PADRÕES EPIDEMIOLÓGICOS DE VIGILÂNCIA E CONTROLE DO TRACOMA NA MICRORREGIÃO DO BAIXO JAGUARIBE, CEARÁ

Vol 4, 2021 - 136809
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Resumo

Resumo

O tracoma, ceratoconjuntivite crônica recidivante causada por Chlamydia trachomatis, é uma doença negligenciada que persiste como desafio para os Sistemas Nacionais de Saúde pela sua morbidade relacionada à deficiência visual e cegueira evitável. O trabalho busca caracterizar padrões epidemiológicos de vigilância e controle do tracoma em municípios da Microrregião do Baixo Jaguaribe, Estado do Ceará. Trata-se de estudo transversal de base microrregional no período de 2010-2019. A análise foi baseada em dados dos municípios que desenvolvem ações do Programa de Vigilância e Controle do Tracoma na Microrregião Baixo Jaguaribe.A população do estudo foi constituída por crianças e adolescentes de 5-14 anos de idade e 1-9 anos de idade. A análise foi realizada descritivamente incluindo como variáveis: sociodemográficas e clínicas. Do total de 105.454 escolares avaliados, 6.492 (6,2%) tinham tracoma. Verificou-se alta taxa de positividade nos anos de 2010 (6,3%), 2012 (15,1%), 2014 (12,6%) e 2017 (5,9%), superior à do estado do Ceará. Houve predominância de casos em pessoas do sexo feminino (51,7%), faixa etária 10-14 anos (48,4%) e presença de formas ativas do tracoma na fase adulta (>15 anos). O tracoma mantém-se como problema de saúde pública na Microrregião Baixo Jaguaribe.

Introdução

O tracoma, ceratoconjuntivite crônica recidivante causada por Chlamydia trachomatis, é uma doença negligenciada que persiste como desafio para os Sistemas Nacionais de Saúde pela sua elevada carga de morbidade relacionada à deficiência visual e cegueira evitável. Estimativas mundiais em 2010 indicam que 2,2 milhões de pessoas tinham deficiência visual, 55% com cegueira irreversível em decorrência do tracoma. O Brasil é um dos países endêmicos onde o tracoma demanda maior integração das ações de vigilância com as de atenção à saúde. Entre 2008-2016 foram registrados 149.752 casos, com positividade média de 3,8%. Em 2019, o Inquérito Nacional para Validação da Eliminação do Tracoma como Problema de Saúde Pública no Brasil, estimou prevalência dentro dos parâmetros de eliminação. Entretanto, preocupa a sustentabilidade das ações em um contexto locorregional pós-eliminação. No Estado do Ceará (2010-2019) houve redução de 55% dos municípios com positividade >10% para C. trachomatis entre escolares. Atualmente, 13% dos municípios encontram-se com positividade ≥5%. Na Microrregião do Baixo Jaguaribe, 50% (5) dos seus municípios não desenvolvem ações de controle, sendo considerados silenciosos.

Objetivos

O presente trabalho busca caracterizar padrões epidemiológicos de vigilância e controle do tracoma em municípios da Microrregião do Baixo Jaguaribe, Estado do Ceará. Pretende-se atualizar análises epidemiológicas para manter o tracoma nas agendas públicas de saúde mesmo em contextos de limitação orçamentária. Espera-se instrumentalizar a rede de atenção, em especial a atenção primária à saúde, para a necessidade de manter ações de vigilância e atenção à saúde no Sistema Único de Saúde.

Metodologia

Trata-se de estudo transversal de base microrregional, com análise de série histórica de dados epidemiológicos de tracoma no período de 2010-2019, a partir do Sistema de Informação de Agravos de Notificação da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará e registrados sob forma de inquéritos. A análise foi baseada em dados dos municípios que desenvolvem ações do Programa de Vigilância e Controle do Tracoma na Microrregião Baixo Jaguaribe (5/10, 50%): Russas, Morada Nova, Palhano, Jaguaruana e Limoeiro do Norte. A população do estudo foi constituída por crianças e adolescentes de 5-14 anos de idade (inquérito domiciliar, 2010-2013) e de 1-9 anos de idade (inquérito escolar, 2014-2019). A análise foi realizada descritivamente incluindo como variáveis: sociodemográficas - analisadas incluíram sexo, faixa etária e município; clínicas - casos examinados, confirmados e formas clínicas ativas: Tracoma Inflamatório (TF/TI) e sequelares - Tracoma Cicatricial (TS), Sequela de Tracoma (TT, CO). Resultados e Discussão O tracoma persiste como um problema de saúde pública incapacitante na Microrregião do Baixo Jaguaribe. Do total de 105.454 escolares avaliados, 6.492 (6,2%) tinham tracoma. Verificou-se alta taxa de positividade nos anos de 2010 (6,3%), 2012 (15,1%), 2014 (12,6%) e 2017 (5,9%), superior à do estado do Ceará, demonstrando transmissão ativa da doença ao longo do período analisado. Os municípios de Palhano (2014: 12,3%, 2015: 14,4%, 2016: 10,2%), Russas (2017: 18,8%) e Morada Nova (2010: 11,9%, 2013: 13,2%, 2014: 26,8%, 2015:17,3%), apresentaram as mais altas positividades. A partir da Campanha Nacional de Hanseníase, Verminoses, Tracoma e Esquistossomose realizadas 2014, houve redução com manutenção a partir de então de níveis de positividade 15 anos), condição mais comumente encontrada entre crianças, além de formas cicatriciais e sequelares entre

Conclusões / Considerações finais

O tracoma mantém-se como problema de saúde pública ativo na Microrregião Baixo Jaguaribe. Esta análise de 50% municípios da microrregião que desenvolvem ações de controle pode indicar a presença de municípios silenciosos para tracoma não analisados. A expressão da doença em crianças e adolescentes revelada por este estudo preocupa frente às graves consequências da infecção na saúde ocular. Doença fortemente relacionada a críticos determinantes sociais de saúde, reforça-se a importância de se garantir sustentabilidade das ações de controle mesmo em potenciais cenários pós-eliminação. A piora dos indicadores socioeconômicos nos últimos 5 anos principalmente, reforça esta preocupação e a necessidade de manter o tracoma nas agendas públicas. Há a necessidade de se ampliar o escopo dos inquéritos estaduais e nacionais com vistas à tomada de decisões voltadas para vigilância, integrando-as à atenção à saúde no SUS. Reitera-se o papel estratégico dos municípios por meio de ações intersetoriais.

Referências

World Health Organization. Weekly epidemiological record. WHO Alliance for the Global Elimination of Trachoma by 2020: progress report on elimination of trachoma, 2014–2016. WHO, 2017: 26 (92): 357–368. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Manual de vigilância do tracoma e sua eliminação como causa de cegueira. 2 ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2014. World Health Organization. Planning for the elimination of trachoma (GET). Report of a WHO consultation, Geneva, Switzerland,1996. Alliance for the global elimination of trachoma, 1997. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Informe técnico. Campanha Nacional de Hanseníase, Verminoses, Tracoma e Esquistossomose. Brasília; 2016.

Eixo Temático
  • 1. Estado, Políticas Sociais e Sistemas de Saúde