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Onde estão os linguistas na divulgação científica?

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O que é Linguística? Tecnicamente podemos dizer que esta é a ciência da linguagem, que possui o seu núcleo na pesquisa da estrutura fonológica, sintática e semântica da comunicação humana (linguagem), mas que também realiza suas interfaces com disciplinas como a Biologia (Biolinguística), Psicologia (Psicolinguística), Direito (Linguística Forense), Computação (Linguística Computacional), entre outras, cada uma com seu objetivo específico de desenvolvimento tecnológico e científico. Mas a resposta a essas perguntas são diversas a depender de quem são as pessoas questionadas. Três exemplos são extremamente comuns: (1) “Lingoquê!?” dirão os mais distantes da ciência da linguagem. (2) “É o que faz aqueles amigos do Lula que atrapalham o trabalho dos gramáticos e querem ensinar as criancinhas a falarem errado”, dirão os mais partidários que ‘descobriram’ a linguística no ano de 2011, quando o MEC adotou um livro que considera as características sociolinguísticas dos alunos evitando o preconceito linguístico. (3) “São aqueles antievolucionistas que acham que os humanos são especiais e os outros animais não têm ‘linguagem’” dirão alguns biólogos. Aos dois últimos casos, os linguistas replicam de forma agressiva, como exemplificado por uma fala no Congresso Internacional da ABRALIN em Niterói/RJ, em 2017, no qual o palestrante compara o caso de 2011 com a Revolta da Vacina, ou seja, algo que deve ser feito, mas que por desinformação, as pessoas não aceitam. O curioso dessa fala na ABRALIN é o que veio a acontecer em 2016, quando a Linguística vivenciou a criação de um ícone da cultura POP, através da personagem Louise Banks, e os linguistas não aproveitaram o momento. Eu gosto de comparar o impacto da protagonista de um dos filmes de ficção científica mais aclamados em 2016 com o de Indiana Jones para a Arqueologia, ou o Parque dos Dinossauros para a Paleontologia. A obra de Dennis Villeneuve fez com que as pessoas que mal conheciam a disciplina se interessassem e procurassem compreendê-la a fundo, mas infelizmente, poucos linguistas brasileiros estavam dispostos a explicar ao público o trabalho da protagonista. Felizmente, o sucesso da obra fez com que outros pesquisadores se interessassem pelo tema e por sua divulgação, tornando a linguística tema de podcasts, blogs e vídeos. Em podcasts podemos citar as discussões ocorridas no NerdCast e no Portal Deviante. No Youtube, em especial, podemos citar o caso dos canais Nerdologia e Ciência Todo Dia, o primeiro apresentado por um biólogo, o segundo por um físico, ambos com pelo menos três vídeos sobre linguagem. Até mesmo a Olimpíada Brasileira de Linguística, nascida no fatídico ano de 2011, foi idealizada e é organizada por um matemático. Enquanto isso, fora raras exceções, os linguistas seguem em sua torre de marfim. Ainda são raros os linguistas que se dedicam a divulgar o que fazem. Dentre eles o canal Enchendo Linguística no Youtube, apresentado por dois alunos cariocas que emocionaram os pesquisadores e a Associação Brasileira de Linguística, apesar de estar em um enorme hiato atualmente. Outra iniciativa interessante é o blog #Linguística, da rede de Blogs de Ciência da UNICAMP com posts dos alunos e professores do curso de Linguística da universidade e de alguns convidados. Tendo em vista o panorama apresentado, nessa apresentação pretendo (i) explorar as experiências que tive com os mais diversos tipos de público e as interações com outros divulgadores da ciência em minhas participações no Pint of Science 2017, nos podcasts do Portal Deviante e na Rede de Blogs da Unicamp, (ii) exemplificar algumas ações pontuais dos raros linguistas que têm se dedicado à divulgação da área e (iii) demonstrar a esperança de que possamos influenciar outros linguistas e pesquisadores de outras áreas a também participarem de ações de divulgação.