OS ASPECTOS TERRITORIAIS NA PRODUÇÃO DE ALIMENTOS DA COMUNIDADE INDÍGENA MORCEGO, TERRA INDÍGENA SERRA DA MOÇA - RORAIMA

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Oral
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Resumo

Este trabalho apresenta resultados uma pesquisa de campo realizada para a construção de um Diagnóstico Situacional de Saúde da Comunidade Indígena Morcego, localizada na Terra Indígena Serra da Moça, Região Murupú no município de Boa Vista, Roraima, como proposta de atividade do Estágio do Tempo Comunitário do Curso de Bacharelado em Gestão em Saúde Coletiva Indígena, da Universidade Federal de Roraima (UFRR). O presente estudo teve como objetivo caracterizar os aspectos do território da comunidade, com um foco na situação de Segurança Alimentar e Nutricional da comunidade. Trata-se de um estudo quanti-qualitativo, exploratório e descritivo, realizado no período de 15 a 29 de outubro do ano de 2018, com 20 famílias da comunidade Morcego. Foram realizadas entrevistas utilizando como instrumento para a coleta de dados a aplicação de um questionário semiestruturado para as famílias, com visitas in loco, observando a vivência, realizando diálogos e baseado na fundamentação teórica; Atividades com o Grupo Focal com 13 crianças do 2º e 3º anos da Escola Municipal Indígena Martins Pereira da Silva, sobre segurança alimentar e nutricional, que utilizaram materiais como cartolina e giz de cera para realizar as atividades lúdicas, para a primeira atividade foi feita uma tabela de alimentos que as crianças gostam muito, porém, não comem tanto; a segunda atividade foi a construção do mapa da comunidade onde se produz alimento, a partir do conhecimento das crianças; na terceira atividade foi solicitada que se desenhasse alimentos que as crianças comem na escola;. A comunidade Indígena Morcego foi criada em 1970, apresenta uma população de 172 pessoas, com cerca de 38 famílias da etnia Macuxi e Wapichana, está localizada a uma distância de 52 km em relação ao centro urbano da Capital de Roraima no município de Boa Vista, localizada na Região do Murupú, terra indígena Serra da Moça que se localiza ao norte de Roraima. Para analisar a situação de segurança alimentar e nutricional da comunidade, temos que possuir uma visão ampliada para as diversas formas de alimentação e condições de saúde, não se restringindo apenas aos tipos de alimentos utilizados, mas também a forma de obtê-los, sabendo que o território influencia na alimentação e a alimentação está diretamente ligada com a saúde. Com base nos resultados apresentados, uma das características que interferem nos aspectos culturais, tais como nos hábitos alimentares da comunidade Morcego, pode destacar que a pequena extensão territorial e a demarcação em ilhas limitam as atividades a ser desenvolvida na comunidade como a caça, a escassez de recursos hídricos que impossibilita a pesca, o igarapé existente não atende a demanda da comunidade, pois o clima seco e quente limita as atividades no igarapé, até mesmo para as plantações. Devido ao fácil acesso da comunidade a capital Boa Vista, aumenta o consumo de alimento industrializado na comunidade Morcego, pois essa é a alternativa mais prático e acessível para as famílias da comunidade. Apesar dessas problemáticas, a comunidade Morcego possui plantações coletivas que podem ser destacadas como alimentos que são produzidos na comunidade, na qual, destacamos a recente criação da roça da Comunidade Morcego, que podemos encontrar plantação de milho, melancia, feijão, macaxeira, melão e abóbora, que após sua produção poderá ser entregue para a escola, moradores e até mesmo poderá ser levado para fora da comunidade, sua irrigação vem do igarapé que fica próximo, onde a comunidade utiliza a bomba para puxar a água para a plantação. A outra plantação coletiva é a roça dos jovens que foram incentivadas pelos Coordenadores de Jovens da Região que contou com o apoio de alguns estudantes do Centro de Formação e Cultura Raposa Serra do Sol e dos jovens da comunidade, no local foram plantados alguns alimentos, porém morreram, atualmente podemos encontrar algumas mudas de pimenteiras, cheiro verde e bananeiras, essa roça teve alguns problemas, como a falta de bomba para fazer a irrigação, os equipamentos estavam desgastados, em contra