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As semeadoras de florestas: os processos de comunicação das mulheres coletoras da Rede de Sementes do Xingu

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Diante dos processos de colonização e desmatamento ocorridos ao longo dos anos no entorno do Território Indígena do Xingu (ISA, 2011), a Rede de Sementes do Xingu (RSX) surge da necessidade de desenvolver tecnologias de recuperação das áreas degradadas que pudessem ser adotadas pelo produtor rural e que aliassem redução de custos, ganho ecológico e adaptação aos sistemas de produção (URZEDO et al., 2017). Assim foi criado um caminho para a semeadura direta, troca e comercialização de sementes de espécies nativas, transformando-se em uma fonte geradora de renda e uma maneira de valorizar as florestas. Em 10 anos de existência, a RSX já conta com mais de 400 coletores, entre indígenas, ribeirinhos, urbanos e agricultores familiares (RSX, 2017), distribuídos em 14 municípios da Bacia do Rio Xingu, nos estados de Mato Grosso e Pará, unidos em prol de conhecimentos locais, da conservação da biodiversidade, da qualidade de vida e do fortalecimento das relações sociais (URZEDO et al., 2017). A criação da rede foi pautada no conceito da “ética do cuidado”, em que a luta contra injustiças e a favor do desenvolvimento sustentável passa pela conquista de cada um em protagonizar sua emancipação (BOFF, 2005). O bem-estar é o resultado desse processo no qual os êxitos supõem o crescimento pessoal, o fortalecimento das identidades comunitárias, de seus vínculos e da capacidade de responder aos desafios da inovação e do contato com diferentes grupos sociais (ABRAMOVAY, 2012). As mulheres coletoras detêm papel primordial nesse processo, atuando como as protagonistas de um trabalho ecológico que agrega famílias e comunidades, gera renda e contribui para a formação de uma consciência ambiental, além de uma herança cultural a partir da preservação de conhecimentos. Nas comunidades indígenas elas compõem a totalidade dos coletores, participando tanto das etapas de planejamento quanto da liderança (URZEDO et al., 2017). O Movimento das Mulheres Yarang (MMY), do povo Ikpeng, é um dos grandes símbolos dessa resistência e do empoderamento feminino das coletoras do TIX e tem se destacado como uma iniciativa de sucesso. Também tem sido observado que onde as mulheres atuam como protagonistas na produção, a renda tende a ser revertida para a família (ISA, 2017). Assim, pretendemos analisar de que forma os processos de Comunicação, Mobilização Social, Educação Ambiental e Educomunicação se entrelaçam nas vidas das mulheres coletoras da RSX, utilizando como base teorias próprias das Ciências Sociais. Pretendemos traçar um perfil do universo de atuação das mulheres coletoras da RSX por meio dos diversos processos de participação, mobilização, transformação socioambiental e gestão entre elas e os demais atores. Além disso, a partir da contextualização do histórico, do perfil e das ações da Rede, analisar as diversas ferramentas e estratégias de comunicação na produção e difusão dos conhecimentos, bem como nas relações sociais de cooperação, trabalho, gênero e conflitos. Apesar dos 10 anos de existência, as ações da Rede de Sementes do Xingu ainda permanecem pouco difundidas. Ao compreendermos parte do universo dessas mulheres, será possível divulgar e sugerir a adoção desses métodos a outras iniciativas, colaborando para uma luta de transformação socioambiental. Em uma sociedade dominada por homens e pela exploração desenfreada de recursos naturais, o papel das coletoras mostra-se relevante ao destacar a luta e a importância de seu trabalho e das relações de cooperação e de economia do cuidado. Apesar de serem maioria na coleta de sementes da rede, ainda não há nenhum estudo que aborde as relações sociais dessas mulheres, muito menos partindo do âmbito dos processos de Comunicação. Assim, surge também a necessidade de inseri-las como protagonistas desses processos. Esse estudo tem ainda o potencial de dar voz, visibilidade e empoderamento às mulheres envolvidas, além de servir como instrumento para o compartilhamento e difusão de saberes. Um dos métodos que servirão de base é o Estudo de Caso, de caráter exploratório e descritivo. Ele é escolhido quando as questões “como” e “porquê” são inseridas, quando o investigador tem pouco controle sobre os acontecimentos e quando o foco está nos fenômenos contemporâneos dentro do contexto da vida (YIN, 2010). Serão ouvidas 20 coletoras indígenas e 20 coletoras não-indígenas. ONGs, instituições, associações e coletores homens também serão entrevistados. As respostas serão organizadas em categorias e subcategorias, buscando compreender as características e estruturas que estão por trás das informações disponibilizadas (BARDIN, 2011). A partir da aplicação dos métodos especificados, pretendemos realizar uma pesquisa documental, que permitirá entender com clareza os temas relacionados à Comunicação das mulheres coletoras do TIX. Além disso, é esperado que a observação direta, a partir do acompanhamento de reuniões, oficinas e/ou da rotina de trabalho, contribua para uma maior conexão e vínculo com os atores, o que possibilitará uma melhor comunicação entre as partes envolvidas.