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“Ideologia de gênero”: polêmica, argumentação e discurso(s)
Marcos Felipe Rocha
Universidade Federal de Mato Grosso
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Nelson Rodrigues aforizadorA fórmula “ideologia de gênero” começa a circular no Brasil num contexto em que se discute a presença das abordagens sobre sexualidade na escola e no seu entorno reúnem-se posicionamentos que assumem, de um lado, que essas questões são responsabilidade da família e, de outro, que são função da escola também. Destarte, neste trabalho, é no sintagma “ideologia de gênero” que iremos nos concentrar e na sua circulação em diversos materiais textuais, percebendo a proeminência dessa fórmula no discurso conservador ao questionar o Plano Nacional de Educação e os estudos que cientistas, pesquisadores e filósofos fazem sobre os gêneros na sociedade. A pesquisa apoia-se nos aportes teóricos de Alice Krieg-Planque (2010), especialmente na noção de fórmula discursiva, tendo em vista o quadro teórico da tradição francesa da análise do discurso (AD) e, com base nele, objetivamos desenvolver a pesquisa a partir do conceito de interdiscurso de Maingueneau ([1984] 2008), assumindo a polêmica como um processo de interincompreensão regrada. Desse modo, defendemos que este sintagma oriundo de uma polêmica ganha o estatuto de fórmula devido a sua cristalização no espaço político e social. O interesse do estudo desta reside na prática como docente e nas questões que cerceiam os discursos engendrados pelas instituições. Com isso, focalizamos o percurso do sintagma “ideologia de gênero” no espaço político e social brasileiro, especialmente após o Plano Nacional de Educação em 2014, período de intensa circulação deste enunciado, a fim de compreender como este anunciado adquire estatuto formulaico. Nesse viés, a partir de sentido amplo que a palavra adquire, atribui-se o estatuto de fórmula, que, conforme Krieg-Planque (2010), tem quatro características fulcrais e interdependentes: 1) caráter cristalizado; 2) inscrição em uma dimensão discursiva; 3) funcionamento como referente social; 4) aspecto polêmico. Assim, analisamos o termo “ideologia de gênero” e sua circulação na esfera pública, produzindo novos sentidos e remontando novos usos. As conclusões ainda provisórias apontam que este sintagma não é um conceito teórico proveniente dos estudos de gênero, mas um sintagma, que a partir de uma polêmica discursiva, em que o Mesmo traduziu o Outro, e foi usada como slogan eleitoral, em detrimento dos estudos que se dedicam às questões de gênero e orientação sexual. Além disso, no contexto atual, sua presença funciona, efetivamente, como uma marca dessa “argumentação slam” que propõe este simpósio.
Alexandre S. Ferrari Soares
Marcos, parabéns pelo seu trabalho. Não ficou muito claro para mim o funcionamwnto discursivo do que vc chama de fórmula. Pensei, se é possível fazer alguma comparação com um funcionamento discursiva em a AD francesa, com as denominações que tb são da ordem do discurso e estão sempre relacionadas com sítios de significâncias e formações discursivas. De onde vem essa formulação? Gostaria de ler mais sobre ela.
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Marcos Felipe Rocha
Alexandre, agradeço pela interação. A noção de "fórmula discursiva" se inscreve no quadro da análise do discurso de linha francesa a partir dos estudos de Alice Krieg-Planque. Existe uma obra introdutória dessa noção intitulada "A noção de fórmula em análise do discurso" da mesma autora que demonstra, de modo operacional, o surgimento do estudo de estruturas formulaicas e a aplicação nos estudos da autora.