Anais da III Jornada Internacional Semântica e Enunciação

A inserção do sujeito no mundo da escrita por meio do processo de escolarização materializa-se na demonstração de compreensões peculiares sobre a realidade apontando para uma diversidade de visões de mundo. Nessa perspectiva, ao considerar a relevância da escrita nas interações sociais humanas, utilizamos, nessa proposta, a Teoria da Argumentação na Língua do francês Oswald Ducrot (1989, 1998, 2002) em relações basilares com as propostas enunciativas benvenistianas para discutir a construção argumentativa em textos infantis. A utilização da semântica argumentativa em sua versão atual que coloca os blocos semânticos na busca de apontar um alinhamento na análise da enunciação explicando o sentido da linguagem fundamentado na relação do sujeito com a língua e com a cultura, nos levou a desenvolver um estudo descritivo da enunciação escrita de crianças em processo de alfabetização escolar no qual observamos o uso dos modificadores argumentativos: operadores que corroboram com o sentido do léxico em sua relação com os nomes, aumentando ou diminuindo sua força argumentativa. A importância dos modificadores se configura a partir de seu potencial argumentativo e justifica-se pelo fato dessa análise possibilitar uma orientação enunciativa enaltecendo a representatividade das concepções do locutor. Nosso objetivo principal é investigar a utilização dos modificadores argumentativos durante o processo de aquisição da linguagem escrita infantil, o que nos leva diretamente a uma análise dos modificadores marcados pelas escolhas enunciativas dessas crianças. Essa pesquisa realizou-se mediante a uma abordagem qualitativa, com coleta de dados do tipo transversal entre estudantes de uma escola pública do município de Cortês, estado de Pernambuco, em que foi solicitada, após a realização de oficinas motivadoras com leitura de paradidáticos e rodas de conversas, a produção escrita de um texto do gênero carta pessoal onde foram abordadas questões de relevância ética sobre valores de convivência social e por meio da qual as crianças puderam enunciar-se, demonstrando que no período de aquisição da escrita a língua já se apresenta a serviço do sujeito relacionando-o com o seu dizer. Assim, reconhecer a argumentação como algo inerente à língua nos leva a considerar que na enunciação argumentativa está marcada a própria existência do sujeito e por meio de nossas análises comprovamos que os textos infantis apresentam evidências que podem caracterizá-los como argumentativos, descrevendo as marcas da enunciação escrita que atestam a presença do homem na língua.