O DISCURSO POLÍTICO DA EXTREMA-DIREITA BRASILEIRA NA ATUALIDADE

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Detalhes
  • Tipo de apresentação: Simpósio Temático
  • Eixo temático: ST4 - ACONTECIMENTO E ARGUMENTAÇÃO: POLÍTICAS DISCURSIVO-ARGUMENTATIVAS DO ÓDIO
  • Palavras chaves: Discurso Político; Extrema Direita brasileira; Interdiscurso; Argumentação; O DISCURSO POLÍTICO DA EXTREMA-DIREITA BRASILEIRA NA ATUALIDADE;
  • 1 Departamento de Letras, Artes e Cultura / Programa de Mestrado em Letras: Teoria Literária e Crítica da Cultura / Universidade Federal de São João Del Rei

O DISCURSO POLÍTICO DA EXTREMA-DIREITA BRASILEIRA NA ATUALIDADE

Argus Romero Abreu de Morais

Departamento de Letras, Artes e Cultura / Programa de Mestrado em Letras: Teoria Literária e Crítica da Cultura / Universidade Federal de São João Del Rei

Resumo

No presente estudo, almejamos compreender a atual movimentação simbólica dos grupos sociais considerados mais extremistas na direita política brasileira, os quais têm conseguido se afirmar com bastante representatividade no debate público no país. Para tanto, investigaremos a organização interdiscursiva e argumentativa dos posicionamentos de um dos principais representantes da extrema-direita brasileira, o antigo Deputado Federal e atual Presidente da república Jair Messias Bolsonaro (Partido Social Liberal–PSL). Nesse intuito, inicialmente, definiremos o que entendemos por extrema-direita política brasileira na atualidade; em seguida, caracterizaremos seu discurso como uma interface entre interação discordante, nos termos de Emediato (2011), e discurso intolerante, conforme proposta de Barros (2007); por fim, analisaremos o corpus selecionado. Para Arantes (2014, p. 1), as manifestações de junho de 2013 foram responsáveis pela eclosão do que chama de “Nova Direita” no Brasil, isto é, “uma direita não convencional, que não está contemplada pelos esquemas tradicionais da política”, almejando evitar qualquer mudança no status quo da sociedade brasileira. Ribeiro (2015), por sua vez, assevera que, enquanto o diálogo é possível entre grupos moderados de direita e de esquerda, o extremismo político inviabiliza qualquer tentativa de construção de uma pauta comum. Löwy (2015, p.663) ressalta que, no Brasil, diferentemente da Europa, não existem partidos políticos constituídos exclusivamente em torno de pautas raciais, de modo que “o elemento mais preocupante da extrema-direita conservadora no Brasil, que não tem um equivalente direto na Europa, é o apelo aos militares”. Apesar disso, atualmente, haveria duas semelhanças entre ambas as realidades, quais sejam: (i) a ideologia repressiva, expressa pelo culto à violência policial, a qual, no Brasil, é representada institucionalmente pela denominada “Bancada da Bala”; (ii) a intolerância com as minorias sexuais, com forte referência católica na França e evangélica, no Brasil. Para Chauí (2016), a expansão dos grupos radicais de direita no país está vinculada a um movimento pouco percebido dentro do fenômeno mais complexo das manifestações de junho de 2013, demonstrado tanto pela aceitação crescente de pautas ultraconservadoras pela opinião pública quanto pelo aumento da sua representatividade institucional na política brasileira. Como corpus, selecionamos o voto de Jair Bolsonaro proferido na Câmara dos Deputados na época em que era parlamentar, no dia 17 de abril de 2016, na sessão que aprovou a abertura do processo de impeachment da então presidente da república, Dilma Rousseff (Partido dos Trabalhadores–PT), e três enunciados publicados em seu perfil oficial na rede social Facebook.

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Autor

Argus Romero Abreu de Morais

Muito obrigado, Luciana!

Você colocou muitas questões interessantes! Sempre bom refletir sobre o próprio trabalho a partir da perspectiva do "outro". 

Vou responder em tópicos:

1) "Você nos mostra em seu trabalho como a extrema-direita brasileira se utiliza do discurso de ódio para anular o outro, certo? De certa forma, seu trabalho dialoga um pouco com o trabalho de Tiago e Aracy Ernst, como eu comentei lá também, já que os dois trabalhos se dedicam à compreensão dos processos discursivos da extrema direita brasileira".

R: Sim, gostei bastante da pesquisa do Tiago e da Aracy. Em especial, fiquei interessado no conceito de "cinismo" como desenvolvido pela profa. Aracy. Devo incorporá-lo nos meus próximos textos. Há um capítulo meu no prelo que deverá sair em breve no qual analiso a relação entre antipolítica e o negacionismo na pandemia do Covid no Brasil. Utilizei nele o conceito de "cinismo", mas com base na definição da Márcia Tiburi. A meu ver, a perspectiva da Aracy avança na descrição linguístico-discursiva do fenômeno, sendo bastante produtivo para estudos no nosso campo. Acho que dá para produzir um bom diálogo entre as abordagens.  

2) Você poderia fazer uma relação com a emergência do discurso da TFP (Tradição, Família, Propriedade) no material que você analisa? Como a memória desse discurso comparece na atualidade?

