85800

Nas ruas, redes e roçados: as TICs na comunicação popular da Marcha Mundial das Mulheres (2012-2015)

Favoritar este trabalho

Este trabalho pretende investigar as práticas e formulações da Marcha Mundial das Mulheres (MMM), no período que corresponde aos anos de 2012 a 2015, em relação à apropriação das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) para a construção da comunicação popular, a fim de compreender os mecanismos de resistência das mulheres a um modelo de comunicação excludente e machista, tal qual temos no Brasil e na América Latina. Passadas quase cinco décadas desde que o feminismo, enquanto movimento político, assumiu o projeto de disputar a academia e a “política” de outro modo - apostando na teoria feminista e na crítica ao androcentrismo - os temas da comunicação e das TICs têm se revelado centrais para o conjunto de práticas feministas no Brasil e no mundo. Experiências plurais, difusas e até mesmo contraditórias evidenciam a necessidade de uma compreensão mais aberta e abrangente sobre o cenário. Se as feministas mais jovens, influenciadas pelo ciberfeminismo da década de 1990, acusam as feministas “tradicionais” de “tecnofóbicas” a partir de argumentos válidos, consideramos também que a prática “nas redes” assume parcialmente um grau de descolamento da mobilização “das ruas” em alguns momentos históricos. A investigação que nos dispomos a fazer será realizada a partir de pesquisa bibliográfica, análise de conteúdo de ações da organização – dentre as quais está a participação da MMM na comunicação colaborativa da Cúpula dos Povos em 2012, o lançamento do novo blog da Marcha no mesmo ano, a formação do Coletivo de Comunicadoras da Marcha, criado durante o 9º Encontro Internacional da Marcha Mundial das Mulheres, em 2013, a partir do que foi chamado de Convergência de Comunicação dos Movimentos Sociais, as 24 Horas de Solidariedade Feminista, realizadas em 2012 e 2015, e a 4º Ação Internacional da Marcha Mundial das Mulheres, realizada em 2015, além da observação do uso das redes digitais, tais como Facebook, Twitter, Youtube, Flickr e canal no Telegram - e entrevistas semiestruturadas com militantes desta organização, buscando correlacionar a crítica feminista às áreas centrais desta investigação: comunicação e ciência e tecnologia - e as práticas da MMM. Como referências iniciais para este trabalho, utilizaremos as formulações sobre comunicação e comunicação popular de autoras como Aimée Montiel (2013), Cicilia Peruzzo (2002) e Raquel Paiva (2011); apontamentos sobre a era digital a partir de uma perspectiva de gênero, através do trabalho de autoras como Diana Maffia (2013), Graciela Natansohn (2013), Ana de Miguel e Montserrat Boix (2013); e contribuições para crítica feminista à ciência e tecnologia, como as de Donna Haraway (1995), Sandra Harding (1993) e Cecilia Castaño (2005; 2010; 2011). Incorporaremos também a bibliografia sobre a Marcha Mundial das Mulheres e seu processo organizativo, entre elas, Renata Moreno (2016). A partir da conjunção entre estes saberes, esperamos conseguir apontar alguns desafios para a apropriação da ciência e tecnologia pelo movimento feminista e formular outras possibilidades para uma prática que possa integrar “redes, ruas e roçados”, como propõe um dos lemas da Marcha Mundial das Mulheres, na construção da comunicação popular e na luta feminista de maneira geral. Partimos da hipótese de que a apropriação das TICs é central para que este processo esteja integrado aos valores emancipatórios, em uma perspectiva feminista. “Nas ruas, redes e roçados” é uma síntese dos esforços realizados por este movimento para conectar a resistência das mulheres e as alternativas protagonizadas por elas no enfrentamento à desigualdade. A realização do um pré-mapeamento do conteúdo a ser sistematizado e analisado para esta investigação nos mostra que este esforço, sobretudo as práticas referentes a ele, pode trazer contribuições fundamentais para pensar como a TICs estão inseridas neste projeto político e quais os desafios para que elas integrem, cada vez mais, a luta das mulheres.