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Argumentação e Certeza
Helton Menézio Urtado Rocha
Universidade Estadual de Campinas
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CERTEZAS SOBRE MULHERES ASSEDIADAS E SEUS EFEITOS DE SENTIDOEste trabalho toma como objeto a designação da palavra ‘piriguete’ no Dicionário inFormal e analisa a construção da certeza do perigo como um efeito de sentido relacionado ao discurso machista. Segundo Elias de Oliveira (2014a, 2018), o Dicionário inFormal é um instrumento linguístico que faz parte de um novo modo de lexicografia, no qual o lugar social de lexicógrafo é ocupado pelos falantes. Um exemplo desse novo modo de lexicografia é o acúmulo de verbetes: todos os verbetes propostos (e aceitos) para a mesma entrada são publicados. Assim, encontramos 62 verbetes para ‘piriguete’, publicados entre 2007 e 2019 por diferentes falantes, que, em sua grande maioria, (re)produzem juízos de valor negativos sobre a mulher. Trata-se de verbetes cujas definições trazem, em alguns casos, a certeza do perigo como um efeito de sentido relacionado ao discurso machista. O presente trabalho, partindo de uma posição epistemológica materialista sustentada teórico-metodologicamente na relação entre a Semântica da Enunciação e a Análise de Discurso francesa, toma a linguagem em seu funcionamento político, funcionamento esse que constitui as divisões e as disputas pelo sentido (GUIMARÃES, 2002, Semântica do Acontecimento; ELIAS DE OLIVEIRA, 2014b, Sobre o funcionamento do político na linguagem). Tendo como objeto a designação da palavra ‘piriguete’ no Dicionário inFormal, objetivamos investigar, de um lado, quais são os mecanismos argumentativos usados na construção da certeza do perigo em torno da palavra ‘piriguete’ no Dicionário inFormal; de outro, objetivamos investigar se esse efeito de sentido da certeza do perigo está relacionado ao discurso machista. O sentido, para nós, se dá a partir do modo como a palavra ‘piriguete’ integra um enunciado, “enquanto elemento de um texto” (GUIMARÃES, 2002, Semântica do Acontecimento, p. 26). Considerando a designação como uma “relação lingüística (simbólica) remetida ao real, exposta ao real, ou seja, enquanto uma relação tomada na história” (id., ibid., p. 9), este trabalho partirá do acontecimento enunciativo das designações, levando em conta, de um lado, a “língua e o sujeito que se constitui pelo funcionamento da língua na qual enuncia-se algo”; de outro, levará em conta a temporalidade do acontecimento enunciativo e o “real a que o dizer se expõe ao falar dele” (id., ibid., p. 11).
PALAVRAS-CHAVE: Piriguete. Certeza. Enunciação. Discurso.
Renata Ortiz Brandão
Olá, Helton! Muito interessante o seu trabalho, parabéns pela defesa! Estava te ouvindo e fiquei pensando nas reflexões que a Silvia Federici faz em Calibã e a bruxa. Ela apresenta a estreita ligação entre a formação do capitalismo e a discriminação e invisibilização das mulheres na sociedade. Analisando a Europa pré-capitalista a partir de uma concepção marxista, a filósofa aponta que a acumulação primitiva de capital destruiu o universo das práticas femininas, com suas relações coletivas e sistemas de conhecimento, que iam desde a produção de bens de consumo para a própria família e para a comunidade local ao domínio de métodos contraceptivos e abortivos. Como consequência direta dessa destruição, Federici aponta que, na sociedade capitalista, o papel da mulher passa a ser o da reprodução geracional de trabalhadores para o mercado (gravidez) e a regeneração cotidiana da capacidade do trabalho (cuidados para o sustento da vida humana: alimentação, higiene, educação, apoio psicológico). Desse modo, mesmo excluída e alienada do mundo do trabalho, a mulher o sustenta indiretamente. Seu corpo é o lugar de alienação fundamental. Federici aponta ainda que, como consequência desta alienação, faz-se necessário, na lógica do capitalismo, o controle do Estado sobre os corpos das mulheres a fim de assegurar o trabalho reprodutivo, o que se deu, ao longo da história, por meio da criminalização de métodos contraceptivos e do aborto. Isso me fez pensar que os sentidos de piriguete estão relacionados a essa memória de controle do corpo: se a função do corpo é manter um dado sistema de produção, qualquer divergência disso é indício de subversão, de má conduta, e portanto deve ser extirpado da sociedade. E ao mesmo tempo, quando "elogiada", segue reificada, um objeto de desejo e de consumo. Me parece que, no fundo, a luta é sempre anti-capitalista... rs
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Helton Menézio Urtado Rocha
Obrigado pelo comentário e pela indicação de leitura, Renata. Gostei dela. Assim que puder, vou checar.