Anais do Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva
Anais do 12º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva

Período de Realização
Experiência em andamento desde outubro de 2017 até o presente momento.


Objeto da Experiência
Grupo terapêutico desenvolvido por uma equipe do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) com uma Unidade de Saúde da Família (USF) em Recife-PE.


Objetivos
O presente relato busca problematizar conexões existentes entre desenvolvimento da obesidade e opressões de gênero identificadas no acompanhamento de um grupo terapêutico junto as obesas graves de uma USF.


Metodologia
O grupo terapêutico se estabeleceu a partir da identificação do grande número de obesas graves (IMC > 40kg/m2) acompanhadas pela USF através da parceria intersetorial entre equipes de saúde (eSF e NASF), Programa Academia da Cidade e uma igreja da comunidade. Logo, foi proposto o acompanhamento contíguo através de encontros mensais com abordagem sobre obesidade (em suas dimensões clínica, emocional, social) agregada aos objetivos de incentivo do autoconhecimento e desenvolvimento pessoal.


Resultados
Os relatos compartilhados revelaram que para algumas delas a obesidade foi desencadeada enquanto consequência de um histórico de violência e opressão de gênero que as levou ao quadro de ansiedade e compulsão alimentar. As falas apontaram a opressão em diversas dimensões e a alimentação compulsiva como forma de compensação aos problemas sofridos, o que gerou novos problemas (distúrbios clínicos, baixa estima, humor depressivo, distorção da imagem corporal) sob um ciclo nocivo de sobrevivência.


Análise Crítica
A questão da obesidade sob o recorte do gênero ressalta que as iniquidades e atribuições de gênero determinam uma identidade feminina da obesidade. A realidade analisada se agrega os achados de estudos diversos sobre os fatores associados à obesidade em mulheres pobres ao destacar a multiplicidade de tarefas que estas assumem em um contexto de escassez, e particularmente, neste caso, sob o jugo da violência de seus parceiros e familiares, como maioria das mulheres adultas violentadas no Brasil.


Conclusões e/ou Recomendações
O compartilhamento das histórias destas mulheres demonstra a importância dos estudos feministas e de gênero serem considerados nas análises sobre obesidade, para além da discussão dos padrões hegemônicos de saúde e beleza instaurados sobre o corpo feminino. Trata-se de reconhecer o processo terapêutico como um espaço de empoderamento da mulher na construção do seu autocuidado, na criação de estratégias de motivação e enfrentamento dos problemas.