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EXPERIÊNCIAS DE UM PROCESSO FORMADOR: CONSTITUINDO PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

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Como no sentido trabalhado por Larrosa, neste artigo, a experiência não é informação, ou algo (qualquer coisa) que possa ser adquirida com o tempo, mas aquilo que nos atravessa, formando ou transformando. Nas pesquisas desenvolvidas pelo GHOEM, grupo ao qual estamos vinculados, que fazem uso da História Oral como metodologia de pesquisa, são trabalhadas as experiências vividas e ressignificadas daqueles que podem nos narrar histórias. Entretanto, o que analisamos não é a experiência do outro, mas o relato dessa experiência, pois, como afirma Larrosa, a experiência do outro não pode ser, por nós, apreendida, a menos que, revivêssemos e tornássemos própria.
Contudo, ao vivermos a possibilidade de desenvolver estas pesquisas, estamos (quando o que vivemos nos toca, nos passa, ou nos acontece), vivendo nossas próprias experiências ou os saberes da experiência. Muitas vezes, as próprias narrativas de nossos colaboradores nos atravessam, possibilitando adquirir novas experiências, ressignificadas daquelas experiências, já ressignificadas, talvez, até, de outras experiências, e suas ressignificações...
Tomamos, aqui, como ponto de partida para discutir as potencialidades da História Oral como colaboradora para a aquisição de experiências, para a constituição de pesquisadores em Educação Matemática, as experiências adquiridas em dois projetos que estão em desenvolvimento. Estes projetos estão inseridos em um projeto maior do GHOEM que visa realizar um mapeamento sobre a formação de professores, nas distintas regiões que compõem o Brasil. Em específico, estes projetos são desenvolvidos em regiões distintas do País, Nordeste e Sul, e visam, respectivamente: compreender e construir uma versão histórica de como se deu a formação de professores de Matemática na região de Mossoró (região localizada no interior do Estado do Rio Grande do Norte, a 277 Km da capital Natal), no período anterior ao ano de 1974, data que marca a criação do mais antigo curso de formação de professores; e descrever a formação dos professores de Matemática que atuaram na região do Município de Itaipulândia, Paraná, no período de 1961, quando a região começou a ser povoada, ao final da década de 1980, anos após a formação do Lago de Itaipu e que acarretou a inundação de parte do território do município.
Na pesquisa desenvolvida em Mossoró/RN, foram realizadas entrevistas com nove professores, com perfis distintos, para tentar entender a formação de professores de matemática, daquela região. As entrevistas foram feitas utilizando-se de fichas temáticas. Os temas abrangiam desde questões da vida pessoal a questões referentes à formação, educação e região. Para a realização da pesquisa na região de Itaipulândia, foram feitas oito entrevistas, baseadas em roteiro pré-estabelecido, e que abrangia questões relativas à formação de professores, práticas escolares e outros itens que influenciaram na constituição do ensino e da região.
Ao longo do período que elas foram realizadas houve uma mudança em relação à visão que os pesquisadores tinham sobre aspectos referentes à pesquisa, apresentando, daí, um atravessamento das entrevistas, uma transformação dos pesquisadores, um processo de aquisição do saber de experiência. Começou-se a perceber, por exemplo, que havia muitos professores leigos e que participavam de “cursos vagos” (aulas de final de semana), na região de Itaipulândia; ou ainda, foi possível notar que, em Mossoró, uma cidade de desenvolvimento acelerado e bem abastada, mesmo assim a educação e, em específico, a formação de professores, foi algo que teve obteve investimento muito tardiamente. Estas pesquisas fizeram com que os pesquisadores envolvidos, buscassem outras informações, referentes aos temas pesquisados, pois existia uma visão diferente em relação a eles e conforme as evidências foram aparecendo, foi perceptível a modificação no próprio modo de pesquisar e da forma que passou-se a acontecer a mobilização dessas questões.
Assim, neste trabalho pretendemos apresentar, juntamente com o desenvolvimento de nossas pesquisa, como fomos nos constituindo (ou estamos sendo constituídos) pesquisadores em Educação Matemática, bem como algumas vivências (eventos, acontecimentos) desse processo tornadas experiências.