Anais do 4º Congresso Brasileiro de Política, Planejamento e Gestão da Saúde

Resumo

A transmissão do novo Coronavírus (SARS-CoV-2) revelou a COVID-19 e pandemia desafiadora em 2020. O estado do Ceará apresentou 227.075 casos e 8.685 óbitos até 12 de setembro de 2020. O trabalho caracterizou padrões epidemiológicos da COVID-19 no município de Russas, Estado do Ceará. Estudo transversal a partir do Sistema de Informação e-SUS VE. Análise descritiva com variáveis sociodemográficas e clínicas. Evidenciou-se 2.836 casos e 58 óbitos confirmados; predominância: zona urbana; faixa etária 20-49 anos (1.770 - 62,4%); sexo feminino (1.592, 56,1%); raça/cor parda (1.719, 60,6%); sintomatologia: tosse (69,0%), dispneia (69,0%) e febre (65,5%); Comorbidades: doenças cardíacas (11,1%); óbitos: doenças cardíacas crônicas (39,7%), diabetes (22,4%), 70 anos ou mais (36, 62,1%), sexo masculino (36, 62,1%) e pardos (43, 74,1%); cura: 20 a 49 anos (1.719, 63,6%) e pardos (1.627, 60,2%). Coletadas 2.830 amostras biológicas, com 511 (18,0%) para reação em cadeia de polimerase em tempo real e 2.319 (81,9%) para testes rápidos. Dois casos (0,1%) por clínico-epidemiológico. Emergência da COVID-19 trouxe desafios para planejamento e gestão da rede de atenção. Evidenciou-se papel relevante da atenção primária à saúde e vigilância na organização das ações e manejo da COVID19. Elaborados informes epidemiológicos para análise e tomada de decisões e desenvolvimento de ações intersetoriais.

Introdução

A transmissão de um novo Coronavírus (SARS-CoV-2) registrada em dezembro de 2019 na China, revelou a COVID-19, uma doença emergente transmitida pessoa a pessoa. Com sua rápida disseminação, tornou-se uma pandemia desafiadora já no início de 2020, com desafios críticos aos Sistemas Nacionais de Saúde. Com uma síndrome clínica variada, cursando desde infecções assintomáticas ou oligossintomáticas (~80%) até quadros graves (~20%, sendo que ~5% podem necessitar de suporte ventilatório). No mundo até 12 de setembro de 2020 foram confirmados 28.344.103 casos de COVID-19 e 920.231 óbitos, com uma taxa de letalidade de 3,2%. No Brasil nesse mesmo período foram registrados 4.315.687 casos e 131.210 óbitos, com taxa de letalidade estimada de 3,0%. O estado do Ceará teve grande destaque no início da epidemia pela gravidade epidemiológica, em parte pela capacidade de resposta da vigilância em saúde. Até 12 de setembro de 2020, foram registrados 227.075 casos e 8.685 óbitos, com taxa de letalidade estimada de 3,8%. Ressalta-se que a pandemia trouxe importantes desafios para as regiões de saúde e municípios de menor porte, sobretudo aqueles localizados em áreas mais vulneráveis socialmente no país.

Objetivos

Considerando-se o desafio da pandemia de COVID-19 em áreas do interior do Nordeste brasileiro, o presente trabalho buscou caracterizar os padrões epidemiológicos da doença no município de Russas, Estado do Ceará. A proposta era analisar o contexto epidemiológico no sistema local de saúde do município com vistas a contribuir para o planejamento e desenvolvimento de ações integradas de vigilância, controle e atenção à saúde.

Metodologia

Trata-se de estudo transversal de base municipal, com análise de dados epidemiológicos da doença causada pelo novo Coronavírus (COVID-19) no município de Russas, Estado do Ceará. Considerou-se todos os casos registrados no período de 01 de janeiro a 12 de setembro de 2020, a partir da análise da base de dados de COVID-19 do Sistema de Informação e-SUS VE do Estado do Ceará. A pesquisa foi desenvolvida no município de Russas, situada na microrregião do Baixo Jaguaribe, parte integrante da Região de Saúde Litoral Leste/Jaguaribe. A população estimada para o município era de 79.193 mil habitantes. A análise foi realizada descritivamente incluindo como variáveis sociodemográficas: sexo, faixa etária, raça/cor, zona e bairros de residência, além de variáveis clínicas: casos confirmados, semana epidemiológica, data do início dos primeiros sintomas, sintomatologia, presença de comorbidades, óbitos, evolução do caso e critério de confirmação da doença. Resultados e Discussão Evidenciou-se o registro de 2.836 casos a partir de 04 de abril de 2020, com pico entre 27 de junho e 02 de julho. Verificou-se concentração de casos na zona urbana e presença em todos os distritos, além do registro de 58 óbitos confirmados. Houve predominância em faixa etária de 20-49 anos (1.770 - 62,4%), sexo feminino (1.592 - 56,1%) e raça/cor parda (1.719, 60,6%). Os principais sintomas foram tosse (69,0%), dispneia (69,0%) e febre (65,5%). Doenças cardíacas (11,1%) foram as principais comorbidades, com ocorrência de óbitos entre portadores de doenças cardíacas crônicas (39,7%), diabetes (22,4%), pessoas com idade ≥70 anos (36, 62,1%), sexo masculino (36, 62,1%) e pessoas pardas (43, 74,1%). Houve maior percentual de cura de 20 a 49 anos (1.719, 63,6%) e entre pardos (1.627, 60,2%). As áreas das Equipes de Saúde da Família do Centro, Nossa Senhora de Fátima e Várzea Alegre apresentaram maior número de casos e óbitos. Foram coletadas 2.830 amostras de material biológico para diagnóstico, sendo 511 (18,0%) para reação em cadeia de polimerase em tempo real e 2.319 (81,9%) para testes rápidos sorológicos. Dois casos (0,1%) foram confirmados pelo critério clínico-epidemiológico.

Conclusões / Considerações finais

A emergência da COVID-19 trouxe desafios críticos para planejamento e gestão da rede de atenção e vigilância à saúde no município de Russas. Ressalta-se ainda a ocorrência da doença em áreas com maior vulnerabilidade social no município, o que tornou a pandemia um risco significativo para dispersão no âmbito da saúde pública. Evidenciou-se ainda um papel relevante da atenção primária à saúde na organização das ações e do manejo frente a condições clínicas de maior risco para desenvolvimento de complicações e maior gravidade. A vigilância teve de se aperfeiçoar e integrar novas estratégias para análise mais acurada e oportuna para o desenvolvimento das ações de controle. Para tanto, foram elaborados informes epidemiológicos com análise espaço-temporal dos casos e óbitos para análise e tomada de decisões. O controle da COVID-19 perpassa não apenas a vigilância de casos, mas sobretudo, de condições de vida e saúde, para desenvolvimento de ações intersetoriais de desenvolvimento social.

Referências

CONASS. PAINEL CONASS | COVID-19. Disponível em: . Acesso em: 5 out. 2020. HOPKINS, J. COVID-19 Map - Johns Hopkins Coronavirus Resource Center. Disponível em: . Acesso em: 5 out. 2020. RUSSAS. Boletim epidemiológico - Doença pelo novo coronavírus (COVID-19) Boletim Epidemiológico. [s.l: s.n.]. Disponível em: .