85848

Mapeamento comunitário, sociedade e a comunicação de riscos e desastres: relato da experiência no Centro Cultural e Recreativo Cristóvão Colombo em Piracicaba

Favoritar este trabalho

A relação entre ordenamento territorial, resiliência e Redução de Riscos de Desastres (RRD) é reconhecida internacional e nacionalmente. O mapeamento comunitário de riscos é considerado relevante para elevar a resiliência do território e da comunidade correlata, e para planejar as ações de eliminação, redução ou transferência destes riscos. Tal mapa comunitário de riscos é uma representação das características de uma comunidade, das informações sobre as ameaças e vulnerabilidades, e dos recursos disponíveis que possam ser utilizados durante um evento desastroso (UNISDR BRASIL, 2017). O objetivo deste trabalho é relatar a experiência de aplicação de um método em construção para elaboração destes mapas comunitários vivenciada durante oficina realizada em outubro de 2017, no Centro Cultural e Recreativo Cristóvão Colombo (CCRCC), localizado na zona leste de Piracicaba, estado de São Paulo, cerca de dois quilômetros de distância do centro, em área bastante urbanizada, no bairro Morumbi e seu entorno. Outro objetivo é indicar relações dos resultados obtidos nesta oficina com aspectos socioculturais e de comunicação. O procedimento metodológico utilizado foi a pesquisa bibliográfica e a aplicação de tal oficina com preenchimento, pelos participantes, de formulário apresentado por Ferrão (2017) durante oficina relativa a Mapas Comunitários executada pelo Grupo de Estudos sobre Ordenamento Territorial, Resiliência e Sustentabilidade (GEOTRES), em setembro de 2017, nas dependências da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Campinas (FEC/Unicamp). O público alvo da oficina foi a comunidade colombina, formada por associados, colaboradores, diretores e conselheiros, e outros atores interessados no tema. O evento contou com a presença de dois participantes, um representante da Defesa Civil de Piracicaba e uma integrante da Associação dos Engenheiros Ambientais do Estado de São Paulo (AEAESP). Foram preenchidos dois formulários, um por participante, os quais geraram dois mapas de riscos do CCRCC, de acordo com a percepção dos participantes citados, portanto, o mapa de riscos é a sobreposição das informações de ambos os participantes, mas não pode ser chamado de mapa comunitário pela ausência de participação da respectiva comunidade, ou seja, é um mapa de riscos do clube em questão e do seu entorno, conforme a percepção dos participantes mencionados. A falta de participação comunitária é reflexo da baixa difusão e disseminação das temáticas ligadas à gestão de riscos de desastres na sociedade em geral, bem como do baixo nível de participação social e transparência pública no Brasil; da predominância da cultura do desastre, com ênfase na resposta ou reconstrução, e não da cultura da gestão dos riscos, com foco na prevenção, mitigação e preparação; dos obstáculos a serem superados para comunicação adequada de riscos e de desastres pelos meios midiáticos. Os resultados citados apontam os grandes desafios existentes aos pesquisadores e docentes para ultrapassar as fronteiras universitárias nestas áreas de conhecimento e aos órgãos públicos competentes no processo de apoio à transformação da cultura do desastre para a cultura da gestão de riscos. Ressalta-se que a semana interna de prevenção de acidentes de trabalho pode ser o ambiente e o momento adequados para mobilização parcial da comunidade colombina e realização de outra oficina sobre mapeamento comunitário de riscos. O método em construção demonstrou-se útil para promover discussões direcionadas entre os participantes, no sentido de compreender melhor o seu território, suas características e capacidades, bem como os riscos de desastres existentes neste território e sua comunidade. Além disso, a elaboração do mapa comunitário em questão é uma ferramenta que auxilia no planejamento e ordenamento territorial, pois antecede os possíveis planos de contingência e os próprios planos de ações para elevação da resiliência e RRD. O processo de elaboração do mapa comunitário demonstrou-se útil também para mobilizar um ator chave local, que foi a Defesa Civil do município, além de poder ser usado como estratégia de aproximação e comunicação deste órgão com as comunidades, facilitando possíveis articulações com vistas à criação e funcionamento de Núcleos de Proteção e Defesa Civil, e para servir de instrumento permanente de gestão territorial a partir da elaboração periódica destes mapas dinâmicos. Por fim, conclui-se que a flexibilidade de adaptação do formulário, de acordo com a comunidade envolvida, apresenta-se como fundamental.