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O CORPO TRANSEXUAL E O FEMINISMO RADICAL TRANS-EXCLUDENTE: EFEITO METAFÓRICO E ARGUMENTAÇÃO
Beatriz Pagliarini Bagagli
Universidade Estadual de Campinas
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MULHERES MUÇULMANAS EM FOZ DO IGUAÇU: PRECONCEITO E SEUS EFEITOSO livro de Janice Raymond, The Transsexual Empire, de 1979, já foi descrito como a “declaração feminista, sem dúvidas, mais influente sobre a transexualidade” (CONNEL, 2012, p. 860) e ainda como a “articulação arquetípica da hostilidade do feminismo radical à transexualidade” (HEYES, 2003, p. 1099). A obra estabeleceu uma forte influência no imaginário feminista sobre a transexualidade que perdura até hoje. Uma das principais teses defendidas neste livro é de que transexuais são vítimas das práticas médicas de redesignação sexual e cúmplices dos estereótipos gênero. Os estereótipos de feminilidade que seriam reproduzidos acriticamente por mulheres transexuais deveriam, segundo a autora, serem abolidos pela teoria e prática feminista. A autora conclui, desta forma, que transexuais simplesmente não deveriam existir numa sociedade mais justa e igualitária - pautada, portanto, em valores feministas. A autora alega ainda que “transexuais estupram as mulheres ao reduzirem o corpo feminino a um artefato”, se “apropriando”, assim, “desse corpo para si próprios”. Tanto a “cirurgia transexual” quanto o estupro, argumenta a autora, apontam para a “acessibilidade geral das mulheres” e a “velha percepção patriarcal de que os corpos das mulheres devem estar disponíveis para os homens” (1994/1979, p. 104). A transexualidade é compreendida então como uma maneira “peculiar” dos homens “adquirirem o corpo feminino”, “não apenas como propriedade sexual e/ou reprodutiva, mas através de construções hormonais e cirúrgicas” (ibid., p. xii– xv). Tendo em vista estas considerações, buscamos compreender neste trabalho, a partir do referencial teórico e metodológico da Análise do Discurso, como este texto é capaz de produzir sentidos a respeito de mulheres transexuais. Assumimos a hipótese de que o efeito metafórico constrói a argumentação em favor de posicionamentos trans-excludentes no discurso feminista radical. Utilizamos a definição de Pêcheux (2014) a respeito do efeito metafórico como um fenômeno semântico fabricado por uma sinonímia local ou substituição contextual (isto é, os elementos x e y só são substituíveis em determinados contextos), produzindo um deslizamento de sentido. O efeito metafórico é também constitutivo de todo efeito de sentido, isto é, do sentido em si, na medida em que resulta de “uma palavra, uma expressão ou uma proposição por uma outra palavra, uma outra expressão ou proposição”. Assim, observamos que os sentidos sobre estupro e transexualidade no texto são estabelecidos por efeitos metafóricos de substituição de palavras e proposições. O estupro passa a ser metáfora da transexualidade e vice-versa, estabelecendo uma relação de sinonímia e deslizamentos de sentidos.
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