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A exibição de filmes documentários no Museu da Imagem e do Som de Campinas

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É claro o domínio dos cinemas de shoppings no cenário das salas de exibição de Campinas, onde funcionam atualmente sete complexos que totalizam 57 salas. Podemos apontar alguns complexos de cinema que possuem uma curadoria mais voltadas a filmes de nicho, não privilegiando apenas os blockbusters. No entanto, são iniciativas esporádicas e que não contemplam efetivamente o gênero documentário, já que identificamos apenas três títulos do gênero exibidos nos multiplexes da cidade em 2017. Não existe uma sala de cinema comercial estruturada com o propósito de exibição de filmes de arte, sendo que o mais próximo disso são as iniciativas de exibição de filmes fora dos complexos cinematográficos. Diante desse cenário, temos como principal espaço de circulação do gênero documentário o circuito alternativo de exibição de Campinas, assim como mostras e festivais que ocorrem anualmente. A fim de delimitar a pesquisa, optamos por realizar o levantamento dos filmes documentários exibidos no Museu de Imagem e do Som de Campinas (MIS Campinas), o qual consideramos o principal espaço de exibição em Campinas fora do circuito comercial, pois possui frequentes exibições durante todo o ano. Para isso, fizemos o levantamento dos documentários exibidos no ano de 2017, buscando identificar aspectos como o formato mais recorrente, nacionalidade, as temáticas abordadas, assim como suscitar a reflexão sobre o lugar do documentário no circuito de exibição de Campinas. Por meio de pesquisa no site e rede social do Museu, assim como artigos em sites de notícias do município, foram identificados 63 documentários exibidos no último ano. Para definir as temáticas, utilizamos a mesma metodologia empregada pela pesquisadora Teresa Noll Trindade (2011) em sua dissertação sobre a produção do gênero documentário diante das salas de cinema comerciais. Ela categoriza as produções documentais contemporâneas em: questões de cunho social e/ou político; esporte, focando em personagens ou instituições; música e/ou personagens musicais; história de vida de desconhecidos ou personalidades diversas; temas cujo o foco não seja político-social, esporte ou música. O MIS Campinas funciona pela autogestão do espaço público, onde a população se apropria desse aparato cultural e está livre para utilizar o espaço para exibição de filmes, propondo ciclos, curadorias e mostras de qualquer viés. A única exigência é o debate após as exibições. Sendo assim, é difícil mensurar e identificar como essa programação é escolhida, já que diversas pessoas são responsáveis por ela. Apesar de alguns dos documentários exibidos serem produções maiores que chegaram a ser exibidos em salas comerciais, poucos entraram em cartaz em Campinas. A maior parte deles são títulos que só encontram um espaço para circulação em festivais e espaços culturais. Sendo assim, o MIS Campinas cumpre um papel de divulgador e incentivador desses trabalhos, impulsionando a produção também no âmbito local. Além das exibições do Circuito MIS Campinas, também ocorrem exibições de filmes vinculadas a cineclubes. As temáticas mais frequentes no MIS Campinas diferem do que se observa nos dados de público de documentários (longa-metragem) que entraram em cartaz nos cinemas, onde os títulos de maior público pertencem às temáticas música e esporte. Já as outras três temáticas com maior quantidade de filmes exibidas no MIS Campinas são as de menor número de espectadores no cinema comercial, mesmo sendo responsáveis pelas maiores quantidades de títulos lançados no período mencionado. O público de salas comerciais por temática é, praticamente, um gráfico inverso ao de quantidade de filmes por tema do MIS Campinas. Sendo assim, podemos concluir que o MIS Campinas projeta documentários que não são bem aceitos nas salas de cinemas comerciais, como na tentativa de suprir essa lacuna da exibição. As temáticas dos documentários exibidos dialogam com os objetivos dos cineclubes e mostras que utilizam o espaço para promover reflexões e discussões a partir de temas que envolvem as questões políticas, econômicas, sociais e culturais da nossa sociedade. Nota-se a grande predominância do documentário contemporâneo nas exibições, sendo que praticamente todos os títulos exibidos são produções realizadas a partir dos anos 2000. Doze deles foram lançados em 2017, o que faz do MIS Campinas uma importante janela para lançamentos desses documentários, fazendo parte de um dos primeiros espaços públicos de exibição das produções, ou até mesmo a estreia. A produção brasileira, pelo menos quanto ao gênero documentário, é privilegiada nas exibições. Há também a inclusão de curtas-metragens na programação, sendo um grande aliado para que esse formato chegue ao público, juntamente com os festivais e internet, já que não chega ao circuito comercial. Vemos no MIS Campinas um importante espaço público de difusão e circulação de documentários e, principalmente, um local de reflexão acerca das temáticas apresentadas. Ao exibir títulos que praticamente não têm espaço no circuito comercial, ajuda a preencher essa lacuna na circulação. Outro aspecto fundamental da inclusão do documentário nos espaços alternativos de exibição, assim como em festivais, é incentivar a formação de espectadores para esse gênero e exercitar uma leitura crítica perante o cinema do real.