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O gênero textual como elemento de divulgação científica

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Em situações concretas de comunicação, as pessoas escolhem gêneros textuais que atendam a seus objetivos. Neste trabalho, para entender as especificidades do discurso sobre ciência, foi considerada a transformação de textos pertencentes ao gênero artigo científico em textos pertencentes ao gênero matéria jornalística. Esta análise sobre os gêneros de divulgação científica fez parte da dissertação de mestrado Do pesquisador ao cidadão: o jornalismo científico como processo de recontextualização, em que caracterizei os principais elementos integrantes dos dois gêneros de divulgação científica considerados, levando em conta os contextos onde os gêneros discursivos são produzidos e transmitidos. Defini os aspectos constituintes dos gêneros textuais, tais como a esfera de produção e recepção, o estilo, a família, o sistema e os fatores socioculturais, pois acredito que todos esses aspectos devem ser considerados em análises comparativas de textos que pertencem a gêneros distintos. Os gêneros textuais foram considerados como práticas sócio-históricas, ou seja, como modelos que guiam as pessoas e servem como referência para condutas em ambientes sociais, correspondendo a diferentes esferas da atividade e da comunicação humana. Os gêneros são formas socialmente aceitáveis e que se estabelecem com suas características específicas devido aos seus usos nas práticas sociais ao longo dos anos. Sendo assim, vi a necessidade de considerar o uso dos gêneros artigo científico e matéria jornalística não só em suas formas, mas também em suas funções, suportes e ambientes em que são utilizados, uma vez que eles ganham significado em seus usos como práticas sociais. A forma como os gêneros são utilizados permite que eles atuem como mecanismos de socialização, pois, para fazer parte de uma comunidade, é necessário reconhecer os gêneros textuais que nela circulam. Deste modo, observei artigos científicos que foram produzidos por professores e pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e matérias jornalísticas que foram publicadas no website da universidade (www.ufmg.br). O processo analítico teve, como suporte teórico-metodológico, o estudo dos gêneros, levando em conta teorias de Bahktin (2011), Rodrigues (2004), Grillo (2013) e Dell’isola (2007). Para entender as especificidades dos gêneros abordados, as famílias de gêneros foram consideradas como grupos onde convergem textos que desempenham papéis e tarefas pré-estabelecidos, enquanto os sistemas de gêneros foram caracterizados como uma grande rede onde cada texto desempenha uma função específica. Considerei, também, o propósito comunicativo como categoria para a escolha dos gêneros que serão utilizados na divulgação científica. Este propósito, visto por muitos pesquisadores como critério relevante para o estudo dos gêneros, serve como delimitador e caracterizador dos gêneros tratados. Por fim, abordei os fatores socioculturais que envolvem a seleção dos gêneros textuais, pois o modo como os emissores dos textos de divulgação científica imaginam os leitores/receptores dos artigos/matérias jornalísticas age nas escolhas discursivas que são feitas durante o processo de troca comunicativa. Tais definições são importantes para a compreensão do modo como os gêneros secundários (categoria onde se enquadram o artigo científico e a matéria jornalística) se influenciam mutualmente. Acredito que a escolha do gênero ideal para a divulgação dos diversos tipos de textos que falam sobre ciência é importante para que o conhecimento científico produzido pelas universidades e institutos de pesquisa brasileiros não fique restrito aos cientistas e pesquisadores que produzem tal conhecimento. Uma vez que uma sociedade bem informada sobre temas de ciência e tecnologia (C&T) tem mais autonomia para opinar e participar de decisões governamentais nessa esfera, entendo que a divulgação científica atua no desenvolvimento de uma cultura científica que dota os cidadãos de pensamento crítico sobre temas relacionados à ciência.