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(Re)pensando os big data: a crítica dos ECTS à noção instrumental dos dados

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Esta pesquisa investiga, no contexto da emergência dos big data, uma certa insistência, por parte de teóricos que investigam os big data, de lidar com dados como instrumentos a serviço de um sujeito ou como uma força natural a ser controlada (PUSCHMANN; BURGESS, 2014). O uso do termo big data cresceu exponencialmente a partir do fim do século 20, se relacionando com questões que tangem a capacidade de armazenamento e interpretação de dados por parte de cientistas da computação e engenheiros. Todavia, a partir da última década, os big data passaram a ocupar um papel abrangente, ao menos nos discursos de veículos midiáticos e publicações científicas, para além da área computacional, alcançando questões políticas, econômicas e sociais de primeiro plano. É comum neste caso se referir aos big data como a instauração de uma nova era, capaz de romper com antigas molduras de pensamento, ética e crenças (KITCHIN, 2014). Nesta conjuntura, se percebe um regresso a uma certa fé na objetividade dos algoritmos e dos dados, como sendo capazes de apresentar fatos objetivos, de trazer à luz a realidade tal como é (BOYD; CRAWFORD, 2012). Com relação ao mito da neutralidade e a associação dos dados como sendo instrumentos inanimados, destituídos de materialidade e medialidade, argumenta-se, há uma crítica consolidada por parte dos teóricos dos Estudos em Ciência, Tecnologia e Sociedade (ECTS), que, desde os anos 80, vêm rebatendo noções como estas no contexto das ciências (LATOUR, 2001; 2013; 2014) (LEMOS, 2013) (PICKERING, 1992). O objetivo deste trabalho é (re)apresentar as críticas por parte dos ECTS, desta vez sob o prisma da noção instrumental dos dados, bem como analisar as implicações destas críticas para se pensar os big data na contemporaneidade. Esta análise, primeiramente, busca compreender as estruturas metodológicas e temas dominantes que perpassam os discursos sobre os big data, bem como a presença, em algumas das abordagens acerca destes, de tratativas que lidem com dados e algoritmos como sendo instrumentos neutros e formas objetivas de lidar com o real. Depois disso, procura apresentar as críticas dos teóricos dos ECTS à noção de neutralidade e instrumentalidade das coisas, atualizando as discussões e trazendo a problemática dos dados nas circunstâncias dos big data. Por fim, a pesquisa visa avaliar as implicações das críticas dos ECTS para se pensar a emergência dos big data. A pesquisa se justifica ante a escassez de trabalhos teóricos, especialmente no contexto brasileiro, acerca dos big data. Em todo o país, não existem ainda eventos acadêmicos voltados especificamente para a investigação dos big data, bem como publicações acadêmicas. Globalmente, existem apenas quatro revistas científicas [Big Data; Big Data Research; Big Data & Society; Journal of Big Data] que propõem lidar de modo exclusivo com questões relacionadas aos big data, todas com menos de cinco anos de existência. Portanto, a pesquisa objetiva também colaborar com material bibliográfico que permita explorar os big data em relação a autores e tópicos ainda pouco explorados. Por ser uma pesquisa cuja natureza envolve a reflexão e análise de ideias e pressupostos teóricos, a estratégia metodológica para alcançar os objetivos propostos está baseada em revisão bibliográfica: [1] de artigos publicados nas publicações mencionadas acima e/ou de autores que apresentam uma visão geral sobre os big data, permitindo assim entender melhor as estruturas e discursos contidos na emergência dos big data (e.g. CRAWFORD et al., 2014; GITELMAN, 2013; JIN et al., 2015); [2] de autores dos ECTS, com foco em alguns de seus principais proponentes, como Bruno Latour e Andrew Pickering. Como a pesquisa está em fase inicial, se espera, ao seu término, propor os ECTS como uma via importante para se pensar e questionar os big data.