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O que a tradução pode nos ensinar sobre a interpretação: uma análise de The Handmaid's Tale
Laís Callegaro Fritzen
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Agora você poderia compartilhar comigo suas dúvidas, observações e parabenizações
Crie um tópicoAna Zandwais
Parabéns pelo trabalho, Laís.
Ouvindo tua apresentação, me ocorreu de fazer a seguinte pergunta: quando refletes sobre perdas no trabalho tradutório (no caso da tomada de empréstimos na constituição dos nomes "offred,Ofglen,etc - poderias dizer que as perdas de sentidos estão mais ligadas à equivalência entre as palavras ou à compreensão dos leitores?
Cristiane Lenz
Olá, Laís! Gostei muito de assistir ao seu trabalho e pude compreender o alcance do tema da tradução no que tange às questões de interpretação. A sua análise do funcionamento do pronome "They" me fez pensar sobre a incidência da interpretação sobre a tradução dos artigos em inglês e também de outros pronomes que possam remeter a mais de um referente. Neste caso, você considera que o trabalho do tradutor se assemelha ao movimento do leitor que interpreta a partir de uma determinada posição? Um abraço!
Laís Callegaro Fritzen
Oi, Cris! Fico feliz que o trabalho tenha cumprido seu propósito e mobilizado novas questões.
Eu acredito que o trabalho do tradutor sempre se assemelha ao do leitor, que lê e interpreta para produzir a tradução a partir de determinadas posições. No caso dos pronomes e artigos que podem remeter a referentes diferentes, o sentido é dependente do nível estrutural e altamente contextual (a linearização do texto), mas também se produz na interpretação mobilizada pelo exterior que se atravessa na língua, como no exemplo do "they", que resultou em traduções diferentes. Do mesmo modo, acredito que quanto menos disporem de relações em sua linearização, mais abertos à interpretação do tradutor os pronomes e artigos serão.
Quanto à posição assumida pelo tradutor, apesar de considerar que ela está sempre imbricada na tradução, é preciso admitir que raras vezes é possível analisá-la, devido à ausência de prefácios, notas de abertura, comentários do tradutor, entre outros, que possibilitam conhecer um pouco sobre como se deu o processo de tradução e como o tradutor se inscreve nesse processo. Além disso, o processo de tradução, principalmente de obras literárias, costuma envolver outros sujeitos que revisam e editam o material, tomando decisões, a partir de determinadas orientações, que também afetam a prática tradutória. Espero ter conseguido desenvolver um pouco mais sobre o que não pôde ser abordado na apresentação.
Abraço!
Gesualda Rasia
Oi, Laís, estou escutando seu trabalho encantada! Parabéns! A tradução não é meu campo de estudos, e aprendi um monte com sua pesquisa! Também me instigou muito sua análise acerca da opacidade do sentido na tradução do pronome "They", ambiguamente traduzido por eles e elas, e autorizado pela língua de partida. Aí, na sua análise você traz o seguinte comentário: Na tradução de Serra, quem seriam "elas" , seriam as esposas? Na tradução de Deiró, quem seriam "eles" ? Seriam todos aqueles que estão em posição de superioridade? Engloba as esposas também? Você produziu, aí, um gesto que não é só de análise mas também de leitura. E aí fiquei pensando na co-participação do leitor na produção de sentidos nesses espaços intervalares e opacos que abrem para a interpretação no campo da tradução. Você poderia falar um pouquinho sobre isso?
Laís Callegaro Fritzen
Olá, prof.ª Gesualda! Fico muito feliz que minha pesquisa seja instigante e que tenha provocado novas questões!
Gosto de pensar que os sentidos em tradução se constituem em dois movimentos: um do tradutor que realiza a leitura e interpreta produzindo a tradução, e outro do leitor da tradução, que também interpreta. Assim, considero minha pesquisa no intervalo, o entremeio entre um movimento e outro. Para além disso, pode-se pensar que o leitor tem um duplo papel na produção de sentidos: por um lado que diz respeito à preocupação do tradutor com a adequação da tradução perante o público-alvo idealizado no projeto de tradução (pensando principalmente no caso das traduções literárias), e aqui entram questões de ordem histórica e ideológica que dizem sobre o que pode ser dito e onde pode ser dito; e por outro lado que diz respeito à impossibilidade de controle dos sentidos, que se produzem no leitor à revelia do que o tradutor possa intencionar. Embora a exposição não tenha sido sob este enfoque do leitor, perguntas como "quem são eles?" e "quem são elas?" ajudam a estabelecer o movimento de análise para esse ponto de entremeio, já que diferentes escolhas tradutórias - eles/elas - podem tanto ter sido o resultado de uma tentativa de controle quanto ter "escapado" à intenção do tradutor. Arrisco dizer, portanto, que as traduções de Serra e Deiró à medida que partem de interpretações que se revelam através de escolhas diferentes, produzem, por sua vez, sentidos outros nos leitores que também interpretam.
Não sei se consegui desenvolver com muita profundidade porque são questões pouco trabalhadas nessa perspectiva e que envolvem vários aspectos, então fico à disposição para novas considerações. Abraço!
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Laís Callegaro Fritzen
Agradeço as considerações, prof.ª Ana!
Quando abordo as perdas, faço uso de um raciocínio que possibilita desvelar a impossibilidade de equivalência plena entre as palavras. Alinhada aos pressupostos teóricos, essa impossibilidade não se dá na estrutura da língua, ainda que a estrutura dê conta de uma certa estabilidade, mas justamente pela compreensão dos leitores que, assujeitados historicamente e ideologicamente, conferem sentido pelo modo que estão identificados a determinadas formações discursivas. Podemos pensar que o sentido evocado na relação estabelecida entre a situação de posse para um fim da aia e a estrutura utilizada para denominá-la, Offred, Ofglen etc., esteve transparente para uma tradutora e opaco para outra, de modo que se produziram traduções diferentes. A tradução, assim, não pode ser entendida como uma simples reprodução entre línguas diferentes, pois resulta de uma compreensão marcada historicamente e ideologicamente.