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O ENSINO DE TEXTO ARGUMENTATIVO NO BRASIL E A IDEOLOGIZAÇÃO DAS TÉCNICAS LINGUÍSTICO-COGNITIVAS
Luciano Novaes Vidon
Universidade Federal do Espírito Santo
Agora você poderia compartilhar comigo suas dúvidas, observações e parabenizações
Crie um tópicoAna Zandwais
Caro Luciano, belíssima apresentação. Parabéns.
Pensei em levantar uma questão para fins de debate na quinta. Refletindo sobre o modo como a redação do ENEN e outras são tratadas como técnicas,
como você entende que o tratamento da redação enquanto uma produção que envolve relações de subjetividade e questões históricas, sociológicas
poderia ser reavaliado pelas políticas educacionais? Parabéns Ana Zandwais
Cristiane Lenz
Olá, professor Luciano! Gostaria de agradecer pela sua apresentação, pude refletir sobre alguns aspectos da construção do currículo escolar no que diz respeito ao ensino de língua materna. Pelo que pude compreender, a visão de língua no manual de redação em questão tem como foco o desenvolvimento de um conceito de texto técnico, desconsiderando as possibilidades de expressão artística e cultural através da língua escrita. Gostaria de perguntar se você entende que isso teria relação com o conceito de língua como "instrumento de comunicação" que, conforme o início da sua apresentação, seria o conceito apresentado pela LDB 5692.
Luciano Novaes Vidon
Obrigado, Cristiane, pela interação e pela pergunta. Você tem razão: essa visão tecnicista e cognitivista de redação se coaduna muito bem com a concepção instrumental de língua, presente nos documentos do MEC, e, naquele momento, ainda muito forte na Linguística. Penso que ainda hoje essa concepção instrumental é muito comum, em especial nos cursinhos pré-vestibular, cursinhos de redação, e, com o avanço da prova do Enem, no ensino fundamental e médio, principalmente nas escolas privadas, mas não só. Minha preocupação é a seguinte: em que medida o foco da BNCC em habilidades e competências pode recuperar ou reforçar essa visão instrumental, funcional, formalista de língua e texto, indo de encontro à visão discursiva, sócio-histórico do Círculo de Bakhtin.
Cristiane Lenz
Obrigada pela resposta, prof. Luciano. Este debate sobre a visão de língua na BNCC é muito importante, pois a BNCC está fortemente presente nas escolas, na construção dos currículos e nas práticas pedagógicas. Vejo que há muitos cursos e palestras sobre a BNCC no interior da instituição escolar, mas apenas com foco na sua "aplicação", e não de forma crítica, que possibilitasse pensar nas suas repercussões a partir do conceito de língua adotado. O seu trabalho contribui muito para suscitar essas discussões em torno da BNCC. Um abraço!
Gesualda Rasia
Receba meus parabéns pelo trabalho forte e relevante, Luciano!
Inicialmente, gostaria de te pedir a referência do teu trabalho, o de 2019, no qual você reporta à redação escolar como "modelo de raciocínio lógico, forma de expressão das ciências e não das artes, dotada de reflexo e não de refração."
Gostaria também de te ouvir acerca do que você pensa do que alguns autores propõe da redação escolar (dissertação do tipo ENEM) como gênero discursivo - "gênero redação escolar", haja vista que, bem ou mal, cumpre uma função histórico-social (cristalizada, já, inclusive), de preparo (ainda que técnico) para a escrita e como decorrência possível, de acesso ao ensino superior.
Luciano Novaes Vidon
Olá, Gesualda. Saudades de ti. Obrigado pela questão. Esse meu artigo de 2019 foi publicado na Conexão Letras: https://seer.ufrgs.br/conexaoletras/article/view/98123
Quanto à sua questão, é um ótimo ponto. A concepção subjacente à proposta de redação do Enem, presente no Guia do Inep, é tipológica. No entanto, enquanto enunciado concreto, os textos produzidos pelos candidatos são, sem dúvida, pertencentes a um gênero do discurso, que tem uma historicidade e uma ideologicidade, ou seja, reflete e refrata um conjunto de valores, "modernos", diga-se de passagem. Uma questão problemática, especialmente para o ensino, é a sobreposição desse gênero a outros, como os literários, os da oralidade, os do cotidiano, fazendo crer na superioridade desse gênero em relação aos demais, e na superioridade dos sujeitos produtores desses gêneros em relação aos sujeitos produtores dos outros gêneros. Abraços! Espero revê-la em breve!!
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Luciano Novaes Vidon
Obrigadi, Ana. Acho que esta sua pergunta e minha discussão neste trabalho dialogam muito com o trabalho apresentado por você neste evento. Pensar a produção textual na perspetiva discursiva materialista, conforme Volochinov, Bakhtin, Jakubinski, Medviedev é fundamental para sairmos dessa "armadilha" objetivista-abstrata e, ao mesmo tempo, subjetivista-idealista, que o modelo Redação do Enem nos coloca. O gênero dessa produção é elitista e atende a interesses da classe hegemônica, que se pauta por valores racionalistas/cognitivistas, meritocráticos, tecnicistas. Podemos conversar mais sobre esses pontos no momento sincrono do simpósio. Forte abraço!