Contemporaneidade e temporalidade
A partir da metade do século XIX, com o advento de novas tecnologias, o homem passa a vivenciar uma importante alteração da percepção do outro, do tempo e espaço. A aceleração do tempo promovida por novas tecnologias não permite o exercício da afetividade para a consolidação de laços, as relações assumem matizes narcisistas que buscam gratificações imediatas e o outro é entendido como uma continuidade do eu, na busca do prazer. A contemporaneidade experimenta uma tendência ao declínio e afrouxamento de valores universais de moralidade, ética e altruísmo. Os valores perdem suas referências, somos informados o tempo inteiro com novos costumes e sobre como devemos agir e pensar (moda, artes, música, esportes e política, etc.). Os conceitos de retenção e protensão da temporalidade são liquefeitos, tornam-se fugazes. Aprendemos a viver o mundo e a relação com o outro de uma maneira leviana e superficial.
A estrutura psíquica que, frente a novos fenômenos vivenciados, perde a capacidade de temporalizar e expandir sua espacialidade, torna-se patológica. A incapacidade pós-moderna de reter o passado, de analisar as informações recebidas e refletir, é uma das responsáveis pelo adoecimento psíquico da sociedade atual.
A temporalidade tem papel crucial para a aceitação do presente como resultado da retenção do passado e o presente como uma forma de projeção ao futuro, marcas da temporalização saudável do indivíduo, na contemporaneidade.
A partir de uma temporalidade com amplitude de funcionamento adequada, os processos de relação consigo e com seus pares, terão a sustentação necessária para tornarem-se viáveis e sadios.
Palavras-chave: Percepção do tempo; Fenômenos e processos psicológicos; Espaço pessoal; Análise espaço-temporal