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Profissão Repórter: um novo modelo de reportagem na televisão?

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O programa televisivo Profissão Repórter da Rede Globo de Televisão, completou 10 anos (2006-2016), uma década de desafios, criatividade e inovação. Desde sua implantação, se propõe a apresentar um novo modelo de reportagem na TV, mostrando múltiplas facetas e ângulos da notícia, incluindo os bastidores. Dessa forma possibilita ao telespectador uma visão mais ampla do conteúdo geral e do processo de produção e edição, exibindo, portanto, uma nova dinâmica de reportagem na TV aberta, que se distingue dos padrões tradicionais usuais. Os repórteres revelam suas emoções, como: medo, alegria, entusiasmo diante dos fatos, se deixam envolver com os dramas das pessoas entrevistadas e em consequência disso, os telespectadores podem conhecer um lado delicado dos profissionais e se identificar com as histórias que são reportadas. Esta pesquisa, em andamento, examina o processo de produção, desde a pauta, apuração até a edição, observando suas características. Procura entender e refletir sobre a importância e valorização da reportagem na televisão para formação da opinião pública numa abordagem crítica e analítica. A metodologia utilizada é a da Análise de Conteúdo (BARDIN, 2011), numa perspectiva qualitativa e experimental. Recorre, ainda, ao Método Etnográfico, TRAVANCAS (2006) e MATEUS (2015), para análise e prática de produção de pelo menos um programa e para acompanhar uma equipe de reportagem em ação. Além disso, também estão sendo feitas entrevistas com membros da equipe do programa, como idealizadores, diretores, produtores e repórteres. Inicialmente foi realizado um mapeamento geral dos 344 programas de 2006 a 2016 com o objetivo de identificar as diferentes temáticas apresentadas. Em seguida foram selecionados dez programas representativos de cada ano, com temas sociais diversos, nacionais e internacionais, incluindo o da estreia, por definir o tom editorial da proposta. Nesta pesquisa, será examinada a peculiar abordagem da reportagem na televisão pelo Programa Profissão Repórter, que difere em muitos aspectos, das tradicionais reportagens como nos jornalísticos televisivos: Globo Repórter e Fantástico, da Rede Globo; Domingo Espetacular e Câmera Record da Rede Record assim como do Conexão Repórter do SBT. A pesquisa inicial mostra que, enquanto esses programas são pautados pela condução quase sempre de um único repórter, em função de um roteiro prévio, o Profissão Repórter conta com vários repórteres, alguns deles iniciantes, evidenciando não só a sua originalidade, mas também seu caráter educativo na formação desses jovens repórteres investigativos, sempre sob a orientação e o olhar atento do experiente jornalista Caco Barcellos. O programa é estruturado com a participação ativa dos envolvidos com o tema em debate e em todo o processo de produção, com resultados singulares. Ter essa proposta como a principal filosofia e conduta de um programa é um desafio importante, que vai além de ouvir simplesmente o outro lado, como orientam os manuais de jornalismo. O Profissão Repórter foi idealizado pelos jornalistas Caco Barcellos e Marcel Souto Maior, que esteve na direção do programa até 2010. Desde então passou para a direção de Barcellos, que participa ativamente de todas as etapas de produção. O jornalístico tem espaço garantido na grade da emissora, sendo exibido semanalmente, às quartas-feiras, por volta das 23h30, com duração em média de 30 minutos. Para a edição de cada programa, a gravação bruta é de cerca de 25 horas. Nesta década, foram registradas sete mil horas de gravação, ou seja, nove meses de imagens brutas. Para a realização dos programas, que não se limitaram a temas brasileiros, a equipe viajou para 41 países. Foram feitas grandes coberturas e uma característica do programa é de buscar pautas factuais, o que é comum nos telejornais diários, entretanto o Profissão Repórter sendo semanal procura ter esse perfil mais imediatista. O jornalista Caco Barcellos, repórter, apresentador e diretor, tem como lema apresentar a reportagem em seus diferentes enfoques, primando pelo estímulo permanente a novos desafios a sua equipe, seja pela curiosidade, apuração abrangente, sempre com o olhar e sensibilidade diante dos fatos.