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Um diálogo entre o curta-metragem Abuela Grillo e as questões ambientais, éticas, políticas, sociais e culturais

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O objetivo do trabalho é identificar o diálogo do curta-metragem Abuela Grillo com as questões ambientais, éticas, políticas, sociais e culturais. O curta foi produzido na Dinamarca por oito animadores bolivianos, lançado no ano de 2009, sob direção de Denis Chapon. Ele é baseado em uma lenda indígena, contada milenarmente pelo povo Ayoreo da Bolívia e aborda a história de uma avó representada por um grilo chamada Direjná. Ela era dona da água e por todo lugar que passava cantando com amor a água brotava. Certo dia, a avó cantou e fez inundar um rio, seus netos ficaram bravos e a agrediram. Ela então ficou triste e foi para a cidade. Lá ela foi enganada por empresários que a exploram fazendo com que ela cantasse para engarrafar a água e vendê-la. Como ela não estava cantando na comunidade, ocorre uma seca que destrói as formas de subsistência da população indígena. O neto então foi à cidade em busca de água e encontrou sua avó sendo explorada, e por isso, voltou à comunidade em busca de ajuda para liberta-la. Dito isso, o trabalho se justifica por permitir a divulgação de aspectos que permeiam as questões ambientais e sua relação com a sociedade. Essa característica pode ser identificada por meio do curta-metragem que possibilita a compreensão do cinema como meio dialógico das questões ambientais, éticas, políticas, sociais e culturais, proporcionando aos indivíduos uma compreensão ampla da realidade em que estão inseridos. O cinema é um meio de comunicação que está imerso na indústria cultural e, por isso, na maioria das vezes, propaga ideologias que representam o sistema capitalista. Neste sentido, é necessário que se faça uma análise crítica e dialética dos recursos audiovisuais para que estes possam contribuir na politização dos indivíduos e na desmistificação das ideologias dominantes (KLAMMER E COLABORADORES, 2006). Além disso, é uma ferramenta que se configura não só como produção humana, expressando crenças, valores e comportamentos éticos, mas também como elemento que faz parte da constituição humana e assim se torna importante na construção de indivíduos autônomos e atores sociais (LOUREIRO, 2008). Nesta perspectiva, Abuela Grillo nos permite identificar uma visão de sociedade que se difere da sociedade dominante, nos proporcionando uma reflexão sobre o sistema econômico em que estamos inseridos, a exploração humana que se define neste tipo de sistema, a desvalorização da cultura originária, a apropriação da natureza e os problemas ambientais acarretados. Para a análise dessa linguagem cinematográfica nos debruçamos sobre a metodologia de pesquisa qualitativa. É possível perceber no filme a mercantilização da natureza e há muito tempo a natureza se constituía como parte do ser humano (MARX, 1981), pois este vinha e pertencia à ela, porém a partir do momento que o homem passa a ser expulso de seu território, com a apropriação de suas terras, a natureza passa a ser entendida como algo exterior ao humano e dessa forma, a natureza torna-se passível de ser dominada e explorada. Com isso, a água, antes disponível livremente para a sobrevivência da tribo, passa a ser comercializada de forma que os empresários exploram o recurso natural com intuito de obter cada vez mais lucro e assim à água se torna escassa para a população nativa. A mercantilização dos recursos naturais é uma característica presente no sistema econômico capitalista e a partir de elementos da animação é possível afirmar como este sistema gera consequências na vida da população menos favorecida economicamente. Pensando nesta questão, podemos perceber no curta-metragem que a população indígena sobrevive por meio da agricultura e pecuária familiar, porém a falta de água na região dificultou a produção de alimentos, fazendo com que a população percebesse que o recurso que antes os pertencia, agora foi apropriado por indivíduos que detinham o poder econômico. Assim, tomam consciência de que não necessitavam pagar pela água e lutam pelo seu direito. Isso pode ser identificado na cena em que a população se une para libertar a avó que, representa a presença do recurso na comunidade, e nos faz perceber a força do povo para com as causas sociais. Portanto, as diferenças de classes sociais presentes na animação levam ao surgimento de problemáticas ambientais que permitem aos personagens lutarem por seus interesses, e para que a luta pela apropriação do recurso natural seja efetiva é necessário considerar as questões sociais e culturais que permeiam o ambiente afim de que o indivíduo se reconheça como parte fundamental que compõe a natureza em que está inserido.