ANÁLISE DO DISCURSO DE MORTE E VIDA SEVERINA: A ARGUMENTAÇÃO COM COISAS DE JOÃO CABRAL DE MELO NETO, O POETA DA RAZÃO?

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Detalhes
  • Tipo de apresentação: Simpósio Temático
  • Eixo temático: ST2 - A ARGUMENTAÇÃO NO DISCURSO POÉTICO: DIFERENTES MATERIALIDADES SIMBÓLICAS
  • Palavras chaves: ANÁLISE DO DISCURSO; Argumentação; João Cabral de Melo Neto;

Autoras(es):

  • 1 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco

ANÁLISE DO DISCURSO DE MORTE E VIDA SEVERINA: A ARGUMENTAÇÃO COM COISAS DE JOÃO CABRAL DE MELO NETO, O POETA DA RAZÃO?

Márcio J. Silva

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco

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Autor

Márcio J. Silva

Boa-noite, Eliana!

Muito obrigado por seu comentário brilhante. É um comentário que me fez pensar que existo, pois tive de ficar pensando sobre ele um pouco para poder respondê-lo.

Essa visão Pêcheux, que um discurso pode significar diferentemente, que pode deslizar para outro sentido é algo que adoto na minha prática, mas que fiz a opção de deixar de lado em relação apenas às formações imaginárias (FIMs) tão propaladas de João Cabral. Considero isso um afastamento da Análise do Discurso (AD) para poder repensar as FIMs de João Cabral de Melo Neto, porque eu poderia ter anteposto à afirmação 'João Cabral é o poeta da razão' a seguinte pergunta: a razão é um universal? De outro modo: a razão é um universal para que João Cabral possa ser um poeta racional? No entanto, não segui esse caminho para poder comparar o que afirma a crítica literária sobre o poeta com o que aparece em Morte e Vida Severina. Ou seja, tomei razão como um universal platônico. Isso significa afirmar que aceitei as regras do jogo para poder jogá-lo. Do contrário, o trabalho seria sobre os sentidos de razão na filosofia.

Tentando responder mais diretamente à sua pergunta, mas focando a resposta a partir da leitura de Morte e Vida Severina, e não sobre toda a obra de João Cabral, o que se nota na ideologia do drama é precisamente a defesa de um discurso contrário à razão. Por exemplo, comparando o texto com uma visão cartesiana, quando Severino (o retirante) começa a pensar muito sobre a vida, ele chega à conclusão de que deveria cometer suicídio ("O homem que pensa é um animal depravado [decaído]", Rousseau, em sua obra irracionalista Discurso Sobre a Origem [...]). Parafraseando, o questionamento filosófico que Severino se faz é este: vale a pena viver a vida? Seu José, mestre carpina (uma referência ao pai de Jesus de Nazaré) tenta dissuadi-lo desse gesto de desespero o tempo todo e até o adverte que esse tipo de conversa não pode continuar: "Severino, reitirante,/ O mar de nossa conversa/ precisa ser combatido,/ sempre, de qualquer maneira,/ porque senão ele alaga/ e devasta a terra inteira." Ou seja, não se pode fazer esse tipo de reflexão, o que tomo como uma metáfora para as reflexões em geral, devido a outras passagens do drama. Nessa mesma, os argumentos de Seu José, embora muito bem elaborados, não têm efeito sobre Severino, retirante (posição anti-habermasiana). O que terá a capacidade de dissuadir o retirante é o nascimento de um menino, o filho de Seu José, numa relação interdiscursiva com a Bíblia, com o evangelho, em que o nascimento de um menino, de uma formação discursiva cristã, representa a esperança para a humanidade. Esse acontecimento, algo concreto no drama, não se trata de palavras, e que exige fé na religião, é que irá convencer Severino e o leitor de que se deve continuar vivendo, ou seja, a vida, mesmo a mais miserável, teima em continuar: "ver a fábrica que ela mesma,/ teimosamente, se fabrica," uma relação de paráfrase (interdiscurso) com o discurso de Schopenhauer (irracionalista), o qual afirma que a vontade de viver é persistente e teimosa.

Fico muito agradecido pela sugestão de explorar mais o interdiscurso evangélico em Morte e Vida Severina. Tenho um projeto de transformar meu trabalho em livro, espaço em que eu teria mais liberdade para ampliar essa discussão.