R: Sim, excelente questão. Em um texto de 2018, "Estética da intolerância" (https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/rua/article/view/8653498), fiz uma análise mais panorâmica dos diversos movimentos autoritários no Brasil desde a década de 1930, começando com o Fascismo e o Nazismo. Na década de 1960, surge a TFP, a qual se aproxima mais da perspectiva integralista da década de 1930 do que do viés neoliberal da atualidade. Liberdade, nesse discurso, estava mais vinculado ao direito à propriedade e à família, de modo que, curiosamente, as estruturas de mercado eram criticadas, pois poderiam "desconstruir" as relações de poder nas famílias patriarcais, com as mulheres indo para o mercado de trabalho, por exemplo. O atual presidente brasileiro, quando começa sua carreira política, parece se vincular com mais clareza ao discurso da TFP, mas, a partir da última campanha presidencial, passa a dialogar com mais força com o capital financeiro, a fim de ganhar o apoio dos grupos empresariais nacionais e internacionais e do "rentismo de mercado". É por isso que preferi colocar a expressão "(neo)liberalismo", com Neo entre aspas, no intuito de dizer que há uma descontinuidade entre liberalismo clássico e neoliberalismo e que há, de certo modo, uma relação contraditória entre os distintos grupos que compõem isso que chamamos de extrema-direita brasileira. No "Estética da Intolerância", digo que a extrema-direita política brasileira funciona como uma espécie de "jogo de linguagem", no sentido de Wittgenstein, e através de uma relação de contradição e subordinação, no sentido de Hall.     

3) Muito interessante a análise de como se define quem é a população de bem, ou o “cidadão de bem”.

R: Retiro o conceito de "cadeias semânticas" do Stuart Hall (Da diáspora). Eu a considero uma ferramenta teórico-analítica bem produtiva. Tenho desenvolvido análises através dela desde o meu mestrado, de 2008 a 2010, começando com o debate sobre o "discurso da inclusão social", passando pelos "imaginários sobre o Nordeste brasileiro" e chegando à extrema-direita e aos discursos de ódio na atualidade.  

4) Por fim, se você puder, gostaria de ouvir mais sobre o que você define como “a harmonia paternalista corporativa/hierárquica entre os grupos sociais” já no finalzinho do vídeo. E como você compreende o que se chama de “nova direita” no Brasil? (entrando um pouco nas reflexões de Löwy) Podemos colocar um “sinal de igual” entre “nova direita” e extrema direita”? 

R: Com relação à primeira parte, a harmonia paternalista corporativa/hierárquica se pauta, grosso modo, na ideia de que, assim como os órgãos do "corpo humano", o "corpo social" possui uma divisão estanque em que cada grupo possui a sua funcionalidade, assemelhando-se a uma estrutura natural. É um pensamento bastante antigo e atravessa toda a Idade Média. É como se fosse possível definir as funções sociais e suas hierarquias de acordo com "desígnios naturais ou divinos", modo pelo que poder-se-ia manter a "harmonia social". 

Com relação à segunda parte, há um intenso debate sobre como definir esses grupos. Pode-se considerar que os termos possuem uma relação de igualdade sim. Referem-se aos mesmos grupos. Apesar disso, tenho preferido a categoria Extrema Direita a Nova Direita. De um lado, por achar que ela não é "tão nova" assim, trata-se de um conjunto de retomadas históricas somadas - certamente - a um conjunto de contingências dos nossos tempos, como é o caso do neoliberalismo; de outro, pela possibilidade de criar uma certa escalaridade no espectro político, de "radicalização" de determinadas perspectivas políticas que circulam de forma mais ampla na sociedade. É uma visão de momento e pode ser que a pesquisa me leve ao outro conceito, Nova Direita, ou mesmo a algum outro (apesar de não gostar tanto do uso desenfreado, temos que pensar na validade de conceitos como Populismo, Nazismo e Fascismo). 

Ah, o texto do Löwy no qual me baseio chama-se "Conservadorismo e extrema-direita na Europa e no Brasil" (https://www.scielo.br/pdf/sssoc/n124/0101-6628-sssoc-124-0652). 

Grande abraço!

 

 

 

 

Luciana Nogueira

Oi, Argus, muito obrigada pelas respostas tão elaboradas. Quanto ao ponto 1, creio que podemos avançar na discussão sobre o conceito de cinismo também no próprio simpósio. Thales e Elisa trabalham com o conceito citando a tese de Patrícia Di Nizo, bem interessante também. Depois quero conhecer o seu trabalho no prelo que você menciona. Quanto ao ponto 2, certamente vou ler o artigo que você cita em que menciona o discurso da TFP. Interessante esse deslocamento no discurso bolsonarista que você aponta, indo mais para o (neo)liberalismo. Em que medida isso também poderia se constituir, em partes, como uma (re)atualização do discurso da TFP? Não sei.

Ponto 3: ok sobre o conceito de cadeias semânticas. E quanto ao ponto 4, acredito que possamos conversar mais no simpósio sobre essas definições: extrema direita, nova direita, fascismo, neofascismo. Agradeço por colocar a referência do texto do Löwy. Abraços!