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EXPRESSÕES CRISTALIZADAS NA POLÊMICA DO ESCOLA SEM PARTIDO
Diogo Caetano Neto
Universidade Estadual de Campinas
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Crie um tópicoA cristalização de expressões em discursos com caráter doutrinário é um fenômeno que colabora para a construção do ethos do enunciador, reforçando sua posição diante do tema explorado no enunciado (Krieg-Planque, 2010). As polêmicas públicas, já tematizadas por autores como Maingueneau (2005) e Amossy (2017), não raro incluem casos de cristalização e, também por isso, se configuram como um campo fértil para o trabalho do analista do discurso. A polêmica sobre o Escola Sem Partido (ESP), que será a fonte do corpus aqui analisado, se iniciou em 2003 quando um procurador do estado (SP) publicou em um site textos que, segundo ele, representavam os pais e estudantes contrários à “doutrinação ideológica” nas escolas. A proposta era transformar em lei a afixação de um cartaz nas salas de aula com o que chamava de “Deveres do Professor”, uma sequência de proibições visando a regrar a atividade de tal profissional. Ao longo dos anos, essa polêmica extrapolou a discussão sobre os limites da atuação do professor, enveredou para os campos legislativo e jurídico e ganhou contornos mais amplos de difícil delineação figurando, inclusive, no centro de acontecimentos como a ordem do prefeito do Rio de Janeiro de recolhimento de revistas em quadrinhos na bienal do livro de 2019. Em meio ao vasto material que circula no espaço público sobre tal polêmica, é possível encontrar repetições de expressões nominais como “liberdade de cátedra”, “pluralidade de ideias”, “ideologia de gênero” ou os próprios nomes do projeto “Escola Sem Partido” e de seu rival “Escola Sem Censura”, apresentado em casas legislativas para, segundo seus defensores, assegurar uma atividade docente “livre de vigilância”. Diferentemente dos chamados “segmentos livres” (Krieg-Planque, 2018), as expressões cristalizadas estabelecem outras formas de relações sintáticas, semânticas e discursivas com as demais partes dos enunciados e mesmo do interdiscurso por terem que ser lidas em blocos que remetem a uma memória específica de um certo campo, tema ou, no nosso caso, de uma certa polêmica. O presente trabalho se propõe a investigar em que medida as cristalizações mais recorrentes no corpus em questão marcam e são marcadas por lugares de inscrição, posições sociais e ideológicas dos adversários nessa polêmica.
Helio Oliveira
Olá, Diogo! Parabéns pela apresentação, acho esse tema essencial (e urgente!) no Brasil de hoje. Por coincidência, também fiz uma pesquisa sobre o discurso do movimento Escola Sem Partido e descobri aspectos muito interessantes explorando o que eu chamo de "caráter memorial" das fórmulas discursivas. Por esse motivo faço esta sugestão, caso já não esteja trabalhando nisso: tente fazer um levantamento de quais memórias (e quais discursos) são recuperados / atualizados / presentificados nas fórmulas que circundam a "Escola Sem Partido", bem como quais memórias e discursos o movimento atua para apagar (por exemplo, eles tentam proibir que os professores falem sobre o ativista e seringueiro Chico Mendes nas aulas de Geografia!, ao mesmo tempo em que querem que o golpe militar de 1964 seja relembrado/ressignificado nas aulas de História). Em suma, dirigindo o olhar para aquilo que essa(s) fórmula(s) quer fazer lembrar ou esquecer pode render dados muito relevantes.
Um grande abraço e sucesso na pesquisa.
=)
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Diogo Caetano Neto
Olá, Hélio! Antes de mais nada, muito obrigado pelo comentário e pelas sugestões de enorme valor que me deu. Me sinto muito honrado pelo seu interesse em minha pesquisa. Sobre seu trabalho, eu não sei se você associou meu nome ao caso, mas sou o orientando do Sírio para quem você autorizou que ele passasse o texto ainda inédito (pelo que entendi) com o título "Escola é um lugar de política? Uma análise discursiva do 'Escola sem Partido'" em que analisa o ESP como fórmula. Gostei muito e já estou me baseando muito nele no capítulo em que trato da fórmula "ideologia de gênero". Agradeço muito pela gentileza de permitir meu acesso a ele e também pelo áudio que enviou a ele (e que ele me passou) comentando possibilidades de enfoques e buscas de corpus. Se não for muita ousadia de minha parte, gostaria de aproveitar para te fazer um convite. Estou na fase final de preparação de meu texto para qualificação no mestrado, devo entregá-lo em no máximo 10 dias. Comentei com o Sírio de convidarmos você para minha banca de quali e defesa, ao lado dele e do Márcio Gatti (que aliás está nesse simpósio aqui também). O Sírio achou a ideia muito boa. Podemos falar sobre isso? Um abraço!
Helio Oliveira
Olá, Diogo! Que bom que meu texto pôde contribuir com seu trabalho! Seria um prazer participar de sua qualificação, com certeza! Podemos manter contato por email, quando as datas estiverem definidas.
Um abraço.