A LUTA PELO PODER DIZER “IMPEACHMENT” E “GOLPE” NA NARRATIVA MIDIÁTICA DO IMPEDIMENTO DE DILMA ROUSSEFF

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Detalhes
  • Tipo de apresentação: Simpósio Temático
  • Eixo temático: ST75 - SOBRE OS SUJEITOS E OS SENTIDOS EM: NA REDE
  • Palavras chaves: Ideologia; Discurso; Narrativa midiática; Memória Discursiva;

Autoras(es):

  • 1 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão Pernambucano

A LUTA PELO PODER DIZER “IMPEACHMENT” E “GOLPE” NA NARRATIVA MIDIÁTICA DO IMPEDIMENTO DE DILMA ROUSSEFF

Maria Alcione Costa

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão Pernambucano

Resumo

O processo de impedimento de Dilma Rousseff, ocorrido em 2016, foi um dos acontecimentos históricos mais emblemáticos e tensos de nossa história política recente, sendo marcado por uma luta acirrada pelo poder e pelo poder dizer: enquanto uma parcela da população lutava pela designação do evento como “impeachment”, em nome da justiça e da estabilidade econômica e política do Brasil; outra parcela lutava pela designação do evento como “golpe”, em nome da justiça e da democracia. Diante desse confronto discursivo, surgiu o objetivo central da presente pesquisa, que é analisar os processos de designação desse acontecimento histórico na narrativa midiática do jornal O Globo e da revista Carta Capital, em suas versões online, observando os funcionamentos discursivos que produziram os sentidos de legalidade (efeito parafrástico) e de golpe (efeito metafórico), respectivamente, para o termo “impeachment”. Para tanto, filiamo-nos à Análise de Discurso Pecheuxtiana e aos estudos de Guimarães sobre o processo de designação. Nesse sentido, tomamos de empréstimo a noção de discurso como efeito de sentidos entre interlocutores (PÊCHEUX, 2010); a noção de memória discursiva como “a existência histórica de enunciados no interior de práticas discursivas” (COURTINE, 2014, p. 105); e a noção de designação como “uma relação entre a linguagem e o mundo. O mundo tomado não enquanto existente, mas enquanto significado pela linguagem” (GUIMARÃES, 2018, p. 154). Para efeitos de conclusão, podemos dizer que a narrativa midiática produzida sobre o evento de 2016 foi determinada por um jogo de forças que acabou institucionalizando o discurso da legalidade (grande mídia, Casas Legislativas, STF, etc.), o qual foi construído, essencialmente, por meio do funcionamento da paráfrase discursiva, que (re)atualizou os saberes da FD do impeachment, cristalizados no imaginário social brasileiro, especialmente, após o processo de impeachment de Collor. Por seu turno, a narrativa midiática do golpe foi construída, essencialmente, por meio do efeito metafórico, que produziu a deriva dos sentidos em torno do significante “impeachment” que, em meio ao jogo de forças existentes, gradativamente, tem se descolado do sentido de legalidade e tem funcionado como paráfrase de golpe, confirmando o pensamento pecheuxtiano de que “[...] a regularização discursiva, que tende assim a formar a lei da série do legível, é sempre suscetível de ruir sob o peso do acontecimento discursivo novo, que vem perturbar a memória [...] (2015, p. 46).

 

PALAVRAS-CHAVE: Ideologia; Discurso; Narrativa midiática; Memória discursiva

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Autor

Maria Alcione Costa

Evandra, primeiramente gostaria de parabenizar você e Fernanda pelo minicurso apresentado, pois foi um momento de muito aprendizado e de muitas provocações. Inclusive, enquanto ouvia vocês, muitas questões sobre minha pesquisa surgiram e uma delas foi justamente pensar as relações de poder que se deram por meio dos dispositivos tecnológicos. Penso que, assim como no campo político, a luta travada, nas redes, pela designação desse acontecimento como "Impeachment" e como "golpe" acabou por regularizar o discurso da legalidade, uma vez que este circulou nos principais sites e jornais do país (grande mídia), que atua como uma importante instituição de poder, produzindo, por meio da repetibilidade, efeitos de verdade sobre os acontecimentos do mundo. Enquanto isso, o discurso do golpe ficou circunscrito às mídias alternativas que, segundo Moretzohn (2016, p. 137), apesar de serem um espaço para a circulação do sentido outro, estão longe de se tornarem um espaço de luta igualitária com a grande mídia, uma vez que “a possibilidade de difusão de uma perspectiva contra-hegemônica esbarra na tendência à criação de guetos virtuais, que atraem pessoas de filiação ideológica semelhante e acabam reproduzindo a lógica da pregação para convertidos”. Além disso, vale destacar que a designação do evento político como golpe, nos espaços de poder como a mídia e os discursos oficiais de Dilma Rousseff, sofreu o efeito de interdição das instituições que regularam o processo, o que acabou deslegitimando e, consequentemente, invibilizando os discursos do golpe nas redes. Nesse sentido, entendo que os dispositivos tecnológicos têm exercido importante papel na regularização da narrativa do impeachment, pelo viés da repetibilidade e do apagamento dos arquivos na rede, determinando, inclusive, a memória coletiva dominante desse acontecimento.

Fernanda Correa Silveira Galli

Olá, Alcione! Parabéns pela exposição e obrigada por estar conosco nesse simpósio. Sempre muito bom te ouvir... a tua temática muito nos afeta! Pegando carona nas provocações de Evandra e nas tuas considerações em relação a elas, pergunto: poderíamos pensar, também, num processo de desregularização da narrativa do/sobre o impeachment, considerando os movimentos de inscrição do sujeito-usuário em meio à profusão de discursos em/na rede digital, mas não só? Dialogamos mais amanhã! Um grande abraço!