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Ciência ao Bar: sarau de divulgação científica como potencializador de uma cultura científica local

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O Ciência ao Bar (doravante CaB) é um sarau de divulgação científica que é realizado na cidade de Juiz de Fora (MG), desde agosto de 2017, e que teve periodicidade quinzenal em sua primeira temporada (agosto a dezembro). A proposta do evento é levar professores e pesquisadores científicos para bares da cidade, a fim de conversarem com a população sobre pesquisas de assuntos variados e considerados relevantes para a sociedade. Cada convidado apresenta seu tema, com uma linguagem mais coloquial e acessível a um público não especializado, durante 20 a 30 minutos, usando como único recurso a exposição oral; o tempo restante é destinado a perguntas e contribuições do público presente. Nada obstante os crescentes esforços dos divulgadores de ciência para popularizar o conhecimento científico, propondo discussões de e sobre ciência para um público amplo, boa parte desses empreendimentos são de caráter massivo e direcionados para revistas, jornais, blogs, e alguns também se aventuram nos campos do audiovisual e do podcast. O CaB busca suprir uma lacuna, visto que são poucas as iniciativas conhecidas e/ou divulgadas que promovam uma divulgação científica baseada no diálogo informal, na conversa em ambiente descontraído, na troca entre pesquisador e leigo. A proposta de ação é convidar os cientistas para se comunicarem além das salas de aula, dos laboratórios e dos periódicos especializados, e levá-los ao bar, para interagir com a população. Existe também o festival internacional de divulgação científica Pint of Science, provavelmente o maior do gênero no mundo, que serviu de inspiração e modelo para a criação do CaB. O Pint of Science nasceu em Londres em 2013 e chegou ao Brasil em 2015 (na cidade de São Carlos - SP), e em 2018 acontecerá, simultaneamente, em 21 países, em mais de 280 cidades. O Brasil é o segundo país onde o festival ocorrerá no maior número de cidades: 56, ao todo (atrás apenas da Espanha, com 57 cidades). O grande impacto nacional do evento e seu crescimento de 2015 a 2018, porém, não é suficiente para a construção de uma cultura científica da população, tarefa que demanda atividades com maior frequência e de natureza variada. Destarte, iniciativas que permitam o contato direto e informal do público com os pesquisadores são necessárias e se configuram como potencialidades para reduzir a distância comunicativa entre a comunidade acadêmica e a sociedade em geral, no que se refere à produção científica. Ademais, objetiva-se desconstruir a imagem de ciência como conhecimento inalcançável ao vulgo, cujo debate habitualmente fica restrito aos especialistas. Este relato de experiência visa: 1) apresentar um balanço da primeira temporada do projeto, que realizou 10 edições com temas de áreas distintas e palestrantes com diferentes formações acadêmicas; 2) discutir o potencial desse tipo de evento para a efervescência da divulgação científica local, trabalhando com alguns indicadores de receptividade: da mídia da cidade (jornais impressos, sites noticiosos); da Universidade Federal de Juiz de Fora (professores, alunos, Diretoria de Imagem Institucional); de outras instituições de ensino superior e médio; dos donos do bar que sediou as 10 edições; 3) exemplificar uma ação concreta para as pessoas que já trabalham ou têm interesse em agir no campo da divulgação científica, de modo a incentivar atividades semelhantes em suas cidades; 4) enumerar alguns desafios na promoção deste tipo de evento: falta de recursos financeiros; falta de apoios no início do projeto; falta de pessoal para compor a equipe organizadora; a dificuldade de alguns professores para divulgar suas pesquisas de um modo não formal e que não seja para seus pares; 5) identificar os critérios utilizados na seleção do bar, dos temas e dos pesquisadores; 6) apresentar as funções desempenhadas na organização do CaB e a importância de cada uma delas (e.g., responsável pela comunicação do evento – mídia e redes sociais virtuais); 7) projetar perspectivas de aprimoramento e crescimento da ideia original, possíveis desenvolvimentos de outros projetos complementares e a ligação em rede de apoio mútuo com eventos culturais de outra natureza que também são promovidos na cidade.