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Este artigo é parte de uma pesquisa em andamento e abordará a influência do matriarcado e da oralidade no ensino das danças afro-brasileiras. Será demonstrada a importância das mulheres na produção e disseminação de saberes corporais, por meio da descrição da participação feminina na construção de novas corporeidades a partir de saberes ancestrais africanos. Por meio da revisão bibliográfica sobre matriarcado, tradição oral e cultura afro-brasileira, iremos localizar as mulheres como detentoras do saber corporal que possibilitou a criação, desenvolvimento e popularização das danças afro-brasileiras.
Palavras-chave: MATRIARCADO. ORALIDADE. DANÇA. DANÇAS AFRO-BRASILEIRAS.
As danças afro-brasileiras foram consideradas por muito tempo uma expressão de cunho religioso e, por isso, discriminadas nas escolas, academias de dança e no meio acadêmico. A partir do trabalho realizado por grupos e coletivos culturais afro-brasileiros (tais como Ilê Aiyê, Olodum, Muzenza, entre outros) foi possível demonstrar sua riqueza cultural e epistemológica, de contribuição fundamental para a construção de diversas manifestações culturais brasileiras.
A inspiração em movimentações praticadas no candomblé, contudo, existe, e pode ser identificada por estudiosas como Mercedes Baptista, que extraiu do contexto religioso e sistematizou padrões de movimentos que hoje são referências na estética e no ensino das danças afro-brasileiras (SILVA, 2007). A difusão desses saberes pelas gerações se deu, em sua maioria, pelas mulheres, principalmente mulheres negras, apesar de que homens também são grandes referências no ensino dessas danças hoje.
Nesse sentido, as danças afro-brasileiras possuem uma unidade matricial – a mulher – que na África pré-colonial era reverenciada por meio do matriarcado, fenômeno que ainda pode ser observado em alguns territórios. Trata-se de um sistema filosófico e prático em que a mulher, por sua capacidade de gerar e nutrir uma vida, também fornece essas características a outros aspectos da vida social, tais como a arte, os negócios e à convivência em comunidade. Por isso, muitas vezes, é a mulher a responsável por tarefas como o preparo do alimento, aconselhamento em múltiplos assuntos, articulação entre diferentes grupos e a transmissão de saberes por gerações (DIOP, 2014).
As mulheres responsáveis por compartilhar esses saberes, geralmente sacerdotisas dentro do candomblé ou grandes referências em suas comunidades, são reconhecidas e respeitadas como matriarcas, grandes mães, independentemente de terem filhos biológicos. Muitas movimentações, inclusive, remetem ao ventre e ao poder deste gerar vidas, característica do corpo feminino. Contudo, nem o gênero tampouco o sexo biológico são conceitos adotados de forma rígida dentro do matriarcado. Oyèrónkë Oyěwùmí explica em seu livro “A invenção das mulheres: uma perspectiva africana sobre os discursos ocidentais de gênero” (1997) que os conceitos de “homem” e “mulher” não existiam nas comunidades tradicionais africanas pré-coloniais, que só conheceram essas categorias de gênero após a colonização europeia. Segundo Oyèwùmí, as funções sociais eram estabelecidas a partir da configuração física (força e tamanho), da linhagem familiar e das necessidades da comunidade.
Assim sendo, matriarcas não são apenas aquelas que possuem filhos biológicos ou adotivos, mas as que geram e nutrem uma comunidade, local, nacional ou mesmo internacional. Por isso, faz-se necessário compreender se e de que maneira o matriarcado compõe a matriz de conhecimentos relativos às danças afro-brasileiras.
Esse estudo terá por base metodológica a pesquisa bibliográfica que, segundo Gil (2008), é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos, traçando paralelos entre obras, autores e temas.
Joceline Gomes Silva
UFBA
[email protected]
Mestranda em Dança na Universidade Federal da Bahia. Pesquisadora de danças africanas, do continente e da diáspora, tradicionais e urbanas. Jornalista e pós-graduada em Gestão de Políticas Públicas de Gênero e Raça pela Universidade de Brasília e em Dança e Consciência Corporal pela Estácio.
Fernando M.C. Ferraz
UFBA
[email protected]
Doutor em Artes e Mestre em Artes Cênicas pelo Instituto de Artes da Unesp de São Paulo. Professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Dança da UFBA e do Mestrado Profissional em Dança - PRODAN, Coordenador do Curso de Especialização em Estudos Contemporâneos em Dança do PPGDança/UFBA.
Referências
CONRADO, Amélia Vitória de Souza. Dança negra no contexto social brasileiro e na educação. 1993. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal da Bahia, Salvador.
DIOP, Cheikh Anta. A Unidade Cultural da África Negra: Esferas do patriarcado e do matriarcado na antiguidade clássica. Coleção Reler África. Luanda, Angola: Edições Mulemba da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto, 2014.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
GILROY, Paul. O Atlântico negro: modernidade e dupla consciência. Rio de Janeiro: UCAM, Centro de Estudos Afro-Asiáticos, 2012.
HAMPATÉ BÂ, Amadou. A tradição viva. In: KI-ZERBO, Joseph (Ed.). História Geral da África I. Metodologia e Pré-história da África. Brasília: Unesco, 2010.
MONTEIRO, Marianna. Dança afro: uma dança moderna brasileira. Húmus 4.
OYĚWÙMÍ, Oyèrónkë. A invenção das mulheres: uma perspectiva africana sobre os discursos ocidentais de gênero. Tradução de Wanderson Flor do Nascimento. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1997.
SANTOS, Antônio Bispo. Colonização, quilombos: modos e significações. Brasília: INCT/UNB, 2015.
SILVA JUNIOR, Paulo Melgaço da. Mercedes Baptista: a criação da identidade negra na dança. Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2007.
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