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“O AVANÇO DAS COTAS”: O QUE MUDA E O QUE FICA NO DISCURSO DE VEJA
Luiz Carlos Oliveira
Instituto Federal de Santa Catarina / Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina
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DO JORNALÍSTICO AO DIGITAL: DIZENDO (D)O FEMININO NA MÍDIAAlexandre S. Ferrari Soares
Luiz, vc acha que os deslizamentos entre o que a revista dizia e o que ela coloca ultimamente em circulação se devem a quais fatores? Vc acha que os movimentos raciais no Brasil e no mundo têm responsabilidade pelo que desliza?
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Luiz Carlos Oliveira
Oi, Alexandre. Levando em conta as duas matérias que estamparam a capa de Veja, abordando a questão racial, em 2017, eu penso que a ação do movimento negro pautando as questões raciais e as redes sociais como meio de se denunciar e publicizar ações racistas, levaram ao debate sobre o tema de forma mais constante e com certa relevância nacional. Em 2013 há dois fatos que acredito exemplificar isso: 1. o caso Amarildo, no Brasil; 2. o surgimento do Black Lives Matter, nos Estados Unidos (posteriormente, irá chegar também ao Brasil).
Não se pode descartar, também, a polarização que na última década a sociedade brasileira vem passando. Essa polarização explicitou, um outro lado que envolve as questões raciais, ou seja, a defesa de forma menos receosa de ideias racistas por grupos de extrema direita. Essa posição racista/conservadora e muitas vezes violenta, que resgata ideias raciais do início do século XX, não está alinhada aos pressupostos da civilidade, dos bons costumes, dos direitos humanos que balizam o dizer da imprensa, como apontado pela Bethania Mariani. Apesar da imprensa, algumas vezes, trazer esses posicionamentos pela ótica da “polêmica”, a abordagem do tema esteve presente .
Além disso tem-se que considerar: 1. a consolidação da política de cotas raciais de forma sólida (com previsão legal para as instituições federais (discurso jurídico); 2. as pesquisas demonstrando os resultados positivos desta política (discurso científico); 3. a baixa resistência social às cotas, com adoção desta política por grandes empresas que se utilizam de Veja para capitalizar (agregar valor) de forma positiva sobre o tema.
Bem, são possibilidades… Essa será a última vez que abordo o tema, mas tenho certeza que há muito a se dizer ainda a respeito deste deslizamento discursivo, levando em conta a última década.
Giovanna Benedetto Flores
olá Luiz.
Você aborda as questões das cotas nas universidades para os negros, silenciando a questão dos povos originários do Brasil que também não tem acesso às universidades públicas. Quando a revista Veja traz na capa da edição a obra Operários de Tarsila do Amaral, qual a tua interpretação com a questão das cotas, pensando na imbricação material com a chamada de capa "O avanço das cotas"
Luiz Carlos Oliveira
Oi, Giovanna. A escolha/silenciamento em relação à população que abordei/silenciei se dá desde o início da pesquisa, no qual o foco estava na população negra. Por ser negro senti-me motivado a realizar a abordagem sob este viés. A minha constituição histórica/ideológica, talvez, explique um pouco isso… Realizando uma autocrítica, de certo modo, reproduzi a relevância que a imprensa dá no processo de abordagem das cotas raciais, ou seja, silencia os indígenas e foca muito na questão racial (negros/brancos).
Quanto à capa, um primeiro olhar, através da “intervenção” que o periódico faz sobre a tela, talvez revele que o “avanço” na verdade atinge apenas uma quantia muito baixa da população de “operários” brasileiros. Mas também, permite pensar na dificuldade de se distinguir quem é negro/pardo em relação a quem é branco. Veja trata a capa, na carta ao leitor, como “retrato do Brasil” que demonstra a nossa “diversidade étnica” e que a “intervenção” realizada pelo semanário sob a tela de Tarsila do Amaral demonstra que a universidade “pelo menos” abriu as suas portas. Pode-se questionar a quem a universidade “pelo menos” abriu-se. O interessante é que esta mesma capa poderia ser dita sob os mesmos significantes, porém, produzindo outros sentidos, entre 2009 a 2011. Uma vez que o “retrato do Brasil” marcado pela “diversidade étnica” poderia ser a indicação de que não há divisão racial e da desnecessidade da política de cotas, uma vez que esta poderia provocar artificialmente a divisão racial do país. Já em 2017, a capa é significada sob um viés não crítico à política de cotas.