Olá, Helton! Muito interessante o seu trabalho, parabéns pela defesa! Estava te ouvindo e fiquei pensando nas reflexões que a Silvia Federici faz em Calibã e a bruxa. Ela apresenta a estreita ligação entre a formação do capitalismo e a discriminação e invisibilização das mulheres na sociedade. Analisando a Europa pré-capitalista a partir de uma concepção marxista, a filósofa aponta que a acumulação primitiva de capital destruiu o universo das práticas femininas, com suas relações coletivas e sistemas de conhecimento, que iam desde a produção de bens de consumo para a própria família e para a comunidade local ao domínio de métodos contraceptivos e abortivos. Como consequência direta dessa destruição, Federici aponta que, na sociedade capitalista, o papel da mulher passa a ser o da reprodução geracional de trabalhadores para o mercado (gravidez) e a regeneração cotidiana da capacidade do trabalho (cuidados para o sustento da vida humana: alimentação, higiene, educação, apoio psicológico). Desse modo, mesmo excluída e alienada do mundo do trabalho, a mulher o sustenta indiretamente. Seu corpo é o lugar de alienação fundamental. Federici aponta ainda que, como consequência desta alienação, faz-se necessário, na lógica do capitalismo, o controle do Estado sobre os corpos das mulheres a fim de assegurar o trabalho reprodutivo, o que se deu, ao longo da história, por meio da criminalização de métodos contraceptivos e do aborto. Isso me fez pensar que os sentidos de piriguete estão relacionados a essa memória de controle do corpo: se a função do corpo é manter um dado sistema de produção, qualquer divergência disso é indício de subversão, de má conduta, e portanto deve ser extirpado da sociedade. E ao mesmo tempo, quando "elogiada", segue reificada, um objeto de desejo e de consumo. Me parece que, no fundo, a luta é sempre anti-capitalista... rs