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A natureza incompleta: o valor do negatividade nas ciências da natureza e na psicanálise contemporâneas

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Uma dos obstáculos a qualquer tentativa de aproximação entre a psicanálise e as ciências da natureza reside na crítica ao eliminativismo e ao epifenomenalismo característicos de boa parte das teorias do mental que se apresentam como opções materialistas ao subjetivismo ou idealismo tradicionalmente presente em diversas teorias do psiquismo e da vida subjetiva. Ao reduzirem a complexidade da vida e da mente a processos e objetos físicos substanciais, essas abordagens tendem a excluir ou a desconsiderar inteiramente qualquer papel causal atribuível à negatividade, à falta, à privação ou à ausência. Em termos aristotelianos, o privilegio total concedido à causalidade eficiente não deixa espaço para a análise dos fenômenos nos quais a causalidade final (estruturas teleológicas e dinâmicas intencionais existentes em organismos vivos e cruciais no entendimento da mente). O propósito do trabalho é explorar, a partir da análise das teses em torno da noção de natureza incompleta, proposta por Terence Deacon, e natureza não-toda, proposta por Adrian Johnston, as possibilidades de uma visão renovada do que entendemos por natureza, matéria e naturalismo que inclua no centro de suas descrições o valor ontológico do negativo, abrindo espaço e preparando o terreno para um diálogo entre biologia da mente e psicanálise com vistas à progressiva elaboração de uma teoria materialista não-redutiva da subjetividade humana.