Prezados Integrantes da Mesa, Prezados Colegas Homenageados, Prezados Participantes, Meus Senhores e Minhas Senhoras,

Fui escolhido para falar em nome de meus colegas aqui presentes e de antemão peço desculpas se porventura não atender às suas expectativas.

Em seu nome agradeço a homenagem a nós prestada pela Sociedade Brasileira de Pesquisa Operacional, de grande significado para nós. É certamente uma honra estar em uma lista de homenageados pela Sociedade Brasileira de Pesquisa Operacional, especialmente em seu 50º ano de realização de Simpósios, simpósios esses que muito contribuíram para o desenvolvimento da atividade no Brasil e para o reconhecimento do seu valor em âmbito nacional e internacional.

Há cinquenta anos, durante o I SBPO, realizado em São José dos Campos, foi criada a Sociedade Brasileira de Pesquisa Operacional. Me lembro que alguns de meus colegas vaticinaram que, à semelhança de outras sociedades, o número de simpósios que ela realizaria não ultrapassaria o número de dedos de uma mão. Esse prognóstico não se cumpriu, felizmente e uma das razões para o sucesso da SOBRAPO é que ela está alicerçada em uma das mais fortes atividades humanas – a ciência, tendo em vista que, tanto Kittel quanto Ackoff, renomados autores no campo da atividade, definiram a PO como o uso ou aplicação do método científico à solução dos problemas das organizações, empregando equipes multidisciplinares. O trabalho que constará dos Anais deste 50º Simpósio, representativo da história dos cinquenta anos da SOBRAPO e da Pesquisa Operacional no Brasil, mostra com suficiente detalhe a criação da Sociedade, sua expansão no Brasil e suas formas de abordagem de problemas. Um exame desse trabalho mostra que a Pesquisa Operacional é uma atividade consolidada, viva e pujante, o que é anualmente revelado através dos simpósios realizados. Observa-se que ela tem crescido apesar de ter sido constatado que o número de equipes especializadas de Pesquisa Operacional ter sido diminuído significativamente. Isso mostra que a atividade está bem disseminada nas instituições de forma orgânica, não exigindo a constituição de núcleos especializados.

Poderia falar durante algum tempo sobre o que foi realizado, mas prefiro tentar fazer uma breve incursão sobre o futuro da atividade.

Acredito que, no futuro, a atividade de Pesquisa Operacional possa ter que enfrentar categorias de problemas nas organizações, tanto públicas como privadas, muito mais desafiadores, complexos e desestruturados que os até então encontrados nas aplicações mais tradicionais. Estou me referindo aos tipos de problemas que a literatura caracteriza como abordagem não tradicional, como PO soft e outras, conforme relatado no citado trabalho sobre os Cinquenta anos da Pesquisa Operacional no Brasil.

Isso porque o modelo de desenvolvimento até então adotado pela maioria das nações está perto do fim, por força do esgotamento dos recursos naturais de diversas naturezas, o aumento da poluição em termos mundiais e inúmeras distorções que são observadas nas condições sociais das populações, trazendo como consequência a necessidade de reformulação do crescimento econômico para um modelo que garanta sua sustentabilidade, deslocando assim o eixo da atividade humana da priorização quase que absoluta para a acumulação de riqueza material em favor de outros sistema de valores que contemplem o bem-estar das populações e uma melhor distribuição dessa riqueza. Como corolário dessa mudança, podemos citar a necessidade da quantificação do custo/benefício da concretização de qualquer novo projeto ou atividade de grande porte que mandatoriamente leve em conta o seu efeito sobre a disponibilidade desses recursos e também sobre a desestabilização do meio ambiente ou ainda sobre as condições de vida dos diferentes grupos de seres humanos envolvidos, para que decisões mais justas e sustentáveis sejam tomadas.

Outro aspecto a considerar é a forte interferência do desenvolvimento tecnológico sobre o mercado de trabalho, qualitativa e quantitativamente, tendo como um exemplo significativo a robotização, não só pela velocidade desse desenvolvimento, como pela dificuldade de implementação de políticas públicas que possam adaptar o mercado a essas mudanças tecnológicas no mesmo ritmo em que ocorrem.

