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A Educação Ambiental Crítica e o diálogo possibilitado pelo filme Wall-e

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O objetivo deste trabalho é analisar e discutir os diálogos que o filme Wall-e (2008) possibilita para a compreensão da Teoria Marxista da Educação Ambiental Crítica. A animação é um importante meio que funciona como uma janela para a realidade, para que as pessoas possam enxergar, de maneira lúdica, as coisas que as cercam, para que desta forma reflitam sobre os problemas do cotidiano relacionados às suas práticas sociais. O cinema é a sétima manifestação artística, caracterizando-se pelas imagens em movimento com a utilização de técnicas e efeitos visuais. Mas o cinema não constitui, apenas, o movimento de imagens através de um projetor, ele envolve um complexo ritual de elementos e processos diferentes que englobam: a produção, distribuição, investimento, publicidade, o gosto, dentre várias outras relações sociais (BERNARDET, 1980). E, além de cativar a atenção das pessoas com sua linguagem estética, o cinema pode mobilizar, de maneira lúdica, assuntos relevantes do cotidiano e para além dele. Contudo, o cinema constitui um processo social, e como tal possui influências políticas, ideológicas e econômicas, com isso, é necessária uma mediação, teoricamente embasada, para que ele possa ser um meio crítico e reflexivo de fato. Diante disso, a Teoria Marxista da Educação Ambiental Crítica possibilita que o indivíduo se identifique como parte integrante da natureza, de modo que ele seja capaz de perceber e valorizar a diversidade ambiental e sociocultural, para que assim os mesmos possam adotar posturas coerentes dentro de sua comunidade (LOUREIRO, TOZONI-REIS, 2005). Além disso, ela aponta para a necessidade de construir uma cidadania ativa, em que as pessoas participem dos processos de transformação social e constituam novos paradigmas que consolidem uma sociedade mais justa e ambientalmente saudável (CICONELLO, 2008). O longa-animado Wall-e, de 97 minutos, dirigido por Andrew Stanton, dos estúdios Disney e Pixar, se passa em um futuro distópico em que o planeta Terra se encontra desabitado por conta da deterioração extrema das condições ambientais as quais os humanos foram responsáveis, devido à exploração e consumo excessivo e a consequente produção de lixo, acometendo o lançamento de gases tóxicos na atmosfera, a contaminação do solo e dos recursos fluviais, impossibilitando a vida na Terra. Dessa maneira, o robô Wall-e, e outros semelhantes, ficaram responsáveis pela limpeza do planeta enquanto os humanos estão em uma espécie de cruzeiro espacial. Contudo, o plano de recuperação fracassa e Wall-e, último de seu modelo, continua a realizar seu trabalho, até que um dia surge de maneira inesperada uma nave com uma robô de outro modelo, que se chama EVA, a qual Wall-e se apaixona e o levará ao encontro do cruzeiro espacial, o que acarretará várias situações. Diante disso, pretende-se, por meio da Pesquisa Qualitativa, analisar o filme em questão. Tal pesquisa se preocupa com o processo e com o cenário a qual se relacionará, se preocupando mais com o processo do que com o produto final, se diferindo assim da pesquisa quantitativa, pois o pesquisador pretende compreender como o problema se manifesta nas interações sociais (MINAYO et al. 2016). Nessa perspectiva, o filme foi analisado a partir de dois eixos, o primeiro diz respeito à questão do lixo, em que a história consiste em uma metáfora das consequências da produção excessiva dele na Terra pelos seres humanos. Deste modo, ele está alinhado à uma tendência da educação ambiental conservacionista que se atém, somente em questões conscientizadoras e comportamentais que visam individualizar as soluções, ou seja, a resolução dos problemas ambientais nessa tendência se dará por meio de ações individuais (ADAMS, 2005). Contudo, na Educação Ambiental Crítica, as soluções são coletivas dizendo respeito, principalmente ao sistema produtivo da sociedade atual. O segundo eixo, se refere à uma grande contradição que o filme apresenta, devido as questões sociais, econômicas e políticas não serem abordadas, dando a entender que elas se encontram resolvidas. Todavia, é válido ressaltar que, tanto as questões do excesso de lixo e o consumo exagerado, estão atreladas às questões sociais, econômicas, políticas e ideológicas, dentre outras. Tais questões sustentam o sistema capitalista de oposição entre classes que se mantêm a partir da exploração da classe trabalhadora pela classe dominante (LEFF, 2001). Dessa forma, o filme, mesmo que apresentando uma distopia que se dá a partir de um problema real, resolve e ignora a questão da luta de classes, se mostrando, portanto, idealista. Assim, o filme é um importante meio para se debater as questões ambientais, a partir de suas potencialidades, mas também de suas deficiências, visando a formação de cidadãos críticos e reflexivos que atuem de maneira ativa na sociedade.