85842

Núcleo Ouroboros de Divulgação Científica: arte, ciência e inclusão

Favoritar este trabalho

Esse trabalho tem por objetivo apresentar uma iniciativa e resultados de um projeto de divulgação científica da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). O Núcleo Ouroboros de Divulgação Científica iniciou suas atividades em 2004, com a criação de um grupo teatral para divulgar a química. Inicialmente era formado apenas por alunos dos cursos de bacharelado e licenciatura em química, hoje, no entanto, não só integrantes de vários outros cursos como também outras artes dialogam no Ouroboros. A tríade ensino-pesquisa-extensão faz da universidade um espaço onde são possíveis várias ações envolvendo a comunidade interna e externa. Enquanto Programa de Extensão da UFSCar, o Ouroboros já abarcou mais de 30 projetos atingindo, diretamente, mais de 200 pessoas voluntárias e bolsistas, e centenas de milhares indiretamente ao longo desses quase 15 anos de atividades ininterruptas, contando com peças teatrais, exposições, organização de eventos e atividades de pesquisa nos níveis de graduação, mestrado e doutorado. Dentre as ações de divulgação científica, a partir de 2009, o Núcleo iniciou trabalhos relacionados à inclusão, particularmente, de pessoas com diferentes graus de deficiência visual, possibilitando, por meio da arte, o acesso ao conhecimento científico, de química, matemática e biologia. Esse grupo atua, até hoje, no projeto denominado Olhares, fazendo parte de várias ações inclusivas além da ciência, como teatro, música e artes plásticas. A ludicidade das peças teatrais, as oficinas e minicursos em ambientes não-formais, bem como as disciplinas regulares semestrais em formato de ACIEPEs (Atividades Curriculares de Ensino, Pesquisa e Extensão) permitem que se crie um locus para pesquisa em divulgação científica, desenvolvendo linguagens adequadas para o público indicado, desde a educação infantil ao estudante universitário, até o público geral que não está vinculado à nenhuma instituição de ensino. O processo colaborativo permeia a maioria das atividades, sendo dialogado da concepção até a execução, sempre com o grupo que está envolvido no projeto naquele período. A alta rotatividade dos participantes é algo que impulsiona novos projetos, mas que, ao mesmo tempo, causa um constante recomeço. Assim, o Ouroboros apresenta ações que variam de 3, 6 a 12 meses, sendo que algumas já perduram por vários anos, dependendo do foco, objeto de estudo, sendo o próprio Núcleo passível de ser pesquisado e observado enquanto espaço não-formal, informativo e, ao mesmo tempo, formativo para todos os agentes que participam das propostas. A partir de 2014, o Ouroboros iniciou uma profícua parceria com o CeRTEV (Centro de Pesquisa, Educação e Inovação em Vidros), um dos CEPIDS da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) sediado na UFSCar, o que permitiu que vários projetos fossem impulsionados e outros inovadores fossem iniciados, como o Sons Vítreos, um grupo de músicos profissionais e amadores que apresentam a arte e a ciência dos vidros por meio da música de instrumentos feitos de vidro e outros convencionais; e o Museu do Vidro, que está em fase de concepção e cuja consolidação permitirá uma mediação única no mundo envolvendo arte, experimentação e inclusão. A experiência somada nesses anos de divulgação científica permite sempre uma reflexão sobre as ações realizadas e uma troca de conhecimento entre pares que realizam ações semelhantes, bem como com profissionais de diferentes áreas que sempre contribuem nesse processo formativo. Assim, um dos eventos organizados anualmente pelo Ouroboros e outros grupos teatrais que também divulgam a ciência por meio do teatro, o Ciência em Cena, em sua décima primeira edição, reúne vários atores e cientistas para dialogar por meio das artes cênicas, circenses e da música, a ciência e a cultura de norte a sul do Brasil, recebendo também importantes contribuições de Portugal e da Espanha. Apesar de ter sido pensado, inicialmente, como um momento pontual de diálogo com grupos mais experientes que o iniciante Ouroboros, hoje, o evento tornou-se também um ambiente para a pesquisa desse fazer teatral, gerando monografias, mestrados e doutorados na área de educação em ciências. Ao passar dos anos, e baseados em vários depoimentos de pessoas que já participaram como autores/atores ou público dos diferentes projetos conduzidos pelo Núcleo, percebe-se um impacto positivo e significativo pessoal e profissional. Motivação, superação e empatia são sentimentos que, juntamente com aprendizagem de conteúdos científicos, permitem evidenciar a importância de realização de projetos com uma tríade arte-ciência-inclusão, corroborando para o desenvolvimento de novas formas de divulgar e ensinar ciências.