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Capítulo dos Chapéus: um Machado de Assis pós-feminista?

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O conto "Capítulo dos chapéus", de Machado de Assis, publicado em 1884 no periódico feminino A Estação, traz a representação de duas mulheres. Um delas é Mariana, que decide se libertar da vida no lar para um passeio na rua do Ouvidor. A outra é Sofia, protótipo da mulher emancipada que insufla ideias de liberdade em Mariana. A postura de Sofia, bem como a resistência de Mariana em aceitar a futilidade da vida cosmopolita, são representativas de uma crítica feita por Machado de Assis à predominância do modelo francês na literatura oitocentista, representado, entre outros dados presentes na narrativa, pela associação entre Sofia e Bonaparte. Ao mesmo tempo, a decisão tomada por Mariana no desfecho da narrativa pode ser identificada com vertentes bastante atuais do pós-feminismo, com base nas quais as mulheres teriam autonomia para restaurar modelos arcaicos de comportamento e não necessariamente reforçar uma postura libertária. O objetivo desta comunicação é analisar o componente pós-feminista do conto machadiano lançando mão das ideias de Jane Flax e Mary Hawkesworth sobre as relações entre pós-modernidade e teoria feminista, e apontando para as articulações entre representação feminina e cultura brasileira em fins do século XIX. Tal análise levará em conta a publicação da narrativa machadiana no periódico A Estação como fundamental para a construção dos perfis de mulher em uma sociedade na qual, de acordo com Roberto Schwarz (1992), as ideias estavam fora do lugar devido à permanência do sistema escravocrata e, ao mesmo tempo, ao vício de se imitar tudo o que vinha da Europa. Tais posturas são problematizadas por Machado em uma solução que pode ser considerada pós-feminista, o que mostra o quanto o Bruxo estava além de seu tempo no tocante à representação da figura feminina e das relações de gênero.