partida, demostra muitas ideias boas e que os jovens também estão colaborando com sua comunidade. Também existem projetos em parceria com a prefeitura para plantação de milho e mandioca, que também é um projeto de produção sustentável, onde a Comunidade Indígena Morcego sede a área para o plantio, em conjunto com o município de Boa Vista gerando incentivos para agricultura familiar, que teve o primeiro momento de preparação do solo, depois do plantio e pôr fim a colheita que foi feita pelos próprios moradores da Comunidade indígena Morcego. Apesar dessas informações o número de famílias que tem participação na produção de seu alimento, é bastante significativo, no total de 20 famílias entrevistadas, 90% cria galinha e 10% não tem criação de animais, outro dado importante é que 75% das famílias entrevistadas plantam ou cultivam algum tipo de alimento, sendo assim, 25% da população entrevistada não plantam nem cultiva. Os alimentos que são mais produzidos na comunidade de acordo com o levantamento são o milho e a mandioca, que de 15 casas que tem plantações o milho se encontra em 14 casas, sendo assim, o milho é o alimento mais produzido pela comunidade, que da origem ao aluá que é um caxiri feito com milho, que compõem os hábitos alimentares da Comunidade, logo após, é a mandioca, que é produzida em 12 plantações da comunidade, que são indispensáveis na alimentação dos povos indígenas, pois dela da origem a farinha, ao beiju, ao caxiri, que faz parte da cultura alimentar dos povos indígenas que se encontram na Comunidade Morcego. Outra questão que vale ressaltar é o uso de agrotóxicos nas plantações, apenas levando em consideração as 15 famílias que tem plantações, dessas famílias 100% não utilizam nem um tipo de agrotóxicos nas plantações da comunidade, uma pequena parte utiliza um adubo químico (NPK) para o auxílio na produção, é importante destacar alguns casos de pessoas que trabalham em fazendas e tem o contato direto com o uso de agrotóxicos, quando perguntado se usam EPI-Equipamento de Proteção Individual, os mesmos afirmam que sim, pois sabem que é perigoso e descrevem o uso de mascaras, luvas, botas, chapéu e óculos. Com o Grupo focal o que podemos identificar é que as crianças sentem falta de frutas na sua alimentação, pois afirmam que não encontram em sua casa, gostam da refeição da escola e indicam as frutas que são oferecidas na mesma, levando em consideração as respostas das famílias e das crianças, podemos compreender que as plantações das famílias há poucas frutas cultivadas, compreendendo que mesmo com o fácil acesso aos produtos industrializados (bolachas, salgadinhos, doces), ainda sim sentem a necessidade de frutas na sua alimentação, o que é algo bom para a situação alimentar da comunidade e das famílias, pois com incentivos a participação da comunidade nas roças coletivas que também foram identificadas pelas crianças como lugar onde produzem alimentos, é uma forma de despertar o interesse em produzir seu próprio alimento. Por fim, podemos observar que apesar dos impactos que o território e o ambiente acometem a Comunidade Indígena Morcego, com relação à segurança alimentar nutricional buscam solucionar e incentivar coletivamente a produção de alimentos sustentáveis, envolvendo as famílias da comunidade, estabelecendo parcerias que venham colaborar com a realidade daquela população, melhorando assim a alimentação e as atividades econômicas. REFERÊNCIAS MELO, E. A. Demarcação em ilhas: O caso da Terra Indígena Serra da Moça. Monografia apresentada como parte de requisito para o título de graduação em História pela Universidade Federal de Roraima, Boa Vista – Roraima, 2016. 69p. MINAYO, M. C. S. Avaliação por triangulação de métodos: abordagem de programas sociais. Editora Fiocruz. Rio de Janeiro, 2005. 244p. SICSÚ, A. P. O. Riscos ambientais e saúde na comunidade indígena Manoá, Roraima. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde – PROCISA, da Universidade Federal de Roraima – UFRR, para o título de Mestre em Ciencias da Saúde na linha de pesquisa: Saúde, Educação e Meio Ambiente. Boa Vista – RR. 2015. 104 p.

Instituições
  • 1 Instituto Insikiran de Formação Superior Indígena
Eixo Temático
  • Tema 2 - Produção Sustentável e Processamento de Alimentos
Palavras-chave
Território
povos indígenas
produção de alimentos