Anais da III Jornada Internacional Semântica e Enunciação

Este trabalho é um recorte de investigação na qual interrogo possíveis afetações que o estágio curricular provoca na constituição das identidades docentes de regentes de classe que acolhem licenciandas em suas turmas, por ocasião do estágio curricular obrigatório. Configura-se em desdobramento de investigação realizada em 2015, na qual o estágio despontou como acontecimento desde a perspectiva de Michel Pêcheux (2008) quando o autor anuncia que o discurso é estrutura, mas também acontecimento discursivo, carregado de sentidos já estabilizados e de atualizações. Com o objetivo geral de compreender de que modo os professores regentes, que acolhem estagiários em suas turmas, percebem essa experiência e são afetados por ela na constituição de suas identidades docentes, o corpus analítico, composto por recortes discursivos de depoimentos de educadoras da rede municipal de ensino de Porto Alegre/RS, recolhidos utilizando a técnica de grupo focal, foi submetido a gestos interpretativos à luz da Análise de Discurso Francesa, confiando a Michel Pêcheux o espaço de referencial teórico principal na fundamentação da pesquisa. Convocando a AD como teoria e método para pensar língua(s), linguagens, sentidos e sujeitos, mirando os recortes como objetos discursivos que me convidam a pensá-los como processos discursivos produtores de sentido, emergiu uma perspectiva de interpretação que considera um fazer-se híbrido de sujeitos e sentidos. Ao passar pelas materialidades linguísticas, surpreendi identificações com redes de memórias que evocam efeitos de sentidos múltiplos filiados a uma formação discursiva pedagógica heterogênea (FDPH), delineada por posições de sujeito em confronto, deslizando da posição-sujeito professor conservador para a posição-sujeito professor emergente. Como resultado apresento a fluidez do discurso pedagógico através de efeitos de sentidos que remetem ao entendimento do estágio curricular como práxis educativa, sustentada pela troca de conhecimento, formação colaborativa e solidária que valoriza e acolhe o “saber fazer” emanado do saber experiencial das educadoras, alimentado por uma posição de humildade das professoras titulares frente à inovação trazida pelas estagiárias. As descobertas de pesquisa manifestam olhares que se afinam a novos modos de ser e se fazer educador, levando as professoras regentes a pedir espaço de escuta ao “saber”, “saber ser” e “saber fazer” do docente que está na escola como precursor de caminhos talvez ainda não suficientemente legitimados pela academia.