Não menos impactante sobre a atividade humana e das organizações é o desenvolvimento também acelerado da Inteligência Artificial, que poderá interferir de modo ainda não avaliado sobre os processos decisórios das instituições e sobre a própria sociedade. Até então confinada a campos específicos de atividade, como a ciência médica, a provisão de energia limpa, problemas ambientais e outros, onde resultados muito auspiciosos foram obtidos, a Inteligência Artificial busca uma atuação de forma mais ampla, cujas consequências ainda não foram inteiramente mapeadas. Em um futuro não muito distante, um percentual crescente da atividade humana e das organizações será conduzido por algoritmos de IA. Mas esses algoritmos, interpretações matemáticas de dados observados, não explicam a realidade subjacente que os produz. A Inteligência Artificial é muito mais que um aperfeiçoamento da automação, que substitui a ação humana no controle da utilização e racionalização dos meios para a consecução de objetivos préestabelecidos. A IA passa a estabelecer os objetivos a partir de uma avaliação matemática dos dados que não pode levar em conta toda a realidade. Certamente a supervisão humana será necessária por um bom tempo e, para isso, será conveniente a constituição de equipes multidisciplinares, para poder levar em conta todos os aspectos pertinentes envolvidos.

Vivemos, também, a era da explosão dos processos de comunicação e da geração de informações de forma exponencial, sem uma preocupação ética compatível com os efeitos que isso está proporcionando, o que fica evidente com o crescimento das fake News, cada vez mais usadas como instrumento de ação política.

Mas esse mesmo processo de crescimento exponencial dos recursos de comunicação em massa têm contribuído positivamente para o aumento da conscientização dos direitos do cidadão, do respeito às minorias e do repúdio aos preconceitos e privilégios. Subjacente a todo esse processo, há também um crescimento lento, mas inexorável, da valorização da confraternização universal, como única forma sustentável de relacionamento entre os seres humanos compatível com a liberdade.

Considerando que as aplicações de Pesquisa Operacional pressupõem a constituição de equipes multidisciplinares para a solução dos problemas organizacionais, usando o método científico, essa experiência poderá ser de grande valor para o enfrentamento dessa categoria de problemas complexos que poderão levar à desestabilização do mundo civilizado se não forem equacionados nas próximas décadas.

O uso de modelos e ferramentas científicas, o que aliás já vem sendo feito, ajuda a demonstrar que o planeta e suas populações estão sendo grandemente prejudicados pelo sistema estabelecido que prioriza os ganhos financeiros sobre os demais valores, mas os interesses envolvidos dificultam a aceitação dessas advertências.

Mas sociedades científicas como a Sobrapo, ao realizar conclaves como o presente simpósio certamente estão ajudando a disseminar informações importantes de interesse público e formadoras de opinião. O tema escolhido, sobre cidades inteligentes, envolvendo planejamento urbano, fontes renováveis e distribuição de recursos está intimamente relacionado aos problemas de grande impacto a que nos referimos.

Há, portanto, razões para sermos otimistas e para confiarmos na capacidade de superação do ser humano. Nestes tempos de fake News, em que fronteiras éticas estão sendo derrubadas, talvez como uma forma de manter privilégios a qualquer custo, soam muito oportunas as palavras de Cristo de que a verdade nos tornará livres. Adaptando-as para o contexto desta fala, o emprego de ferramentas científicas aliado à criatividade do espírito humano e ao amor ao próximo podem oferecer resultados que nos aproximem mais da verdade, deixando a todos mais libertos dos condicionamentos estabelecidos pelos interesses que estão sendo afetados e assim decisões mais adequadas ao interesse coletivo possam ser tomadas.

São essas as considerações sobre o futuro da atividade que gostaria de trazer para vocês. Claro que não estarei aqui neste mundo para conferir as afirmações feitas. Essa tarefa fica a cargo dos profissionais mais jovens aqui presentes que poderão elaborar o trabalho da história dos cem anos da Pesquisa Operacional no Brasil, se as respectivas sociedades de Pesquisa Operacional e a brasileira ainda existirem nas condições em que as conhecemos hoje. E talvez nem sejam os profissionais e sim robôs que façam esse trabalho, a conferir.

Mas não foi minha intenção a de acertar os prognósticos e muito menos esgotar um assunto de tamanha complexidade e sim mostrar as oportunidades existentes para os profissionais que trabalham em Pesquisa Operacional que, por seu conhecimento e experiência, poderão também contribuir de forma positiva para a solução dos problemas que já afetam nosso planeta e suas populações e que, no futuro, o farão de forma cada vez mais intensa.

Desejo a todos boa sorte e sucesso nesse empreendimento.

Obrigado pela atenção.

Prof. Dr. Roberto Gomes da Costa