Anais da III Jornada Internacional Semântica e Enunciação

Se existe uma “argumentação slam”, a fórmula discursiva certamente ocupa posição central nessa manifestação linguístico-discursiva. Materializada em um termo, nominalização, palavra composta, slogan, expressão ou outra formulação concisa e relativamente cristalizada, a fórmula se impõe no debate público pondo em cena argumentos e discursos – muitas vezes contraditórios entre si – em torno de um mesmo tema. Ao evocar uma fórmula, os atores sociais privilegiam um sentido, em detrimento de outros, como se a compreensão daquela expressão fosse transparente, imediata, assimilada em um só golpe, por assim dizer, o que aproxima a fórmula do escopo anunciado neste simpósio. O sentido alhures privilegiado, todavia, é quase sempre problemático, na medida em que é rapidamente recusado por integrantes de posições contrárias àquela instância enunciadora. Os detratores de uma dada fórmula, então, se valem de manobras argumentativas como a recusa em enunciar aquela palavra específica e, mais frequentemente, a reformulação da expressão em outro termo/palavra que  a ressignifique, fixando-a (ainda que de forma momentânea) em outro espectro ideológico, geralmente na tentativa de desqualificar a fórmula e a posição que ela representa. Esse funcionamento discursivo deflagrado pela própria natureza polêmica da fórmula poderia ser uma das características dos regimes de argumentação slam propostos neste simpósio como objeto de reflexão. Valendo-se do estudo de fórmulas como “marxismo cultural” e “doutrinação ideológica”, esta comunicação pretende contribuir com a compreensão do fenômeno em epígrafe, recorrendo às bases teóricas da Análise do Discurso, particularmente às teses sobre argumentação, polêmica, condensação e circulação de discursos propostas por Amossy (2017), Krieg-Planque (2010, 2018) e Maingueneau (2014, 2015).