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A coleção do Museu Universitário da PUC-Campinas e os saberes acumulados entre grafismo, trançados e tramas

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A presente pesquisa tem por objetivo analisar, discutir e compreender os sentidos evidenciados pela cultura material indígena, salientando significativos aspectos de um elaborado sistema de linguagem. Calcada no viés da oralidade, a cultura indígena brasileira também evoca a representação de expressões corporais, bem como a técnica do grafismo em sua tradição. Para essa análise, selecionamos como objeto de pesquisa a coleção de etnologia incorporada ao acervo do Museu Universitário da PUC-Campinas. A demanda por estudos sobre a cultura material e imaterial vem demonstrando temas potencialmente ricos, não somente para o debate e a reflexão dentro do meio acadêmico como também fora dele. Seja no meio social ou no âmbito íntimo do familiar, entre o público e o privado, estes objetos compreendem uma importante fonte de informação. Aqui destacamos o seu potencial imbricado pela imagem, o que envolve estética, técnica e linguagem. O crescente interesse por estudos vinculados à área museológica abrange preocupações como a análise do discurso (dos povos indígenas e sobre os povos indígenas). Essa corrente teórica embasará o debate acerca da memória, identidade e alteridade, importantes conceitos evocados nos museus, em particular nesta coleção que será objeto de estudo. Outra questão relevante percorre a prática do trabalho de campo desenvolvido por antropólogos, aliando o método etnográfico à descrição detalhada e às anotações gerais em elaborados diários de campo, além da coleta de materiais entre as etnias estudadas. A seleção de peças e a coleta de informações provenientes de expedições possibilitam a reflexão acerca da narrativa apresentada na formação de uma coleção. Este processo é organizado por inúmeras etapas. Mais precisamente, ao alcançar o status de objeto museal, é preciso compreender que o artefato encontra-se deslocado, fora do seu local de origem, muitas vezes mediado pela interpretação de um sujeito fora da cultura de proveniência da peça. Pensar todas estas questões requer a leitura de referencial teórico, articulado com leituras sobre discussões conceituais propostas por estudiosos do tema, como Eni Orlandi, Bruno Latour, Eduardo Viveiros de Castro, Els Lagrou, Peter Burke e Ulpiano T. B. Meneses. Levando em consideração os cuidados destinados ao tratamento das peças museológicas, à luz da história cultural, propõe-se aqui uma pesquisa associada à interdisciplinaridade. A ciência e o conhecimento produzido por etnias indígenas precisam encontrar caminhos propícios para um diálogo concreto, aproximando o conhecimento tradicional aos vieses acadêmicos. Assim, perguntamos: é possível transmitir para o público o conhecimento tradicional do sistema de linguagem próprio da cultura indígena a partir do olhar do outro (o etnólogo que coleta, o museólogo que organiza e expõe)? Neste sentido, o museu cumpre essa função? O que nos diz a coleção de etnologia da PUC-Campinas? Acreditamos que estas peças do acervo, enquanto objeto de estudo, permitirão o acesso aos indícios de técnicas, saberes, histórias e o conhecimento indígena, que marginalizados pelo distanciamento na dinâmica da relação e interação entre o homem ocidental e o nativo, esteve fadado ao silêncio, à invisibilidade do outro. Todo um sistema de vida, representado pelo cotidiano, por hábitos alimentares, recursos medicinais, utensílios e equipamentos utilizados na caça e coleta podem recuperar um vasto e sofisticado conjunto de valores e saberes introduzidos na cultura indígena. Por fim, reforçamos a necessidade do aprofundamento nos estudos voltados para a presença e a produção de conhecimento dentro do universo da cultura indígena. Todavia, na medida em que a narrativa sobre os artefatos for sendo analisada, acreditamos que será possível recuperar dados sobre o modo de viver, as formas de expressão e o conjunto de crenças enraizadas na relação espaço-temporal entre o homem e a natureza. Os museus compreendem um importante espaço para estudo e aprofundamento do conhecimento através da observação e estudo de suas coleções. Logo, compreendemos que o seu espaço não deve ser reduzido a simples locais de lazer e passatempo, o que limitaria demais todo o potencial educativo dos museus.