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Contribuições ao estudo da gestão do conhecimento e da colaboração universidade-empresa-governo: proposição conceitual e estudo de casos em Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia no Brasil

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Este trabalho tem como objetivo investigar como a gestão do conhecimento e a colaboração universidade-empresa-governo – incluindo as três hélices – se relacionam influenciando o desempenho das organizações. Como principal contribuição, foi proposto um modelo analítico que relaciona as teorias da Gestão do Conhecimento e da Tripla Hélice e as dimensões propostas (que são a estrutural, a relacional, a cognitiva e o contexto), considerando as particularidades do contexto brasileiro. O processo de gestão e criação de conhecimento deve ocorrer a partir da transformação do conhecimento tácito em explícito por meio de um processo de interação dinâmica entre eles e que gera a criação de conhecimento organizacional. A conversão de conhecimento (modelo SECI) acontece em quadro modos: do conhecimento tácito para o tácito – socialização; do conhecimento tácito para o explícito – externalização; do conhecimento explícito para explícito – combinação; e do conhecimento explícito para o tácito – internalização (NONAKA; TAKEUCHI, 1995). O conhecimento tácito é altamente pessoal e refere-se a habilidades técnicas, know-how, experiências, valores e a forma como percebemos o mundo, o que o torna difícil de ser formalizado e comunicado. Por sua vez, o explícito pode ser armazenado em documentos, manuais, banco de dados e outras mídias; por ser formal e sistemático, pode ser facilmente comunicado e compartilhado. O modelo da Tripla Hélice caracteriza-se pelas inter-relações entre universidade-empresa-governo (público e privado), considerando esse tipo de colaboração como fundamental para a criação de um ambiente propício à inovação e à geração e à difusão do conhecimento fundamentais para o desenvolvimento da sociedade. Essa teoria defende a interação efetiva entre as funções dessas três esferas por meio da criação de redes de comunicação e de difusão do conhecimento, bem como de um ambiente que estimule a inovação e, dessa forma, o desenvolvimento econômico e social (ETZKOWITZ, 2003; LEYDESDORFF; MEYER, 2006; ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 2000). No ambiente competitivo contemporâneo, a capacidade de as organizações criarem e utilizarem o conhecimento torna-se cada vez mais fundamental para a busca da vantagem competitiva sustentável, o que leva inclusive à busca de novas formas de arranjos interorganizacionais. A escolha do tema se justifica pela escassez de pesquisas empíricas que relacionem os tópicos de gestão do conhecimento e de colaboração universidade-empresa-governo de forma integrada com foco no contexto brasileiro, visando melhorar o processo de transferência de conhecimento e de tecnologia e contribuir para a inovação e para o desenvolvimento de nosso país. Os representantes desse tipo de colaboração selecionados para compor o estudo são Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs). As evidências empíricas são baseadas em documentos ou materiais (fontes secundárias) e em entrevistas semi-estruturadas (fontes primárias) feitas com os 12 coordenadores dos Institutos, seis representantes de empresas parceiras e três representantes do governo e agências de fomento. Como técnica qualitativa de análise de dados foi utilizada a análise de conteúdo categorial. Os principais resultados mostram que a estrutura organizacional (estrutural) influencia tanto o relacionamento entre os integrantes (relacional) quanto o fluxo de conhecimento (cognitiva), bem como os elementos relacionais (cultura colaborativa, confiança e liderança) facilitam o compartilhamento de conhecimento. Além disso, o contexto afeta essas três outras dimensões. A participação em um programa como o INCT permite criar um ba virtual (contexto organizacional dinâmico, interativo e compartilhado nos processos de criação, disseminação e utilização do conhecimento) que facilita a interação e a troca de conhecimento entre as esferas universidade, empresa e governo, diminuindo a distância cognitiva. Essa colaboração permite criar redes de comunicação e difusão de conhecimento estimulando a inovação e o desenvolvimento econômico e social. Como principais barreiras no processo de transferência de conhecimento são identificadas as diferenças culturais entre universidade e empresa, a burocracia e a realidade socioeconômica, e como facilitadores a presença de parques tecnológicos e incubadoras, a proximidade geográfica entre universidade e empresa e os incentivos governamentais.