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Contextualização Trata-se de um relato de experiência oriundo do Projeto de Pesquisa “Enfrentamento das Iniquidades em Saúde, no Contexto da Pandemia de COVID-19, a partir das Vivências e dos Saberes Produzidos pelas Comunidades Tradicionais em Salvador e Região Metropolitana” realizado pelo Núcleo de Estudos e Pesquisa em Gênero, Raça e Saúde - NEGRAS. O processo metodológico é composto por encontros com comunidades tradicionais e povos de terreiros, onde são realizados grupos focais e oficinas e para se preparar para atividade de campo, experimentou-se a metodologia do grupo focal. Descrição Foram revisitados registros como a gravação de áudio, fotografias e a preparação para realização do grupo focal. Realizou-se todas as etapas de preparação de um grupo focal. Foram definidas 1 mediadora, 1 observadora, 1 relatora e 9 integrantes como participantes. Deu-se início com a dinâmica do “quebra-gelo”, na qual uma árvore desenhada em papel metro foi utilizada para que as pessoas inserissem as consequências da pandemia da COVID-19 nas suas vidas. Quanto mais intensa as consequências, estas deveriam ser colocadas mais próximas das raízes e quanto mais amenas mais próximas da copa. Na sequência, as pessoas responderam às perguntas chaves, relacionando-as com o que foi exposto na árvore. Período de Realização Setembro de 2022 Objetivos Refletir sobre a experiência formativa do grupo de pesquisa, através do grupo focal. Resultados Notou-se que o grupo levou um tempo reflexivo para iniciar a escrita. Em seguida, foi possível perceber que as participantes esperavam a iniciativa de outra integrante que pudesse iniciar o registro das "suas consequências". Na rodada de apresentação da árvore, foi observada a manifestação de desejos de ir embora, lágrimas, suspiros e silêncios, demonstrando que a dinâmica do “quebra gelo” provocou um misto de lembranças, emoções e sentimentos retidos. Palavras como medo, tristeza, angústia, ansiedade, vulnerabilidade, fragilidade, insegurança, perda, solidão, confinamento, trabalho duro, estresse, indignação, isolamento, sofrimento, distanciamento estavam mais próximas da raiz e do tronco. Já na copa, foram identificadas palavras como saudade, insegurança, adaptação, fortalecimento de laços, a necessidade de amar mais, a existência do NEGRAS, a possibilidade de ingresso e finalização de graduação, mestrado e doutorado. No momento de discussão, percebeu-se os atravessamentos das participantes. Perdas familiares e a impossibilidade de viver o luto, tensionamentos familiares, dificuldade de reconhecer a vulnerabilidade, pelo mito da mulher negra “guerreira” e “forte” que tudo suporta, crises de ansiedade, trabalho exaustivo de quem estava na linha de frente, o desafio de lidar com as diferentes formas de cuidado, pela desinformação e negacionismo, evidenciaram a densidade emocional vivida. Aprendizados Essa preparação deu às pesquisadoras a oportunidade de vivenciar e aprimorar a realização das etapas metodológicas, bem como refletir sobre a dimensão do desafio que estaria por vir, considerando que o grupo estava se preparando para atuar em comunidades tradicionais, povos historicamente vulnerabilizados pela ação perversa do racismo estrutural, com impacto significativo na condição de vida e saúde. A atuação na pesquisa de campo solicita do pesquisador muito além do conhecimento de técnicas que possibilitem a captação das informações necessárias para desenvolvimento do objeto de estudo. Ela requer sensibilidade com a escuta, como também nos mobiliza para um acolhimento individual e coletivo visando construir um ambiente de trocas e reflexões. Além do aprendizado técnico, esse processo possibilitou para o grupo uma oportunidade de expressar emoções, sentimentos e atravessamentos vividos durante a pandemia, se constituindo num momento de catarse que talvez muitas ali presentes não tiveram a oportunidade ou não se permitiram expressar justamente pela necessidade de tocar a vida, visto que não houve tempo de refletir sobre como foi esse momento da pandemia. A formação do grupo para o campo de pesquisa acabou proporcionando um espaço terapêutico coletivo. Análise Crítica A sociabilidade é construída através de trocas e a imersão nesta oficina proporcionou ao grupo um preparo para encarar a inserção de cada pesquisadora no campo. A densidade da atividade mostrou o quanto é preciso responsabilidade ao se propor realizar uma pesquisa, cuidado que o NEGRAS teve, pois se reconhece com responsabilidade social, e isto inclui suas participantes. A catarse vivenciada durante o grupo focal expressa o elo e a confiança que existe entre as integrantes do NEGRAS, caracterizando esse grupo de pesquisa como potente quilombo afetivo.
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