que podes te ajudar a pensar nessa questão do simulacro tratada por Márcia Tiburi. Não conheço esse texto dela, vou buscar.

De todo modo, acho que temos muito o que pensar ainda, na AD, nessa perspectiva do funcionamento das redes.

 

 

Fernanda Correa Silveira Galli

Olá, Lisiane! Parabéns pelo teu trabalho e obrigada por compartilhá-lo conosco nesse simpósio, contribuindo para as nossas reflexões. Ao te ouvir, fui anotando algumas questões que tua abordagem me suscitou e que também vão na direção do que Evandra coloca e do que você, na sequência, retorna: (i) quem é o avatar? é possível compreender uma tomada de posição pela sua inscrição (sujeito)? do ponto de vista do discurso, pela sua materialidade, como podemos compreender esses movimentos de inscrição no/pelo digital? como o digital comparece? Continuamos o debate amanhã. Um abraço cordial!

Autor

Lisiane Schuster Gobatto

Obrigada, Fernanda! Eu que agradeço o aceite para participar deste simpósio! Penso o avatar como uma projeção da imagem de si na rede social. A Raquel Recuero formula que o botão “curtir” toma parte na conversação sem precisar elaborar uma resposta. Uma participação com "investimento mínimo", "uma forma menos comprometida de expor a face na situação" (RECUERO, 2014, p. 119). Seguindo a análise de Recuero, o tema de perfil/avatar seria mais próximo dos efeitos de sentido do botão compartilhar: "sua principal função parece ser a de dar visibilidade para a conversação ou da mensagem, ampliando o alcance dela" (RECUERO, 2014, p. 120). Ao dar visibilidade para o enunciado "Sou mulher e voto em quem eu quiser", há um engajamento, uma identificação com esse discurso, mas me questiono muito sobre como se dá essa tomada de posição nas redes. É como vocês comentaram no curso e a Evandra escreveu acima, parece haver diferentes níveis de identificação. Muito obrigada pela discussão e pelas contribuições! Está sendo fundamental para pensar nas questões da minha tese! Abraço!

 

 

Autor

Lisiane Schuster Gobatto

É isso, Evandra: parece que há diferentes níveis de identificação, mas tem muito o que pensar mesmo. O texto da Márcia Tiburi está no livro "Ética e pós-verdade". Estou utilizando o Han como referência na tese, vou reler novamente. Lembro que o autor fala de "mídia de afetos", que os sujeitos não formam mais uma "massa", mas um "enxame" porque estão ali fazendo barulho, competindo por atenção: são anônimos, mas não são "ninguém", são "alguém". E o ego pode ajudar a explicar a tomada de posição pela adesão a um tema de perfil: "olhem para mim e para o que eu penso". Obrigada pelas provocações e contribuições!

Ronaldo Adriano De Freitas

Olá, Lisiane, obrigado pela apresentação! Ótima análise!

Num certo lugar, ao falar da ilusão da autonomia de escolha do "voto em quem quiser", você aponta uma certa relação entre essa "autonomia" e o lugar dos namorados e maridos nesse processo de identificação; mais adiante, você cita Zizek pra falar do cristianismo como ideologia dominante. Considerando que essa ideologia tradicionalmente exalta a submissão feminina como virtude e alicerça o patriarcalismo ocidental; pergunto se há, no material que você analisa, marcas dessa filiação ao discurso religioso.

Autor

Lisiane Schuster Gobatto

Obrigada, Ronaldo! Tua apresentação provocou muitas reflexões sobre como os algoritmos produzem o efeito de evidência de que as máquinas têm uma linguagem própria, livre de ideologias. No teu trabalho, você desfaz esse efeito de evidência ao mostrar o funcionamento do efeito mosaico. Gostei demais da apresentação, parabéns! Foi uma baita sacada essa percepção de como o Google tem instaurado um processo de dicionarização automatizada. Aproveitei tua interação aqui para registrar isso!

Sobre teu questionamento, certamente a tomada de posição das mulheres eleitoras de Bolsonaro têm marcas da filiação a um discurso religioso, embora eu não tenha trazido na apresentação materialidades que tornam possível visualizar essas marcas discursivamente (da forma como faz a prof. Evandra ao trazer posts selecionados de fanpages de mulheres que apoiam Bolsonaro).

Ao citar Zizek, pretendi apontar que, da mesma forma que o cristianismo se torna uma ideologia dominante incorporando temas dos oprimidos em seu discurso, o antifeminismo também passa a incorporar um discurso de empoderamento próprio de uma ideologia feminista, progressista. Afetadas pelo inconsciente (assujeitadas ao campo do "Outro" - qual seja, a sociedade patriarcal, os pais, maridos e/ou namorados) e interpeladas pela ideologia, as mulheres que utilizaram o tema de perfil/avatar "Sou mulher e voto em quem eu quiser" não reconhecem o processo de assujeitamento ao qual estão submetidas.

Abraço e até daqui a pouco no debate!

      

 

 

Autor

Lisiane Schuster Gobatto

Muito obrigada, Lorena! Seguimos na disputa por um horizonte político mais democrático tentando não dissociar a prática política da prática científica. Acho que é um caminho possível nestes tempos difíceis. Abração!