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Apresentação/Introdução
A migração pode afetar as decisões reprodutivas, com acesso diferenciado aos serviços de saúde e mudança nas condições econômicas e nas normas sociais. Migrantes da África Subsaariana que vivem na França vêm de países com maior taxa de fecundidade que a do país de destino. Também, o acesso à contracepção e ao aborto são diferentes, seja quanto às condições legais, o custo e a disponibilidade.
Objetivos
Descrever as mudanças na prática de aborto ao longo da trajetória migratória e investigar a associação entre migração e aborto induzido entre mulheres originárias da África Subsaariana, vivendo em Île-de-France (região metropolitana de Paris).
Metodologia
Foram analisados dados do estudo ANRS Parcours, uma pesquisa retrospectiva, realizada entre 02/2012 e 05/2013, que investigou os principais eventos da vida de mulheres migrantes da África Subsaariana, vivendo em Île-de-France. O recrutamento se deu em centros de atenção primária à saúde. A proporção de gestações findadas em aborto foi descrita de acordo com sete períodos em relação à migração (sete anos ou mais antes, de seis a três anos antes, de dois a um ano antes, no ano da migração, de um a dois anos após, de três a seis anos após e sete anos ou mais após a migração) e a associação entre aborto e migração foi avaliada utilizando modelos de Equações Estruturadas Generalizadas (GEE).
Resultados
Entre as 353 participantes, 34,1% relataram ter tido ao menos um aborto induzido em suas vidas. Das 1377 gestações investigadas, 13,1% terminaram em aborto, 15,6% antes e 11,0% após a migração (p=0,011). Houve um aumento na proporção do aborto no período imediatamente anterior à migração (um a dois anos antes), seguido de uma diminuição logo após a chegada à França (um a dois anos após). Na análise multivariável, a prática do aborto foi menos freqüente após a migração (OR 0,53; IC95% 0,31-0,92). No entanto, essa associação deixou de ser significativa após a inclusão da variável intenção da gravidez foi incluída no modelo.
Conclusões/Considerações
A proporção de gravidezes terminadas em aborto é maior nos países de origem que na França, reforçando que a ilegalidade não coíbe o aborto. Há uma mudança na intenção da gravidez após a chegada na França, que torna não significativa a associação entre migração e aborto. Assim, as condições socioeconômicas, as normas culturais e o acesso aos métodos contraceptivos têm mais influência no desfecho de uma gravidez que a interdição legal ao aborto.
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