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Ocupar e redigir: a ocupação e resistência nas redes sociais como ampliação da luta por moradia e justiça social - o caso do MTST

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É notório que os movimentos sociais são articulações da sociedade civil constituídas por segmentos da população que se reconhecem como portadores de direitos, mas que ainda não são efetivados na prática. Os movimentos de base popular organizam-se em sua própria dinâmica de ação e se validam como forma de consolidação e legitimação social. São forças organizadas, conscientes e dispostas a lutar, artífices de primeira ordem para o processo transformação social devido à junção de fatores como liberdade consciência e união e atores sociais: pessoas, grupos religiosos, representações políticas e organizações para que mudanças possam vir a se concretizar. Assim, o processo de comunicação nesses movimentos tem por objetivo situar a questão do direito à comunicação enquanto dimensão dos direitos humanos. Faz-se necessária uma reflexão a respeito da comunicação construída neste universo em seu processo educomunicativo, sobretudo, em bases freireanas, buscou-se que a comunicação popular e comunitária expressasse a rica diversidade de práticas para a ampliação do status da cidadania e rompendo padrões hegemônicos conservadores. O projeto objetivou discutir e ampliar a análise dos processos de comunicação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, como uma alternativa de visibilidade e dinamização de estratégias de elaboração escrita para o uso de redes sociais como Facebook e WhatsApp (rede social de mensagens). Almejou contribuir na ampliação do processo identitário e se mostrou relevante que, por meio das vivencias práticas das ações do movimento, foi reforçado o sujeito/militante como autor e ator de sua história social e indo além da ideia de mero repetidor de informações. Buscou-se potencializar a perspectiva da comunicação do movimento como fonte de consciência e transformação e, portanto, ir além dos “muros” de uma mídia hegemônica e conservadora. O embasamento teórico foi pautado em perspectivas freireanas a respeito da educação e da comunicação comunitárias e associadas a autores como Manuel Castells em sua obra Redes de Indignação e Esperança. Castells (2000) enfatizou que as identidades (necessárias na articulação dos movimentos sociais) organizam significados e podem ser classificadas legitimadoras (introduzidas pelas instituições dominantes no intuito de manter a dominação), de resistência (criadas por atores que se sentem ameaçados pela estrutura de dominação, como por exemplo as gangues) e identidades de projeto (forjadas por atores para construir uma nova identidade capaz de redefinir sua posição na sociedade e transformar a estrutura social). Acrescentou-se, também, a necessidade da aproximação dos pressupostos básicos da educação libertadora em Paulo Freire aos da comunicação popular e comunitária e discutir sobre sua presença nos movimentos populares de forma a promover uma tentativa de democratização dos veículos e da cultura com o intuito de refletir sobre o ato de se libertar da condição de pensar com a cabeça das classes dominantes. Conforme relatado por Freire, numa de suas pesquisas, a fala de uma senhora que participava de um curso de alfabetização em Recife: “Quero aprender a ler e a escrever para deixar de ser sombra dos outros” (Freire, 1981, p. 113). Essa senhora, mais tarde, percebeu que aprender a ler e a escrever, em si, não basta para que deixemos de ser sombra dos outros; é preciso muito mais. “Ler e escrever a palavra só nos fazem deixar de ser sombra dos outros quando, em relação dialética com a ‘leitura do mundo’, tem que ver com o que chamo de reescrita do mundo, com sua transformação” (Freire, 2000, p. 88). Nesse cenário, a comunicação popular, alternativa e comunitária – uma vez inserida em dinâmicas mais amplas de mobilização social – contribui para fomentar um processo de educação informal que favorece a conscientização, o desenvolvimento social e a ampliação da cidadania. Portanto, voltado para a transformação da realidade, pois contribui para a desalienação humana e para um novo conhecimento. Freire (1977, p. 67), diz que “não é possível compreender o pensamento fora de sua dupla função: cognoscitiva e comunicativa”. Quanto à comunicação, para Freire, a coparticipação dos sujeitos do ato de pensar se dá na comunicação. O objeto, por isso mesmo, não é a incidência terminativa do pensamento de um sujeito, mas o mediador da comunicação. “[...] O que caracteriza a comunicação enquanto este comunicar comunicando-se, é que ela é diálogo [...]” (Freire, 1977, p. 66-67). Todo esse processo foi e é realizado por meio de formações coletivas em que tanto os formadores quanto os militantes realizam construções a partir das vivências nos acampamentos, a forma como informações são externadas para além das ocupações, a compreensão das possíveis manipulações das mídias tradicionais e a necessidade de rompimento para além do chamado “senso comum”. Destaca-se que esse processo de construção coletiva é constante assim como o nascimento de novas ocupações, chegada de novos acampados e as discussões sociais de nosso tempo e, portanto, os resultados mostram variações de acordo com as particularidades dos grupos, embora apresentem aspectos positivos quanto ao uso e dinâmica das redes sociais para além da própria ocupação.