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Oficina de jornalismo científico em projetos de pesquisa: aproximação com alunos de ensino médio

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Na missão de democratizar o acesso ao conhecimento e desenvolver a cultura científica, a divulgação atua para integrar os avanços da pesquisa, gerados em ambientes acadêmico e científico, ao cotidiano da sociedade (BUENO, 2010). Esse trabalho deve envolver de forma estratégica: sociedades científicas, instituições de pesquisa, universidades, governo, cientistas, comunicadores, educadores e estudantes (MOREIRA, 2014). Iniciativas lideradas pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação (MCTIC), como a Semana Nacional de C&T, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, bem como o apoio à formação em divulgação científica (como a bolsa Mídia Ciência) e à publicação de artigos científicos (papers), além da criação de espaços e centros museológicos aliadas ao apoio da mídia tradicional on e offline (revistas, portais, rádio e TV) e de projetos digitais como podcasts, blogs, vlogs e os eventos e festivais de divulgação científica, como o Chopp com Ciência, Pint of Science e FameLab, ampliam o repertório da divulgação científica. Nesse sentido, diferentes possibilidades de ações de divulgação científica são realizadas. Entretanto, os editais são sucintos na descrição do que chamam de programas estruturados para a difusão de conhecimento e dão ênfase, sobretudo, a atividades de educação científica como complemento à formação tradicional oferecida pelo sistema formal de ensino (fundamental e médio), como alternativa para treinar alunos e professores. Não há detalhes do que deve ser feito, tampouco dos resultados esperados. Para atender a essas demandas, a Conecta Ciência desenvolve o planejamento e executa atividades de divulgação científica com a rede pública de ensino, para projetos institucionais de pesquisa. O case que usaremos para ilustrar uma dessas atividades e seus resultados é uma oficina de introdução ao jornalismo científico realizada pela Conecta Ciência como parte das ações do Projeto Imunologia nas Escolas liderado pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Imunologia (iii-INCT). Os oito encontros semanais do projeto aconteceram entre 8 de agosto e 26 de setembro de 2017, com duas horas de duração cada, na sala base da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), reunindo 12 estudantes do primeiro ano do ensino médio da Escola Estadual Fernão Dias Paes e dois profissionais ligados à Universidade de São Paulo. Cada encontro foi dividido em quatro partes: (1) contextualização do tema do dia; (2) apresentação conceitual sobre questões do jornalismo e da ciência; (3) uma ou duas atividades práticas; (4) recomendações/comentários para a aula seguinte; e a maioria das atividades foram realizadas em grupos, formados à escolha dos alunos. Foram desenvolvidas habilidades de comunicação relacionadas à linguagem escrita e audiovisual e sobre temas de ciência com o objetivo de promover reflexão e debate sobre as inter-relações da ciência na sociedade contemporânea, bem como noções de construção do conhecimento científico, a profissão do cientista e o contexto da ciência brasileira. Os alunos participaram ativamente das atividades apresentando suas percepções, experiências, dúvidas ou comentários sobre os temas abordados. Tiveram, ainda, a oportunidade de experimentar diferentes papéis durante as oficinas (editor, fotógrafo, repórter, ilustrador, entre outras) além de noções sobre as etapas de produção (pauta, seleção de fontes, checagem de informações e edição). Mais do que ensinar técnicas, o programa proporcionou a reflexão sobre assuntos da contemporaneidade como as mídias e a ciência contribuindo para a formação ampla e interdisciplinar dos estudantes e o desenvolvimento de habilidades de comunicação, organização para apresentação e defesa de ideias, poder de síntese, articulação para liderança de tarefas e propostas de soluções para os desafios impostos durante o projeto, responsabilidade e compromisso com a execução das atividades. Como resultado, foi produzido um jornal mural, de seis páginas, que foi afixado em murais da escola com: duas entrevistas com convidados (um cientista e um jornalista científico), um conjunto entrevistas curtas feitas entre os alunos, além de ilustrações, fotos e três textos informativos. A oficina partiu da ciência que está na rotina dos alunos e propôs discussões do tipo “qual a importância dessa notícia?”, “ela deve influenciar em minhas escolhas futuras?”, “ela traz informações precisas?”, “que jornal ou veículo está publicando o fato?”, “vou curtir essa notícia, compartilhar com alguém (influenciar)?”, entre outras perguntas como essas que, em diversos momentos, instigaram os alunos abrindo caminho para abordarmos as questões de ciência e sociedade.