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Psicopatologia Fenomenológica como resgate das raízes humanístico-filosóficas da Psiquiatria

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Desde a confecção do DSM-III (1980), submeteu-se majoritariamente o pensamento psiquiátrico ao modelo médico causal em sua face neurobiológica reducionista. Tal hegemonia culminou com a refutação das raízes humanístico-filosóficas fundantes do campo psiquiátrico e psicopatológico.
A psicopatologia fenomenológica, historicamente inaugurada em 1922 com a apresentação de trabalhos de Binswanger (Sobre a fenomenologia) e Minkowski (Um caso de melancolia esquizofrênica), nasceu no cerne de tal tradição humanista. Desde o seu início, ergueu seus alicerces no trânsito ontológico-ôntico, equilibrando-se entre um norte filosófico e uma prática empírica. Esta psicopatologia exige a contínua ponderação entre uma tarefa eidética, que busca essências psicopatológicas, e o instanciamento das mesmas no sujeito.
As relações entre filosofia e psicopatologia, mais de implicação do que de pura aplicação (Tatossian, 2006), constituem-se bilateralmente. Por um lado, a filosofia oferece um corpo de conhecimentos ontológicos que podem nortear investigações psicopatológicas. Por outro, a psicopatologia teria a seu dispor condições privilegiadas para o estudo das condições de possibilidade da consciência humana. É fato que, na vigência de doença mental, as estruturas apriorísticas estariam mais à tona e propiciariam um momento ímpar para o entendimento das relações constituintes da consciência.
O objetivo deste trabalho é apontar que as bases humanístico-filosóficas, longe de encerrar uma clausura ideológica ou dogmática, devem ser vistas como a própria fundação dos campos psiquiátrico e psicopatológico. Acreditamos que a vertente fenomenológica da psicopatologia contém o melhor destas bases humanístico-filosóficas e pode ser a via de resgate dos bons fundamentos necessários para o desenvolvimento da prática clínica de todos aqueles que lidam com o adoecer mental.