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A psicopatologia fenomenológica como alternativa à falácia do sujeito epistemológico oculto do método criteriológico

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Nas ciências naturais, o sujeito epistemológico, aquele que constrói o conhecimento, não deve ter influência no processo que visa conhecer seus objetos. Esta premissa, bem como a de que a totalidade pode ser conhecida a partir da somatória das partes, constituem alguns dos fundamentos epistemológicos do método criteriológico (Kraus). Nesta concepção, atualmente hegemônica na psiquiatria, as entidades psicopatológicas são uniformemente tratadas como transtornos, cujo reconhecimento se dá pelo simples preenchimento numérico de critérios (sintomas) pré-estabelecidos. A averiguação deles exige que se desconsidere o sujeito que os julga presentes e que se reduza a exuberante experiência com o paciente a rígidas e simplistas nomeações. Não apenas tais exigências, mas o fato de que as entidades psicopatológicas não se submetem a definições unívocas e universalmente aceitas, não explicitam claras relações causais e de que necessitam fundamentalmente de interpretação dentro do contexto histórico do indivíduo avaliado tornam questionável a simples transposição do método das ciências naturais para o campo psiquiátrico.
Estas e outras insuficiências das proposições do método criteriológico são bem reconhecidas pela literatura. Dentre elas, este trabalho propõe-se a analisar a falácia que é assumir como oculto o sujeito epistemológico na psicopatologia. O psiquiatra tem, inexoravelmente, participação ativa na construção do conhecimento a respeito do paciente, no reconhecimento de entidades psicopatológicas e nas apreciações clínicas deles decorrentes. A psicopatologia fenomenológica, deste modo, ao demover o clínico de seu papel de observador inerte e reconhecê-lo como instrumento indispensável no apreciação do objeto psicopatológico, apresenta uma alternativa metodológica sólida e indispensável para o aprofundamento do entendimento da prática psiquiátrica.