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PIBIC-EM como importante instrumento de divulgação científica entre jovens e suas redes de contato

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O objetivo deste trabalho é relatar, da perspectiva de divulgação do fazer científico em universidades brasileiras para as comunidades, a experiência desenvolvida, durante o segundo semestre de 2017, com três alunos do Ensino Médio da rede pública de ensino de Campinas, selecionados para o projeto A formação científica de alunos do Ensino Médio através da metodologia da Gramática Gerativa: posição do verbo e cartografia sintática do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica do Ensino Médio da Unicamp (PIBIC-EM/CNPq), desenvolvido no IEL (Instituto de Estudos da Linguagem) sob coordenação do prof. Aquiles Tescari Neto. A proposta, integrada ao projeto de pesquisa do docente, intitulado Movimento do verbo e arquitetura da oração no português de Angola e no de Moçambique: uma abordagem cartográfica, apoiado pela FAPESP na linha Apoio Regular (Processo 2016/20853-6), tem sido desenvolvida desde o segundo semestre de 2017 (primeiro semestre dos alunos no programa), e tem por objetivo principal introduzir os alunos à filosofia da ciência, através da epistemologia e metodologia científica de investigação em Gramática Gerativa, linha de pesquisa bastante alinhada, segundo Chomsky (1986), às Ciências Naturais. O projeto tem possibilitado, a iniciação dos alunos do EM às técnicas da investigação científica nos moldes da Sintaxe Formal, em consonância com a metodologia da vertente Cartográfica da Teoria de Princípios e Parâmetros (Cinque, 1999). Tomando como ponto de partida questões não resolvidas em Tescari Neto (2013), e, partindo de questões cruciais à cartografia das estruturas sintáticas, os alunos, com o auxílio da equipe de orientação (prof. Aquiles e Mestranda Rosana, autores do presente trabalho) identificaram a hipótese que nortearia a investigação: o “Tempo” interferiria no fenômeno do movimento do verbo finito. Os alunos foram apresentados a testes-diagnósticos da posição do verbo, de modo a verificarem a hipótese inicial que, ao que tudo indica, se confirmou (Tescari Neto et al., 2018). Do ponto de vista da divulgação científica e das crenças/expectativas dos alunos, observamos, no decorrer dos encontros, uma mudança na constituição dos discursos dos sujeitos participantes em relação a como eram representados em suas falas seus papéis como “fazedores” de ciência, o papel do pesquisador nas universidades, o papel da ciência nas comunidades humanas e o papel do método científico no contexto dos conhecimentos mais gerais legitimados pelos distintos saberes das comunidades humanas. Observamos também o desenvolvimento de iniciativas por partes desses alunos que visavam a divulgar em suas redes (familiares e fraternas principalmente) o conhecimento que estavam construindo na universidade e constatamos a necessidade de inserir no espectro de discussões sobre o projeto PIBIC-EM o seu potencial como divulgador científico entre os jovens. Em vários momentos das atividades semanais do PIBIC-EM, os estudantes apresentaram as retificações por eles feitas em relação ao senso comum apresentado no discurso de amigos e familiares, a partir da legitimação de seus discursos por meio da autoridade científica conferida a eles pela universidade. Dessa forma, a partir da constatação (neste momento empírica) da importância que esse projeto adquiriu na divulgação do fazer científico no âmbito da comunidade em geral, por parte dos participantes desse projeto institucional, entende-se necessária a discussão – neste relato de experiência ancorado no que pode ser entendido como um jogo de imagens (Pêcheux, 1990) em relação à percepção da ciência, do senso comum e da divulgação do fazer científico, por parte desses estudantes – sobre os modos de melhor compreender o papel desempenhado pela divulgação científica no âmbito da proposta do projeto PIBIC-EM. A divulgação científica, apesar de certamente atravessar todos os norteadores do projeto, ainda não figura como objetivos específicos deste programa institucional e, com base nas discussões desenvolvidas com os alunos, nota-se que existe um imaginário que permeia a legitimação da universidade e que os alunos integrantes desse projeto tomam para si o lugar de divulgadores da ciência. Entende-se, finalmente, que as discussões acerca das maneiras de se fazer divulgação científica também precisam ser discutidas nas proposições de projetos dessa natureza para que não se perca esse importante papel desempenhado pelos estudantes secundaristas que adentram a universidade para desenvolver projetos de pesquisas. Dito de outro modo, a universidade precisa se apropriar do espaço oferecido pelo programa PIBIC-EM também como lugar propício à resistência e transbordamento de saberes.