Favoritar este trabalho

Introdução: a rua abriga uma população que faz dela a sua moradia, por tirar dela o sustento, em um complexo subsistema social associado a um grave estigma, mas limitando os cuidados para a saúde¹. As equipes interdisciplinares do Consultório de Rua e na Rua têm buscado promover ações, respeitando a autonomia e buscando a construção do vínculo para promoção da saúde. A Enfermagem deve inserir-se no planejamento dessa assistência, reconhecendo as demandas e necessidades de saúde na rua, priorizando o cuidado em equipe, sendo necessária a implementação do processo de enfermagem2. Os diagnósticos de enfermagem de risco para essa população possibilitam planejar prevenção dos agravos e promoção da saúde. Objetivo: identificar os diagnósticos de enfermagem de risco da população de rua, com base na Taxonomia II da NANDA Internacional (2015-2017)³. Método: estudo transversal realizado em uma capital do nordeste do Brasil. Da população de 719 pessoas adultas que dormiam na rua, de acordo com a contagem e mapeamento da população realizada pela Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos da Prefeitura Local em 2014, obteve-se a amostra de 251 moradores. A seleção, obtida por amostragem estratificada e randomizada, incluiu população de rua de ambos os sexos, idade igual ou superior a 18 anos; os participantes que estavam sob efeito de drogas foram contatados em outro dia. Foi utilizado um questionário sociodemográfico, o Alcohol, Smoking and Substance Involvement Sreenning Test (ASSIST)4, e o International Neuropsychiatric Interview (MINI Plus 5.0.0)5. Para a estruturação, foi realizado um processo individual de julgamento clínico dos diagnósticos de enfermagem, realizado em duas fases: a análise e a síntese. Após, os resultados obtidos passaram por processo de revisão de forma pareada, para assegurar um julgamento consensual, objetivando maior acurácia, e constituiu-se um banco de dados no programa SPSS- versão 23, para registro dos Diagnósticos e Domínios (D) apresentados de forma descritiva. O desenvolvimento do estudo atendeu as normas nacionais e internacionais de ética em pesquisa envolvendo seres humanos (CAAE 429263 15.2.00005208). Resultados: D2-Risco de glicemia instável relacionado ao controle insuficiente do diabetes; D5-Risco de confusão aguda relacionado ao abuso de substâncias; D6-Risco de dignidade humana comprometida, relacionado à estigmatização e tratamento desumano; D9-Risco de dignidade humana comprometida, relacionado à baixa autoestima e a falta de oportunidades; D10-Risco de sofrimento espiritual relacionado à baixa autoestima, perda, separação do sistema de apoio, mudança na prática espiritual; D11-Risco de suicídio relacionado a apoio social insuficiente, desamparo, desesperança, isolamento social, verbalização do desejo de morrer; D12-Risco de solidão relacionado ao isolamento social e privação emocional. Para saúde mental, o Risco de suicídio é um Diagnóstico Real que demanda intervenção imediata e deve ser monitorado, sendo o suicídio grave problema de saúde pública. Conclusão: os riscos a que a população de rua está propensa muitas vezes não são reconhecidos como problemas de saúde, afetando diretamente a saúde física e mental. Assim, a identificação dos Diagnósticos de Enfermagem de Risco possibilitará um plano de ação dentro da Rede de Atenção Psicossocial.