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Debates em psicanálise, neurociências e subjetividade contemporânea: natureza e desnaturalização

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Com a ampla difusão do discurso das neurociências no mundo contemporâneo, um dos maiores desafios para a psicanálise é conceber como se dá a interação mente-cérebro, através de uma perspectiva materialista, mas não reducionista da subjetividade. Enquanto grande parte dos psicanalistas têm se retirado das discussões nesse campo, os trabalhos apresentados nesta mesa têm o objetivo de reinserir a psicanálise no debate com o campo das neurociências.
Adriano Aguiar discute a relação entre percepção e linguagem no campo das neurociências, filosofia e psicanálise através de um debate recente na filosofia norte-americana entre Hubert Dreyfus e John McDowell. O autor busca fazer uma aproximação entre a tese de McDowell percepção é inteiramente permeada pela linguagem e a teoria lacaniana da percepção, discutindo a relação entre natureza e desnaturalização.
Benilton Bezerra investiga a noção de natureza incompleta, proposta por Terence Deacon, e natureza não-toda, proposta por Adrian Johnston, para apontar uma visão renovada do que entendemos por natureza, matéria e naturalismo que inclua no centro de suas descrições o valor ontológico do negativo, abrindo espaço e preparando o terreno para um diálogo entre biologia da mente e psicanálise.
Jairo Gama discute a posição de dois filósofos hegelianos-lacanianos a respeito da desnaturalização da subjetividade operada pela aquisição da linguagem. Enquanto para Zizek o acesso ao simbólico abre um campo subjetivo radicalmente novo e autônomo em relação ao cérebro, Johnston aponta para uma continuidade diferencial entre cérebro e mente, derivada de uma permanência inassimilável de estruturas emocionais primitivas.
Richard Simanke argumenta que o pensamento de Freud pressupõe pode contribuir decisivamente para a formulação de uma concepção renovada de natureza e de matéria. Para tanto, recorre a certos aspectos cruciais da leitura fenomenológica da psicanálise freudiana desenvolvida pelo último Merleau-Ponty, com foco na sua reinterpretação da teoria pulsional como uma “filosofia da carne”.