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O discurso sobre o empoderamento feminino em Fearless Girl

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Dentre as transformações que a sociedade vem passando, principalmente no que diz respeito à equidade de gêneros, presenciamos a difusão do discurso sobre o empoderamento feminino na mídia, refletindo novas práticas na representatividade da mulher, especialmente em campanhas publicitárias, no caso deste estudo, o discurso do empoderamento econômico feminino, por meio da instalação da escultura em forma de estátua, a Fearless Girl, em Wall Street, Nova York. Pensando a publicidade como um veículo de comunicação e um meio divulgador da cultura - em que se reproduzem saberes e práticas -, repleto de significados, este estudo justifica-se, no momento atual, por tornar imprescindível analisar como os dizeres e saberes se constroem e também se (re)significam na atualidade. Dessa forma, este trabalho objetiva investigar como esses discursos se desdobram em outras formulações e circulação de sentidos, em suas formações discursivas, e como são esses trajetos de sentidos. Para tanto, foram utilizados os procedimentos teóricos e metodológicos da Análise de Discurso de linha francesa, por meio dos autores Eni P. Orlandi e Michel Pêcheux. Pensando também a cidade, no modo que ela inscreve os sujeitos e o sentido no mundo (ORLANDI) e o desafio de trabalhar a imagem enquanto discurso (PÊCHEUX), o corpus escolhido foi a estátua Fearless Girl, instalada em março de 2017 na praça de Wall Street, por ocasião da comemoração do Dia Internacional da Mulher. Estratégia de uma campanha publicitária para chamar a atenção para o poder de liderança das mulheres no mercado financeiro, a estátua provocou grande repercussão no mundo todo, em diversas plataformas midiáticas. Os resultados deste estudo sinalizam uma (re)significação de sentidos por meio do simbólico, da materialidade da imagem de enfrentamento da “Garota sem Medo”- estátua medindo 1,30 m de altura-, diante da figura do touro em posição de ataque, o Charging Bull - escultura com 3,4 m de altura, ícone americano da agressividade do mercado financeiro e da prosperidade do capitalismo -, em um dos mais importantes centros financeiros do planeta. Depreendemos com esta análise que os discursos veiculados se irrompem a partir das “redes de memória e dos trajetos sociais” (PÊCHEUX, 1997), provocando um “furo” enquanto acontecimento discursivo. Enunciações filiadas nas redes de memória que, dadas as condições sociais, históricas e políticas, se inscrevem com certos efeitos de sentido e não com outros. Na memória atualizada pelas Formações Discursivas (FDs), há a mulher empoderada em forma de criança, reforçando a ideia de feminilidade como sendo ingênua/inofensiva (Interdiscurso), em espaço evidenciado por relações de força e poder em suas Condições de Produção (CPs). A estátua em forma de menina, mãos na cintura, queixo erguido frente ao touro imenso, símbolo da riqueza e poder/força americanos, estabeleceu um diálogo com a primeira escultura e toda a dinâmica criativa foi alterada. Fearless Girl foi inserida à luz do movimento feminista. Charging Bull, escultura instalada em 1989, diferente da ideia original do artista, a da dominação masculina, foi inserido em outra discussão que é a da equidade de gêneros. A repercussão da estátua provocou grandes embates por meio dos discursos de resistência femininos, dos discursos cristalizados no imaginário masculino, carregados de estereótipos contra o movimento feminista, contra a campanha publicitária e também discursos inflamados sobre a suposta violação dos direitos autorais artísticos relacionados ao autor da obra Charging Bull.