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Fenomenologia e Ideologia: limites e tensões

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Na conferência “Os usos sociais da ciência”, Pierre Bourdie toma os “campos científicos” como um espaço de confronto necessário entre duas formas de poder simbolicamente tomados como “capital científico”. Enquanto um primeiro tipo de capital pode ser qualificado como social e está ligado à ocupação de posições importantes nas instituições científicas, um segundo tipo seria um capital específico, que repousa sobre o reconhecimento que o cientista pode obter de seus pares. Partindo do princípio de que não é possível que haja inovação sem ruptura com os pressupostos em vigor, o capital específico torna-se extremamente exposto a contestação. Tal leitura alerta para o fato de ser bastante provável que os pesquisadores mais inovadores sejam violentamente combatidos por sua própria instituição. Num mesmo sentido, a teoria da “Espiral do Silencio” proposta pela cientista alemã Elizabeth Noelle-Neumann sugere um modelo de opinião pública cuja ideia central é que os indivíduos, por medo do isolamento, tendem a omitir a sua opinião quando percebem que sua visão é conflitante com a opinião dominante. Após analisarem brevemente o ambiente ao redor e se perceberem minoria, os agentes sociais tendem a preferir o silencio ao impasse. Tal comportamento acaba por gerar uma tendência progressiva ao silencio em forma de uma espiral. Não expondo sua opinião, o individuo acaba por aparentar compactuar com a opinião dominante. Sabendo que quanto menor o grupo que expressa abertamente uma opinião, maior o ônus social em expressá-la, a tendência é que seja cada vez maior o numero de pessoas que se silenciem e aparentem compactuar com as opiniões dominantes. Pergunta-se então, a partir do histórico embate entre psiquistas e organicistas ao longo da constituição do saber psiquiátrico, até que ponto o tamanho do domínio que o discurso vigente aparenta possuir não se deve ao silencio daqueles que pensam portar um discurso minoritário.